Pular para o conteúdo

As comunidades que as empresas desconhecem – O lado Dark

No final de outubro, eu participei de uma apresentação na Aberje Rio onde falei sobre comunicação interna. Desde então, eu tenho recebido alguns emails a respeito de um tema que toquei na palestra. O conceito é bem simples, mas parece que despertou a atenção de algumas pessoas.

As empresas desenvolvem seus canais de comunicação interna privilegiando a organização tradicional, tendo como base seus departamentos e unidades organizacionais. A comunicação formal, dentro da empresa, existe entre os departamentos contidos no organograma, como por exemplo: RH, Finanças, Marketing, etc. Muitas dessas organizações desenvolvem veículos próprios de comunicação como newsletters, revistas, etc. Por outro lado, em toda empresa, existem comunidades que vivem dispersas nos diversos departamentos que se falam e que se relacionam. Veja esse post.

Vou citar dois exemplos que identifico na IBM, a empresa onde trabalho.
Lá temos a comunidade técnica, formada por um número enorme de profissionais técnicos da empresa, que estão espalhados em diversos departamentos e sub-departamentos. Eles se falam, têm interesses comuns e compartilham os mesmos ideais. Estão espalhados por toda empresa e formam um grupo fortíssimo e numeroso. Outra comunidade, muito comum nas empresas, é a de secretárias. Elas formam uma rede paralela na empresa, sabem de tudo, são influenciadoras, são aliadas umas às outras, mas normalmente são negligenciadas pelas empresas.

O conceito é simples. As empresas se beneficiariam muito se soubessem identificar essas comunidades, se ajudassem seu desenvolvimento, procurando integrá-las ao modelo de gestão da empresa e engajando-as nos objetivos empresariais. Essas comunidades, formadas por pessoas com interesses comuns, muitas vezes são muito mais fortes, reverberadoras e influenciadoras do que os tradicionais departamentos do organograma. Na apresentação na Aberje Rio, eu chamei essas comunidades de “Lado Dark” das empresas, pois muitas vezes as empresas nem conseguem identificar muito bem esses tais grupos paralelos.

Nesse cenário, nós poderíamos identificar quatro tipos de empresa:

1- Têm aquelas que não sabem da existência de comunidades paralelas. Essas são as empresas CEGAS ou ALIENADAS, pois não conseguem enxergar o que acontece dentro delas;

2- Têm aquelas que sabem da existência de certas comunidades internas, mas fingem que não vêem ou preferem ignorá-las. Essas são as empresas DISSIMULADAS;

3- Têm aquelas que sabem da existência de comunidades, reconhecem-nas, mas não ajudam a alavancá-las. Até fazem alguma coisa, mas sempre no conceito de obrigação. Não é uma iniciativa genuína. Essas são as empresas NEGLIGENTES ou DESCOMPROMETIDAS;

4- E têm aquelas que sabem da existência das comunidades e ajudam a desenvolvê-las, valorizá-las e integrá-las na gestão da empresa. Essas são as empresas TRANSFORMADORAS, SOCIAIS e MODERNAS, que entendem e investem na colaboração e integração.

Mas como se tornar uma empresa número 4 ?

Canais de comunicação como blogs, redes sociais e wikis são formas modernas de desenvolver tais comunidades internas. A empresa deveria tomar a iniciativa de disponibilizar tais ferramentas, com foco na integração e colaboração do conhecimento, percepções e experiências das pessoas dessas diversas comunidades. A empresa também teria outros benefícios indiretos, como por exemplo, captar nessas redes sociais virtuais as tais conversas e interações que normalmente existem nos corredores das empresas.

Para a empresa embarcar nessa onda, não necessariamente a empresa tem que implementar ferramentas de web 2.0. Basta criar facilidades para as pessoas se reunirem regularmente numa sala de reunião, num auditório, numa áudio ou vídeo-conferência. O importante seria identificar essas principais comunidades e ajudá-las a se desenvolver. Obviamente que as ferramentas digitais ajudariam muito nessa jornada, pois a geração Y respira essa nova tecnologia.

Acho que essa missão deveria fazer parte da estratégia dos líderes de comunicação das empresas. Minha impressão é que, na maior parte das vezes, isso não está no radar de ninguém. A área de comunicação deixa para a área de RH. A área de RH está tão cheia de coisas que acaba deixando para outra área ou na prioridade mínima. O pior mesmo é quando, em algumas empresas, as tais comunidades só existem uma vez por ano. Quer um exemplo? O dia da secretária. Esse é o único dia do ano que as empresas olham para essa importante comunidade.