Em agosto aplicamos mais um media training na empresa. Eu gosto muito de media training (daqui prá frente chamarei carinhosamente de MT), é a chance de compartilharmos conhecimento e fazermos as pessoas treinarem naquilo que elas têm poucas oportunidades para treinar, que é como se relacionar com a imprensa.
Já aplicamos 5 media trainings nesse ano e lembro que a preparação desse projeto tomou muito tempo nosso… e muita discussão. Ontem, ao ler uma revista, me deparei com um artigo que tocava exatamente no ponto mais polêmico das nossas discussões de preparação do MT: o uso da câmera de TV entrando na sala repentinamente para pegar os treinandos de surpresa. Essa imagem de uma câmera entrando na sala, com um jornalista ansioso, a luz em cima e com perguntas complicadas sempre assusta qualquer um. É a típica situação extrema de crise. Parece coisa de Jornal Nacional… e é mesmo. A autora do artigo abordou muito bem os conceitos do MT, com os quais eu concordo em maioria, mas fez um ponto que merece reflexão: “o mundo evoluiu, globalizou-se, passou a ser mais virtual e nós, profissionais de Relações Públicas, agências e assessorias de imprensa, continuamos acreditando que simular uma crise frente às câmeras, em um exercício de MT, ainda está valendo”. Ela alega de forma pertinente, que no mundo atual, dificilmente algum executivo vai levar uma câmera de TV na cara, de
supetão, sem estar preparado. Isso é verdade e todos nós concordamos. Ela também diz que os MTs propostos dão importância exagerada em gerência de crise. A pergunta dela é: “Mas que crise é essa?”. Ela diz que os MTs precisam ser repensados e deveriam diminuir o foco excessivo em crise. Agora vem a minha pergunta: – Mas o que ela quer? Que o treinamento de crise seja dado na… crise? Eu entendo os argumentos apresentados e até concordo no conceito. Mas, na prática, eu acho que o treinamento com a câmera na cara e pressão no treinando funciona melhor. O objetivo de um MT é apresentar conceitos e oferecer treinamento prático, portanto, nesse contexto, exercícios mais contundentes e extremados vão permitir que o treinando absorva melhor
as conseqüências que acontecem em situações de surpresa, ou quando não existe preparação prévia adequada. Viver isso na prática é a melhor forma de qualquer executivo aprender e captar as orientações. É óbvio que esse treinamento com câmera tem que ser feito com critério, sabendo dosar as ações frente às personalidades e limitação de cada treinando. O pior dos mundos seria expor negativamente os treinandos ou constrangê-los. Mas desafiá-los, e colocá-los frente a uma situação extrema, faz muito bem no treinamento. Enfim, treinamento é para isso. O pior é deixar a situação crítica para uma crise real. Por fim, concordo inteiramente com a autora quando diz que os MTs precisam ser repensados, que eles precisam ser mais personalizados e adequados para cada indivíduo. Aí ela acertou no alvo. Eu acho que esse é o maior desafio de qualquer MT: treinamento em grupo com foco no indivíduo.