É sempre bacana ler livros e revistas a respeito do potencial de uso das redes sociais nas empresas, o problema é que eles raramente falam de experiências negativas, todos gostam de contar casos que deram certo. O nosso dia a dia mostra que a gente acaba aprendendo mais com os erros do que com os acertos. Este caso que vou contar é real e foi vivido por mim.
Um executivo me procurou dizendo que gostaria de lançar um blog interno para falar com sua organização. É bem verdade que eu incentivei este projeto desde o início, não foi somente uma iniciativa dele, mas como ele tinha uma organização enorme, certamente um blog seria um bom canal de relacionamento dele com seus funcionários.
O objetivo inicial do blog era estabelecer uma conversa com os funcionários, fomentando discussões sobre estratégia, planos e resultados. Numa organização com vários níveis hierárquicos, com um número enorme de funcionários, a meta era a conversa direta, sem interferência e filtros.
O primeiro post foi uma “festa”. A notícia do blog correu dentro da empresa, foram vários comentários, apesar do primeiro post ter sido aquele tradicional “boas-vindas, cheguei”, prometendo uma conversa franca e direta. O executivo estava feliz. Parecia que o blog já estava cumprindo o seu papel. Os comentários escritos no blog davam os parabéns pela iniciativa, pela ousadia e pelo exemplo que serviria para os executivos de outras áreas.
Nos 2 meses seguintes o executivo publicou 6 posts, alguns longos, outros mais curtos, e quase sempre recebeu comentários. Nos posts publicados eu não identifiquei novidades diferentes daquelas já ditas nos meios de comunicação interna da empresa. Mas vale destacar o terceiro post, quando ele apresentou sua visão a respeito de uma prática de recursos humanos da empresa. Ele deu uma opinião pessoal e particular, e isso sempre cai bem num blog, especialmente de um executivo. O problema é que o blog ficou mudo após 2 meses de atividade, nada mais foi publicado. O próximo e último post do blog foi publicado 60 dias depois, que acabou sendo escrito por uma funcionária da área de comunicação que estava preocupada com a morte precoce do blog. Ela escreveu o texto e sugeriu ao executivo para publicar, ele fez a revisão e deu OK. O post foi publicado em seguida, com a assinatura dele.
Esta foi a história do blog, que teve vida de quase 4 meses, com apenas 8 posts, sendo um de boas-vindas e outro escrito por uma ghost-writer. Meses depois, conversando com o executivo, ele lamentava do blog não ter dado certo, dizia que teve pouca repercussão, que esperava mais comentários e mais interesse da comunidade. Reclamou da sua falta de tempo e disse que preferia investir mais na comunicação interna tradicional (como newsletter eletrônica, mural e intranet) do que num blog ou redes sociais. E deu a experiência como encerrada.
Olhando pelo retrovisor, me atrevo a dizer que o blog teve mais acertos do que erros, mas ficou evidente que o blog não emplacou devido a pequenas coisas. As coisas estavam indo bem no início do projeto, a experiência era positiva, mas pequenos obstáculos começaram a aparecer. Eis a minha avaliação pessoal:
1- Os posts não tiveram regularidade de publicação.
2- A maiorias dos posts não tinham informação exclusiva ou uma abordagem diferente do que era publicado nos outros canais de comunicação. Ou seja, eles não traziam algo realmente especial, pareciam mais do mesmo. Portanto, não havia uma motivação esepcial dos funcionários para acessá-lo.
3- Muitas vezes o executivo usou uma linguagem mais institucional do que pessoal, com frases frias, distanciando a conversa pessoal que todos esperavam do executivo. Talvez eu esteja sendo duro aqui, mas quero alertar este ponto porque ele é muito importante.
4- Os posts eram sempre muito assertivos, não apresentavam perguntas ou dúvidas e não convidavam os funcionários a opinarem sobre algo. Ou seja, faltou polêmica.
5- E o mais importante: faltou crença, perseverança e tempo. Faltou o executivo acreditar de verdade no projeto, investir um pouco mais de tempo e dedicação, me parece que ele desistiu muito facilmente.
Enfim, este foi um caso que não deu certo, quando tinha tudo para ser sucesso. O executivo é um vencedor, admirado por todos e com conteúdo riquíssimo que merecia ser compartilhado com a organização. Analisá-lo depois é muito fácil, da mesma forma que analisamos uma partida de futebol. Difícil é analisar e tomar decisões durante a partida. Existem inúmeros casos de projetos de blog que deram certo, mas, particularmente, com eu já disse antes, eu acho que aprendemos mais nas experiências negativas do que nas positivas.