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A sala de aula vista por um adolescente – Entrevista 2

Texto publicado no blog Foco em Gerações.

Este post é continuidade do último. Curta a segunda entrevista de como um adolescente avalia o ambiente da sala de aula. Ressalto que este aluno estuda na mesma universidade do outro, mas em cursos diferentes:

Mauro- Como você avalia a sala de aula?
Alex- Na minha opinião a sala de aula ainda é o melhor meio de se lecionar. Mesmo tendo o problema do deslocamento físico e a limitação de um horário físico, a disponibilidade de um professor para orientar o estudo e esclarecer dúvidas é fundamental.

Mauro- O pessoal presta atenção nas aulas?
Alex- Depende muito. É possível diferenciar claramente entre o grupo que presta atenção às aulas e àqueles que só estão ali pela presença. Ainda existe o terceiro grupo, dos “turistas”, que são aqueles que só aparecem na aula em dias de prova.

Mauro- Como é a rotina da sala? O pessoal leva gadgets? Como isso tudo é usado?
Alex- A rotina em sala de aula depende muito de como o professor conduz. Existem professores organizados, que trazem suas anotações e fazem um quadro perfeito de tão organizado que são, então a aula segue um roteiro bem definido, mantendo os alunos ocupados em suas anotações, pelo menos aqueles que estão interessados. Existem professores que fazem uso de slides – podendo ter havido grande esforço na organização dos slides ou serem uma apresentação “frankenstein”, uma mistura de várias apresentações já preparadas -, que, dependendo de como são organizados, podem contribuir para a dispersão de atenção dos alunos. Por fim, tem os professores que não seguem um roteiro, que aí é um Deus nos acuda para acompanhar as aulas.
Mauro- Os gadgets são liberados na sala de aula?
Alex- Mais uma vez, depende do professor. Hoje em dia é impossível controlar o uso de gadgets, sendo necessário educar seu uso. Um celular tocando é falta de respeito, agora uma pessoa respondendo um SMS no silencioso só atrapalha a própria pessoa.

Mauro- Como os professores reagem?
Alex- Varia muito. Já tive professor que, se tocasse celular, ele parava a aula e considerava matéria dada, como também já tive professor que o próprio celular tocava e o pior: ele atendia.

Mauro- Os celulares tocam durante as aulas? O pessoal desliga os aparelhos?
Alex- Infelizmente tocam. De uma forma geral, não acho necessário desligar os aparelhos em nenhum momento. Por exemplo, eu não desligo no cinema, mas meu celular vive no silencioso, então cabe a mim julgar quando é possível atender.

Mauro- O pessoal presta atenção nas aulas?
Alex- Raras são as pessoas que ficam 100% atentas a aula toda. O negócio é só não atrapalhar os demais. Eu, pelo cansaço, já perdi a conta de quantas vezes bati a cabeça em sala de aula, mas acredito que isso nunca atrapalhou ninguém. Mas tem gente que desiste mesmo e encosta para dormir.

Mauro- Como o pessoal se comporta? Rola pé na cadeira?
Alex- Bem a vontade, rola pé na cadeira sim. Eu tenho a mania de sentar de perna cruzada (tipo posição de Yoga), mas já tomei bronca de professor por conta disso.

Mauro- E o horário? É cumprido?
Alex- Pelos alunos, não. Pelo professor, talvez. Já tive professor que chegava pontualmente às 7 da manhã, fazia a chamada e quem não respondesse levava falta, podendo ser reprovado por falta, como também já tive professor que só chegava no horário em dia de prova, nos outros dias chegava com no mínimo meia hora de atraso.

Mauro- E os trabalhos? Tem muita carga de trabalho?
Alex- Como qualquer bom aluno, sempre reclamei de provas e trabalhos. Mas a verdade é que nem era tanto trabalho assim. O lance é planejar o semestre na hora da matrícula.

Mauro- E a cola rola durante as provas?
Alex- Certamente. Já tive professor gritando no meio de um teste “Gente, se for colar cola direito para que eu não veja, né?”. Acho que com o tempo, até os professores foram ficando mais coniventes com a cola.

Mauro- Os professores usam emails ou redes sociais para conversar com a turma fora do horário de aula?
Alex- A maioria sim. Mas aí é que eu sou tendencioso por estar no departamento de informática. Eu me comunico com minha orientadora por e-mail, SMS e até por twitter. Contudo, em outros departamentos, a situação muda e sei de casos de professores que não adianta mandar e-mail.

Mauro- Você acha que a sala de aula como conhecemos deveria evoluir, mudar, terminar? Você acredita em aula remota?
Alex- Sim, acho que não só a sala de aula como ambiente físico como a dinâmica deveria mudar. Com as novas tecnologias se popularizando, acho que esse é um caminho natural. Hoje se fala, por exemplo, em “quadros inteligentes”. Na prática, nada mais é que um projetor que reconhece uma caneta, sendo um “quadro negro projetado e colorido”, nada mais, por isso ainda não tem tanto apelo. Mas pensando em um futuro não tão remoto, não é difícil imaginar um powerpoint interativo, com o professor escrevendo a medida que apresenta, com possibilidade de vídeo, com os alunos podendo participar da apresentação e no final conseguir salvar o que foi apresentado para estudar mais tarde. Hoje ainda falta infraestrutura (salas de aulas preparadas, gadgets a preços acessíveis, etc) e ferramentas adequadas para isso.

Mauro- Qual é a visão que você tem da vida acadêmica?
Alex- A vida acadêmica tem seus bons e maus momentos. Tem aquelas matérias que são “males necessários”, que você é obrigado a fazer para conseguir o diploma, e aquelas que você até consegue sentir prazer por fazer. Um professor que gosta do que ensina faz toda a diferença. Quando você entra na faculdade, é uma das primeiras grandes decisões que você faz e são poucos aqueles que têm certeza do que querem. Durante muito tempo já na faculdade a dúvida paira sobre nossas cabeças e você segue só para conseguir o diploma. Mas tem uns poucos momentos em que você pensa “é isso mesmo que quero fazer”. Para mim, essa “revelação” só surgiu no meu último ano, quando estava envolvido com meu projeto final e gostando dele. Aí, a vida acadêmica apresenta um campo de possibilidades, tanto é que resolvi seguir para mestrado. Hoje, vejo a vida acadêmica como um ambiente de pesquisa e inovação, quase uma bolha onde é possível explorar ideias.