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Estudante de Direito faz um melê no twitter, é demitida e responderá por crime de racismo

Eu poderia montar um blog só relatando casos de uso inapropriado de redes sociais. O número é enorme e crescente, mas existem alguns casos realmente emblemáticos, como por exemplo a história abaixo, que foi noticiada largamente nas duas últimas semanas.

No domingo das eleições no Brasil, o twitter foi inundado de mensagens agressivas contra pessoas de origem nordestina. Foram manifestações de ironia, preconceito, ódio e depreciação explícita, muito deprimente mesmo. O pano de fundo era o forte apoio da região nordeste à candidata Dilma para presidente. Aparentemente, a maioria das mensagens eram de pessoas do “sudeste-sul maravilha” que criaram uma espécie de corrente no twitter.

Nesta enxurrada de mensagens no twitter, alguns nomes se destacaram negativamente (esse é o lado bom e perverso das redes sociais, elas deixam nomes, rastros, dia e hora… prá sempre!!), entre eles o nome de Mayara Petruso. Foram várias mensagens agressivas publicadas no twitter, como por exemplo:

“AFUNDA BRASIL. Deem direito de votos pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar o bolsa 171”.

“Nordestino não é gente. Faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado!”


A percepção é que os posts de Mayara Petruso foram o estopim de tudo. Dias depois do fato, os jornais divulgaram que o escritório de advocacia onde ela estagiava enviou uma nota para imprensa comunicando que “a estudante não fazia mais parte dos quadros do escritório” e expressando indignação pela atitude dela. O irmão de Mayara publicou uma carta aberta pedindo compreensão e desculpas. O pai da estudante também falou aos jornais sobre o episódio. Enfim, foi um melê só. Experimenta digitar o nome dela no google e veja o resultado.

A Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco (PAB-PE) entrou com uma notícia crime contra Mayara. A princípio ela poderá ser acusada de dois crimes: crime de racismo e de incitação ao homicídio. São penas de anos de prisão mais pagamento de multa. O caso ocupou os jornais do país e a notícia foi publicada em alguns veículos do exterior.

A mesma punição aplicada à estudante poderá ser aplicada a todos aqueles que publicaram frases preconceituosas, inclusive os nordestinos que, para se defender, publicaram e ainda publicam mensagens de ódio regional. A Procuradoria Regional da República de São Paulo quer punir pessoas para servir como exemplo.

Esta situação se junta a tantas outras que poderão contribuir para o fim da percepção que a internet é um território livre, onde qualquer um escreve o que bem entende, publicando calúnias e ficando isento de punições ou sanções de qualquer espécie. Já existem muitos exemplos mostrando que esse contexto está mudando. No caso de Mayara, ela poderá nem mais se formar no seu curso de direito, perdeu o emprego e teve seu nome publicamente conectado a um episódio lamentável. Só isso já seria uma “bela” punição, mas ela poderá passar algum tempo na prisão também.

O mais incrível na análise desses casos é que eles acontecem com pessoas esclarecidas. Tal qual o caso do diretor de marketing que foi demitido por uso inadequado do twitter, este caso é de uma estudante direito. Parece incrível, e é mesmo. Ela foi imprudente, emocional e incoveniente, tudo que um pretendente à cadeira de advogado não deveria ser. Juro que sinto vergonha e tristeza em ver cidadãos gastando tempo na web neste tipo de ação. Em resumo, trata-se de mais um caso na rota de amadurecimento das redes sociais.