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Papo com Luis Nassif

Ontem eu tive a satisfação de almoçar com Luis Nassif. Ele tem um dos principais blogs do país.
Polêmico, direto e questionador, assim é Luis Nassif, características que alimentam muito bem sua popularidade. Conversamos sobre tudo, foi um papo bom e aberto, aprendi a beça. Uma das coisas que ele falou várias vezes é a certeza de que fazemos no Brasil um jornalismo da idade da pedra e é isso que vou explorar aqui.

Nassif foi um dos jornalistas pioneiros que se aventuraram na mídia online quando ela ainda estava engatinhando. Foi também um dos primeiros a lançar um blog. Ele é enfático ao dizer que o conhecimento se constrói em colaboração e que o jornalismo tem que mudar para esse novo mundo, deixando de ser uma comunicação em mão única. Esse conceito é verdadeiro, mas a “real life” é outra. Já ouvi pessoas da mídia dizendo que a explosão dos blogs está transformando a web numa espécie de lixo, que as informações não são confiáveis e que existe muita especulação. Isso é verdade, acho que ninguém contesta. Mas será que podemos atestar que as informações publicadas nos meios jornalísticos são 100% confiáveis? O fato é que os jornais e as revistas têm que vender, portanto esses veículos desenvolvem conteúdo que necessariamente carregam algo para gerar impacto no leitor. Isso é ou não é mexer com a informação?

É ilusão exigir “qualidade” dos blogs. Aliás, esse é um conceito inerente ao modelo do blog. Como disse o Nassif: “– a blogosfera é um universo anárquico onde cabe de tudo. É uma nova forma de organização da opinião, na qual os próprios leitores buscarão os blogs que tomarão como referência. E há blogs para todos os gostos, para catarse, para informação e para análise”.

Conceitualmente os jornais e revistas deveriam ser veículos de comunicação imparciais, conectados aos fatos, podendo, eventualmente, divergir em suas análises. Já na blogosfesra a figura central é a pessoa física do blogueiro. Ou seja, o blog é parcial mesmo, afinal é a opinião ou visão de um ser humano a respeito de alguma coisa. Aí volta o Nassif: “–Nos jornais há (ou havia) diversidade entre os colunistas. Mas cada qual era parte do todo, principalmente porque jornal é estático, com as colunas presas aos limites do papel, e a composição do quadro de colunistas é definida pela direção dentro de uma estratégia mercadológica. Quando a mídia maciçamente recorreu à “jurisprudência” jornalística, nos últimos anos, a diversidade acabou e muitos grupos de leitores ficaram órfãos. Na blogosfera o jogo é livre. O leitor montar seu painel de blogs e percorre todos eles confrontando opiniões e informações”.

O ponto de Nassif é que o jornalismo de hoje não permite a diversidade e isso está matando os jornais e revistas. Enfim, o conceito dele é que o conhecimento se constrói de posições contraditórias. Que não existe verdade absoluta. Que o conhecimento está espalhado e muitas vezes não está nas fontes tradicionais. Que o conhecimento verdadeiro é construído a partir de opiniões e visões diferentes. A capacidade de juntar essas diferentes visões é que vai permitir a geração de um conhecimento duradouro e sustentado.
Ele comentou que os principais colaboradores de seu blog são pessoas desconhecidas que trazem conhecimento real e novo aos fatos, que agregam diversidade e que muitas vezes têm divergências profundas a respeito de algum tema. E que isso tudo acontece muito rapidamente. Enquanto um jornal tradicional levaria um dia inteiro para apurar os fatos através de um jornalista (que muitas vezes nem conhece bem o assunto) para publicar no dia seguinte, o blog recebe dezenas ou centenas de informações de fontes e visões diferentes, fazendo o assunto ser visto e analisado por prismas diversos. Essa diversidade certamente é muito mais rica do que uma matéria escrita por um jornalista, que tem seu espaço limitado e que ainda passará pelo crivo, corte e ajuste do editor.

Noutro dia eu conversei com Jean Paul Jacob que também tem um ponto de vista firme em relação a isso. Ele costuma dizer que o futuro das revistas não é “continuar a ser tinta sobre um árvore morta (papel), mas sim valorizar o conteúdo e distribuí-lo em várias embalagens, sobretudo eletrônicas/digitais. Ele diz ser crente de carteirinha que no futuro veremos parte desse conteúdo como resultado de colaborações entre autores representando uma diversidade de áreas de conhecimento, chegando até o ponto extremo em que uma “revista” terá a encarnação (eletrônica) da “sabedoria das massas”.

Enfim, Jean Paul e Nassif tem visões muito parecidas do futuro do jornalismo.

Existe um artigo muito interessante falando sobre o futuro dos jornais. Vale ler. Ele fala como é o jornal de hoje e como será o jornal do futuro. Eis aqui o link.

Nassif falou tudo isso mirando o jornalismo brasileiro, dizendo que esse novo conceito de comunicação deveria ser a aspiração das empresas brasileiras de mídia. Ele falava e eu pensava na comunicação interna e na geração de conhecimento dentro das empresas, que sofre do mesmo problema e desafio. É incrível a similaridade de desafios e visão entre a comunicação externa (jornalismo) e comunicação interna. São essas coisas que reforçam o conceito de que a fronteira entre comunicação externa e comunicação interna vem desaparecendo.