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Ser multitarefa pode ser ineficiente e estressante, diz estudo

O texto abaixo foi adaptado do original publicado no blog Foco em Gerações.

Desempenhar muitas tarefas ao mesmo tempo nem sempre significa ter um bom desempenho, demonstrou um estudo publicado há algum tempo pela Universidade de Stanford, nos EUA.

Para desenvolvê-lo, foram reunidos cem estudantes, divididos em dois times. O primeiro grupo era composto por estudantes “super multitarefas”, que têm o hábito de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, o tempo todo.

O segundo era formado por “multitarefas normais”, ou seja, que só fazem atividades simultâneas de vez em quando. Testes foram aplicados aos dois grupos e o resultado apresentado mostrou que os primeiros distraem-se com mais facilidade e são menos hábeis em filtrar informações irrelevantes do que os demais.

A Universidade de Utah também conduziu um estudo similar, que mostrou que apenas 2,5% das pessoas têm a capacidade de alternar tarefas simultaneamente de forma rápida e eficiente. Ou seja, essa é uma virtude rara, como se pode conferir nos links abaixo:

Supertaskers: Why Some Can Do Two Things at Once
Supertaskers: Profiles in extraordinary multitasking ability

Essas lições são importantes para colocarmos a questão na perspectiva do mundo corporativo. Cada vez mais as empresas buscam profissionais polivalentes, mais produtivos, mais colaborativos e flexíveis. Tudo isso pressiona os trabalhadores a terem um perfil mais multitarefa. Não é por acaso que muitos vangloriam a geração Y, que é multi-tarefa “by design”

O grande problema é que parece que a sociedade atual está passando do ponto razoável.

Eu conheço muitas pessoas que vivem conectadas, o que a princípio parece bom e interessante para a empresa onde trabalham, afinal velocidade e disponibilidade são virtudes bem vistas no mundo corporativo. A questão é que tais pessoas vivem com o cérebro em sobrecarga constante. A pressão contínua provoca uma espécie de “fadiga do cérebro”, que nada mais é do que a saturação da capacidade de memória ou dificuldade de assimilar informação.

Os especialistas dizem que estamos muito longe de ter atingido o limite da “fadiga mental” ou de “adaptação do cérebro” ao bombardeamento de informação, mas a verdade é que estamos todos mais angustiados com o dia a dia da vida moderna, especialmente no trabalho.

Uma maneira simples de analisar a realidade atual é observar o comportamento das pessoas. É quase impossível que alguém que receba de 50 a 100 e-mails por dia consiga responder a todos eles. E é preciso ser muito pragmático para elaborar e escrever a maior parte das respostas, que geralmente são feitas com atenção reduzida e talvez sem a análise adequada de cada caso, já que a pessoa já está pensando no próximo e-mail e em todas as pendências que tem em sua caixa de entrada.

O espaço mental para a reflexão diminuiu consideravelmente. Eu mesmo recebo mais de 200 emails por dia. E você acha que consigo ler todos?

Por fim, outro ponto é que o cérebro cheio e ocupado tira o tempo necessário para descanso e pensamento de novas ideias. E aí vem o conceito do ócio criativo, muito bem explorado no famoso livro de Domenico de Masi.

O tempo de descanso para o cérebro permite à pessoa pensar nas experiências que teve e transformá-las em memória de longo prazo. E isso quem disse foi Loren Frank, professor do Departamento de Fisiologia da Universidade da Califórnia de São Francisco, numa boa matéria chamada “Digital Devices Deprive Brain of Needed Downtime” publicada no NY Times. O conceito foi reforçado por um estudo da Universidade de Michigan que diz que as pessoas aprendem melhor se, depois de uma aula, forem dar uma caminhada num bosque em vez de irem andar um ambiente urbano agitado.

Enfim, tudo isso exige uma reflexão individual de como sobreviver a tanta estimulação simultânea. Que tal se desconectar um pouco?