A gente escuta falar que a imprensa tem a capacidade de construir ou destruir reputações em minutos. Infelizmente isso é verdade. Eu digo “infelizmente” pois muitas vezes a acidez da imprensa ultrapassa a imparcialidade ou o equilíbrio. Nos “media trainings” que participo, eu sempre comento a respeito desse jeito meio “Robin Hood” da imprensa brasileira: uma imprensa que exerce o papel de fiscalizador do governo e das grandes empresas em prol do coitado cidadão comum, que é vilão de um governo corrupto e de empresas ganaciosas que não pensam em nada mais do que o lucro a qualquer preço. É a imprensa defensora dos fracos e oprimidos. Enfim, parte desse estilo da mídia nacional vem do tempo da ditadura onde a imprensa era fortemente controlada e cerceada. Muita gente teve que sair do país. Muitos desses jornalistas massacrados no passado comandam hoje as redações de grandes veículos nacionais.
Toda essa introdução é para comentar a capa do caderno de Esportes do O GLOBO dessa semana. Aliás, a capa vem sendo tema de fóruns e de alguns programas de rádio que comentaram a respeito.
O fato é que, dias atrás, a seleção masculina de futebol perdeu de forma vergonhosa para a seleção Argentina nas Olimpíadas (3×0). Realmente a seleção jogou muito mal, parecia um time de várzea. No dia seguinte, O GLOBO estampou a página abaixo na capa do caderno de esportes. Nas páginas seguintes o título seguiu o mesmo padrão da capa, ou seja, pau no Dunga. O jornal, diga-se, o editor, elegeu Dunga como culpado do fiasco da seleção e já montou a artilharia em cima.
Impressiona a forma irônica, linguagem direta e escancarada de encontrar um único culpado para o caso. Não existe nenhuma preocupação em dividir a culpa entre os jogadores, comissão técnica e dirigentes. A culpa foi do Dunga e pronto! Em resumo, a forma como o GLOBO conduziu as matérias leva o Dunga diretamente para frigideira. Em vez de “Seleção de Dunga” na capa, seria mais justo “Seleção Brasileira”. A parcialidade e a assertividade usadas pelo jornal assustam e corroboram a velha questão da imprensa como o quarto poder, o poder que destrói ou liberta.