Tem vezes que a comunicação não é suficiente. Não basta publicar algo na revista ou na intranet da empresa. Tem que colocar o pessoal para experimentar, pois eles serão os próprios replicadores da experiência, contando uns para os outros, fazendo a informação circular de maneira muito mais impactante do que da forma tradicional.
Replico abaixo uma matéria publicada internamente, na empresa onde trabalho, que conta essa experiência. Esclareço que IBMista é como chamamos os funcionários da IBM, carinhosamente.
“A minha experiência começou na porta do restaurante quando a organização do Projeto me entregou a venda que deveria ser usada nos olhos a partir daquele momento até o final do almoço. E, a partir de então, eu não mais enxergava”. Assim foi o almoço de Lucas Takahashi e de mais 140 IBMistas de Hortolândia e Tutóia que, nos dias 29 e 30 de junho, participaram do Almoço dos Sentidos nos restaurantes da IBM organizado pelo grupo Sou Diferente.
Em duplas, enquanto um colega recebia uma venda, o outro assumiu o papel de guia. Todo o almoço foi conduzido dessa forma, da entrada, passando pela escolha dos pratos, no caminho até a mesa e seguindo para a saída do restaurante.
Para os IBMistas vendados, o medo da escuridão, a falta de localização e a preocupação em não derrubar a comida foram as questões mais difíceis de lidar. Ao mesmo tempo em que sentiam estar perdendo a noção do espaço, percebiam os sentidos mais aguçados. Pequenas sensações, como a mudança dos pisos, a textura e o sabor da comida, passaram a ser percebidos com mais atenção sem o sentido da visão.
“Quando estamos de olhos vendados, precisamos nos adaptar a todas as situações… foi incrível. Com a correria do dia-a-dia, muitas vezes, esquecemos de prestar atenção em simples detalhes que realmente fazem a diferença. Com os olhos vendados, pude perceber como é importante para o deficiente visual a comunicação verbal, a arrumação do prato e talheres, o sabor da comida, a organização do ambiente, etc etc etc…”, comenta Danielle Fontoura.
Após a primeira sensação de susto, como se tivesse um “abismo na frente” ao caminhar, segundo Gabriela Palumbo, os IBMistas puderam sentir e aprender mais sobre a realidade dos deficientes visuais. Durante o almoço, Sandra Pereira da Silva pode notar que “nós temos um pouco de deficiência em todos os sentidos, começando por achar que eles [deficientes] são limitados e não são, eles só precisam aprender como chegar, aonde estão, como fazer, e nós, por ver, por ouvir, por caminhar, nos debilitamos diante de coisas que realmente decidimos não querer fazer, ou ver, ou ouvir.”
Já para os guias, a preocupação maior era ajudar o colega a comer. Alguns destacaram que era preciso paciência para desacelerar e acompanhar o ritmo mais lento de quem estava vendado. “Nem estou comendo direito!”, disse, rindo, Vanessa da Costa.
Se por um lado há a impressão de dependência completa, por outro lado todos perceberam as possibilidades que ficam esquecidas quando valorizamos a visão em detrimento dos demais sentidos. A ajuda dos guias nesse aspecto foi essencial pois, apenas com o suporte inicial, foi possível para quem estava vendado saber como proceder e aos poucos se acostumar com as a nova condição.
Assim, saber ajudar e entender o que o deficiente visual passa no dia a dia são os dois grandes desafios, que podem ser superados com entendimento, solidariedade e confiança.
“Se você ainda não entendeu o que é ser deficiente faça o teste. Coloque uma venda nos olhos por algumas horas ou amarre suas mãos para trás ou seus pés, enfim, faça o teste e compreenderá”, completa Lucas, convidando a todos para que façam a experiência.