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Quando improviso e criatividade se encontram

Semanas atrás rolou o IBM Leadership Experience. Duas cabeças privilegiadas estiveram conosco: Marcio Ballas (dramaturgo especializado na linguagem clown e improviso teatral) e Murilo Gun (pioneiro da internet e professor de criatividade).

Com o Murilo Gun aprendi que criatividade é a imaginação aplicada para resolver problemas. Aí ele sacou uma palavra que eu adorei: combinatividade, que é a capacidade de combinarmos coisas para propor algo novo. Ser criativo não é necessariamente inventar coisas, mas juntar coisas existentes para resolver algum problema ou criar algo diferente. E para isso você tem que aumentar seu arsenal de conhecimento, lendo coisas diferentes, conhecendo pessoas diferentes e se expondo a situações que você nunca vivenciou ou experimentou. Isso permite a você colocar elementos novos no seu baú de conhecimento para ter mais coisas para combinar depois. Adorei esse conceito!

Com o Marcio Ballas aprendi que a “arte” da improvisação exige conhecimento e preparação. Improvisação não é gambiarra, não é fazer de qualquer jeito e nem é fazer qualquer coisa. E não é uma questão de ser extrovertido. É questão de ser espontâneo e genuíno. Envolve também a capacidade de combinar coisas para gerar coisas novas. Ôpa, olha a criatividade do Murilo Gun aí. Quanto mais a gente estuda e se prepara, mais coisas colocamos dentro do nosso baú e, melhor, a gente consegue lidar com as surpresas e situações imprevisíveis.

Você melhor improvisa quando está melhor preparado.

E aqui, lindamente, sem me dar conta, eu aprendi que criatividade e improvisação se misturam. Não são coisas que caminham de forma paralela, mas juntas. Ao nos abrirmos para o desconhecido, desenvolvemos conhecimento sobre temas aos quais não nos expomos no cotidiano. Fazemos isso por meio do conteúdo que consumimos e dos relacionamentos que estabelecemos. Outra coisa que aprendi é que a nossa capacidade criativa é exercitável, ou seja, conseguimos treinar para ser mais criativos. Murilo Gun nos ensinou que podemos fazer isso por meio de pequenos momentos de nossa vida diária. Ele diz que nos aeroportos costuma comprar revistas diferentes, de temas que nunca teria interesse natural de ler. E brinca que comprou a revista Capricho e aprendeu com ela.

Nos eventos corporativos de que participo, frequentemente puxo conversa com desconhecidos que sentam ao meu lado. E, invariavelmente, conversamos sobre interesses nem sempre comuns, mas terminamos no final trocando contatos que, no futuro, poderão se transformar em relacionamentos e até negócios. Alguns colegas de trabalho comentam que nos eventos eu fico afastado deles, que às vezes desapareço… Mas o que estou fazendo é procurando conhecer pessoas novas e não ficar colado e próximo dos colegas de sempre. Eventos são sempre oportunidades maravilhosas para desenvolver relações. Se você fica com o seu bando, nada acontece.

No nosso cotidiano, improvisamos todos os dias para resolver problemas, desde a tempestade que inundou o bairro que moramos, ao filho que se recusa a comer brócolis. No trabalho, com tantas mudanças em curso, a começar pelas profissões, vivemos diariamente o desafio de encararmos situações não previstas e contextos novos. Quem já não viveu a realidade da empresa de reduzir investimento e despesas e agora todos têm que fazer mais com menos? Não existe manual que nos ensine como lidar com os desafios atuais. Ou seja, lidamos todos os dias com os imprevistos. Se tentarmos lidar com esses imprevistos usando as mesmas fórmulas conhecidas, será como colocar um quadrado dentro de uma bola… as coisas não encaixam. É por isso que as coisas emperram. É por isso que as organizações falam tanto em profissionais inovadores e criativos.

Com Murilo Gun e Marcio Ballas aprendi que a capacidade de encontrar saídas para os nossos problemas diários, cotidianos ou complexos, vem da nossa criatividade, que é dependente do nosso repertório de conhecimento e experiências passadas. De forma simples, a criatividade parece um Lego. Juntamos peças de conhecimento para montar novas soluções, combinamos poucas ou pequenas coisas para criar algo novo. Quanto mais conhecimento nós temos, mais peças de Lego. Quanto mais diversidade de conteúdo e relacionamentos nós temos, mais peças diferentes. Portanto, cuidemos do nosso Lego.