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O que me fez ficar tanto tempo em uma só empresa

Esse ano (2018) completei 25 anos de trabalho na IBM. É verdade que não foi um período contínuo pois eu saí no meio do caminho, mas fui e voltei. No total, dá 25 anos. Participei de uma roda de conversa sobre empregabilidade com colegas de outras empresas e um dos participantes, ao saber desse meu tempo de trabalho na IBM, veio com a seguinte pergunta: Por que trabalhar tanto tempo na mesma empresa? Consegue me dar três motivos do que faz uma pessoa criar um vínculo tão forte com uma organização que é capaz de gastar quase uma vida no mesmo lugar? Eis a resposta que dei a ele.

Primeiro PORQUE NÃO É A MESMA EMPRESA. A IBM é uma emprega gigante, global, repleta de possibilidades de carreira e desenvolvimento. A decisão de que porta abrir e seguir cabe a cada um. Saber explorar e descobrir novos caminhos faz parte do processo. Ao longo desse tempo eu trabalhei em diversas áreas diferentes, morei em cidades e países diferentes, tive chefes de nacionalidades e características distintas, bem como trabalhei com profissionais com expertise e experiências muito variadas. Portanto são muitas organizações sob o mesmo teto. O negócio da IBM é tecnologia de ponta, eu comecei trabalhando numa época que o mundo não tinha computador pessoal e nem internet, hoje trabalho com inteligência artificial, falamos de um futuro próximo onde a inovação exponencial vai transformar a forma como trabalhamos, nos relacionamos e consumimos, e tecnologia está no centro disso tudo. Enfim, definitivamente, trabalhei ao longo desse tempo em muitas empresas diferentes, em contextos completamente distintos e momentos da sociedade de grande inflexão.

Segundo POR CAUSA DAS PESSOAS. Esse é um grande diferencial da IBM. Só quem está dentro sabe. Por trabalharmos com novas tecnologias, essa é uma companhia onde ninguém se sente confortável. Estamos constantemente incomodados e buscando a transformação, que é contínua. Isso transforma as pessoas em profissionais inquietos, sedentos por desenvolvimento e obsessivas em ajudar os clientes a se transformarem também. A força de trabalho da empresa é super qualificada e não dá refresco, com pessoal hiper experiente e gente nova que entorta as nossas cabeças. Existe uma inquietude constante. Portanto, me encanta como a organização me empurra pra frente. Somos continuamente desafiados a não relaxar. O ambiente positivo, construtivo, inclusivo, com uma liderança que navega entre a cobrança firme e o apoio generoso, a eterna luta entre o curto e longo prazo, tudo isso cria nas pessoas o desejo de colaborar em busca de construir algo. Realmente as pessoas é o maior diferencial da IBM. Criar conexões positivas ao longo desse tempo todo me ajudou muito a crescer e realizar meus planos.

Terceiro, e finalmente, POR CAUSA DO PROPÓSITO, DO COMPROMISSO COM AS GRANDES CAUSAS. Isso é realmente engajador porque é uma sensação multidimensional, me pega por todos os lados. Essa é uma empresa que ajuda diretamente no bem estar e no progresso da sociedade. Os serviços da IBM nas últimas décadas, e o que vem por aí nos próximos anos, tem o poder direto de transformar a vida das pessoas e das organizações. Essa é uma sensação plena de colaborar para a transformação da história da humanidade. Outra dimensão é compromisso genuíno com a diversidade. Não é propaganda fortuita, essa é uma empresa que abraça a causa da diversidade na forma mais ampla possível. Esse é uma questão fundamental para mim, e um importante fator de retenção, porque me sinto parte da construção de uma sociedade mais justa, menos preconceituosa e plural. E, para selecionar mais uma dimensão entre outras tantas que ainda poderia citar, é a ética. Essa é uma empresa intolerante com a falta de ética. Isso está incutido na cultura organizacional, nos processos e nos negócios de forma pervasiva. Tudo isso junto, e muito mais que não cito aqui, forma um ambiente acolhedor e transformador, permitindo que eu seja eu mesmo, sem vieses ou pegadinhas.

Se pudesse ter uma quarta razão, essa seria: PORQUE EU NÃO FUI A MESMA PESSOA durante esses 25 anos. Minha consciência, meus interesses, minha visão de vida, minha ambição, meu conhecimento, meu momento de família, todas as essas coisas foram mudando ao longo do tempo. Tenho a impressão que fui pessoas diferentes nesse caminho. Apesar de estar na mesma empresa, eu não fui a mesma pessoa sempre. A foto que ilustra esse texto é a evidência disso. Todas essas fotos são minhas.

Obviamente que existem os fatores que fazem um ambiente de trabalho se tornar especial, como oportunidades de carreira, desenvolvimento, liderança capacitada, escritórios e locais de trabalho adequados, salários e benefícios justos, investimentos constantes, etc. Isso tudo ajuda muito e formam um colchão fundamental para qualquer profissional que busca se desenvolver, crescer e realizar seus sonhos.

Nem tudo são flores e nem sempre o céu está azul. Essa é uma empresa com desafios sem fim, sempre com muita coisa por consertar, fazer e construir, mas isso faz parte do jogo da transformação contínua. Afinal, transformação é sinônimo de desconforto e vida dura. Saber que essa é uma característica inerente do negócio da empresa é fundamental para os funcionários entenderem o jogo que estamos jogando. Nem todos entendem, mas confesso que a grande maioria está no jogo, sabendo muito bem que tempo e competência são essenciais para construir uma história na empresa. Por fim, toda empresa global carrega os benefícios, virtudes e dificuldades devido ao tamanho e complexidade da operação. Entender e saber viver nesse contexto é fundamental.

Esse é um olhar muito individual. Certamente, se eu levar a mesma pergunta para outros colegas de trabalho, outras respostas virão. Tudo depende de nossos valores, do nosso momento de vida, contexto, interesses, aspirações e o peso que damos as coisas. O mesmo ocorre em outras empresas e organizações. Todas elas têm pontos positivos e negativos, cabe a cada um julgar e saber tirar o que tem de melhor. Nem sempre uma visão mais holística é possível. As vezes, a percepção sobre uma empresa se concentra em um chefe despreparado ou em uma cultura organizacional perversa. O fato é que nem sempre temos a clareza do que realmente nos prende a alguém ou a uma organização, é algo que vai além do aspecto racional. Ir além dos aspectos óbvios, como o salário e o chefe, o que realmente importa.