Eu assisti a magnífica entrevista de Rosental Calmon Alves para Míriam Leitão no Espaço Aberto da Globonews. Gostei muito, mas fiquei na minha. Mas hoje, ao ler a coluna da Míriam no jornal comentando esta entrevista, cujo título é “Tempo Elástico”, eu não resisti e decidi publicar um post. Eu tenho que ter o registro deste material no blog.
A entrevista na Globonews deve ser motivo de reflexão de qualquer profissional de comunicação. São 23 minutos para chacoalhar a cabeça de qualquer pessoa que se envolve e trabalha com comunicação, mais especificamente jornalismo. Se você, que está lendo este post, tem amigos que trabalham com comunicação, faça um favor para eles e envie o vídeo abaixo. Acho que o vídeo deveria ser veiculado em todas as escolas de comunicação para discussão e debate dos estudantes.
Rosental fala sobre o mundo digital em que vivemos e se auto-intitula um evangelizador digital. Eu selecionei as seguintes partes da coluna de Míriam deste domingo, 1 de novembro de 2009.
“A internet não é uma nova mídia, não é mais um passo no caminho do jornal, rádio, televisão. É uma nova lógica, uma força transformadora, é o fim da era industrial e o começo da era digital. O único paralelo com o que está acontecendo é a invenção do tipo móvel, por Guttemberg, que acabou com o poder das velhas aristocracias, mudou o poder da Igreja e nos trouxe o iluminismo. A internet é a ponta invisível de uma revolução. Ninguém fala: eu vou entrar na rede elétrica e fazer um café. No futuro ninguém falará eu vou entrar na internet”.
“Rosental define o que está acontecendo com uma imagem da astronomia. Diz que, antes, a imprensa era um sol intenso. Hoje, há várias constelações, e estamos numa galáxia. Apareceram os outros astros, os blogs, os produtores de conteúdo, jornalistas ou não: — A pessoa começa a ter audiência também. Isso não termina com a audiência da mídia tradicional, mas permite mesmo a quem não é jornalista construir sua própria audiência. E a imprensa tem que entender isso e estar nisso”.
“Rosental acha que nesse mundo novo, a imprensa sai de uma relação virtual, unidirecional com sua audiência, para atuar em rede. Mas não perde a sua força, como ficou provado em alguns episódios recentes. A morte de Michael Jackson saiu primeiro num blog, mas as pessoas só acreditaram depois de confirmado pela mídia tradicional: — A imprensa mostrou sua força, sua credibilidade. A nossa profissão exige a disciplina da verificação. É o beabá”.
“Fazer ou não fazer o curso de jornalismo, agora que a obrigatoriedade do diploma acabou? — Fazer, claro. Nos Estados Unidos nunca foi obrigatório o diploma e 85% dos novos jornalistas fizeram curso de jornalismo. Terá vantagem quem tiver feito o curso e continuar estudando e aprendendo. Fica na profissão quem sabe fazer. Além disso, é um excelente curso de humanas”.
Não deixe de ver o vídeo da entrevista de Rosental na Globonews e a coluna “Tempo Elástico” de Míriam Leitão. Entre tantos conceitos importantes, vou repetir o que qualifico como pilar básico em toda essa discussão: “a internet não é uma nova mídia, não é mais um passo no caminho do jornal, rádio, televisão. É uma nova lógica, uma força transformadora, é o fim da era industrial e o começo da era digital”. Esse é o conceito mais importante pois confronta diretamente com o pensamento daqueles que dizem que a internet é meramente mais uma mídia. A internet balança as estruturas tradicionais, a começar pelo conceito básico de emissor/receptor. Atualmente todos são emissores e receptores.
A revolução que a internet está causando não afeta somente o jornalismo. Todas as profissões, estruturas da sociedade e relações humanas estão em profunda e acelerada transformação. Que privilégio poder viver nesta era e fazer parte desta grande viagem de transformação da humanidade.
Quer conhecer mais detalhes dos conceitos que Rosental citou na entrevista? Eis abaixo dois bons artigos escritos por ele que merecem ser lidos:
“Reinventando o jornal na Internet”, publicado no blog Almanaque da Comunicação. Muito interessante esse artigo produzido em 2001, quando o impacto da internet no jornalismo ainda era visto com desconfiança.
“Jornalismo digital: Dez anos de web… e a revolução continua”; publicado em 2006 na revista Comunicação e Sociedade.