Com muita curiosidade eu comprei a revista Época que está nas bancas, cuja capa traz a manchete “Escravos do celular”. Vi a revista e pensei: “ôpa, é comigo. Tenho que ler isso”.
Ao folhear a revista me deparei com um artigo chamado “Por que nunca entrei no Facebook”, assinado por Eugênio Bucci. No rodapé descobri que Eugênio é, na verdade, Professor Eugênio, jornalista e professor da ESPM e da ECA-USP.
No artigo, o Professor Eugênio afirma categoricamente que não está no Facebook e apresenta seus motivos. Me surpreendeu ao demonstrar uma preocupação com os mortos, aqueles que morrem e continuam com seus perfis ativos no facebook, dizendo “o perfil do defunto fica lá, intacto”. Evidenciou que tem grande resistência para entrar nas redes sociais devido a evasão de intimidades, mas também disse que o que mais o afasta é o comércio dizendo: “Ali, a mercadoria é o freguês, o que vai ficando cada dia mais evidente, com denúncias crescentes sobre o uso de informações pessoais mercadejadas pelos administradores do site. Ali dentro, as mais exibicionistas intimidades adquirem um sinistro valor de troca para as mais intricadas estratégias mercadológicas”.
Ler o artigo do Professor Eugênio me provocou um tremendo incômodo. Como eu estava no aeroporto e o meu vôo atrasou duas horas, decidi escrever essa pequena carta para compartilhar o meu ponto de vista com o autor do artigo. Vai abaixo. Mas, antes, recomendo ler o artigo do professor AQUI .
Prezado Professor Eugênio, Com muito respeito eu compartilho abaixo o meu ponto de vista. Eu não o conheço, mas já antecipo minha admiração pelo senhor por dois motivos. Primeiro por escrever para uma revista como a Época. Isso é para poucos. Em segundo lugar, pela coragem de se posicionar contra a grande maioria da sociedade, que mergulha fundo nas redes sociais. O senhor me desculpe, mas acho que o senhor está muito equivocado. Não consigo entender como um professor da ESPM, e da Escola de Comunicação e Artes da USP, não está vivenciando a maior transformação da sociedade nos últimos anos. Não estou falando especificamente do Facebook, mas sim da revolução causada pelas mídias sociais, que é algo que vai muito além do Facebook, apesar de considerá-lo um ícone nesse cenário de transformação. As redes sociais estão mudando a forma como as pessoas se relacionam, como as pessoas compram, interagem e decidem. Novas comunidades estão emergindo desse mundo ainda desconhecido, países e governos estão passando por grandes mudanças, muitas delas ocorrendo no mundo “subterrâneo” das redes sociais. As disciplinas de marketing e comunicação estão mudando radicalmente, com novos valores e novos conceitos que balançam antigos dogmas. O senhor não é somente Professor, o senhor é também jornalista. E essa nova sociedade online impacta diretamente o jornalismo. Nos dias de hoje, potencialmente, cada cidadão do mundo pode ser um produtor de conteúdo e expor suas opiniões. Somos todos porta-vozes do planeta Terra. Como pode o senhor renegar e resistir a essa transformação? O senhor deveria ser o primeiro a embarcar nela. Como Professor e jornalista, o senhor deveria até mesmo liderar isso. Discordo radicalmente quando o senhor diz que os relacionamentos nas redes sociais não são leais e que não vão muito longe. Sinto muito, mas o senhor está errado. As pessoas se relacionam nas redes sociais porque tem interesses comuns, desde frivolidades até coisas sérias. E dessa relação surgem comunidades, algumas apenas para diversão, outras para missões mais nobres. Como o senhor disse, muitas pessoas expõe seus dados e alimentam o database marketing das empresas, como o próprio Facebook. Essa exposição exagerada não é maléfica e ocorre por vários motivos. Um deles é uma questão de mudança de valores. O significado de privacidade para o Senhor não é o mesmo para a garotada da geração Y. Nas redes sociais existe uma relação de troca, as pessoas aceitam fornecer alguns dados pessoais ao se sentirem que a empresa ou a rede social a quem pertencem vão dar algo em troca, que pode ser um melhor atendimento no serviço, uma experiência diferente de relacionamento ou um desconto na próxima fatura. O comércio, seja ele de produtos, de ideias ou de conhecimento, ganhou um novo sentido. A sociedade está toda conectada e isso tem origem no momento maravilhoso que vivemos com as novidades na tecnologia da informação e nas telecomunicações. Esse é um momento único, ou surfamos nesse tsunami ou seremos afogados por ele. Essa é uma decisão pessoal de cada um de nós. Eu sou um profissional de marketing e comunicação. Não consigo me imaginar estar fora dessa revolução. Eu tenho obrigação de testar tudo, entender e vivenciar esse momento mágico da sociedade. Apesar desta ser uma carta aberta, acredito que ela nunca será lida pelo senhor pois ela foi escrita num blog, uma variante dessa revolução online que muito provavelmente o senhor não tem o hábito de ler. Muito menos o senhor vai encontrá-la através de ferramentas de busca, pois em seu artigo o senhor escreveu: “uso o Google, mas com o pé ressabiado bem atrás”. Enfim, com muita humildade apresento o meu ponto de vista, acreditando que o senhor vai respeitá-lo, e com muita esperança que vai considerá-lo. Caso mude de ideia, por favor navegue pelo meu blog e pelo meu twitter e verá o poder das redes sociais na geração, compartilhamento e democratização de ideias, bem como na sua capacidade de conectar pessoas, estabelecer relacionamentos duradouros, quebrar barreiras e vencer obstáculos. Estamos num novo mundo, e seria muito legal o senhor embarcar nele. Abraços. 🙂