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Em busca de novos líderes

Eu vivo no mundo empresarial há décadas. Circulo por dezenas de ambientes de empresas diferentes, de todos os tamanhos e de todos os segmentos. Converso com líderes de todos os tipos. A sensação que eu tenho, é que existe um descompasso entre o mundo do trabalho e a sociedade de hoje em dia.


Enquanto o cidadão moderno vive o seu maior momento de transparência, diálogo, liberdade e participação efetiva na sociedade, o mundo das empresas ainda continua tendo por base a hierarquia tradicional, com gerentes e modelos de decisão baseados no número de faixas que as pessoas carregam nos ombros. Essa não é uma percepção propriamente minha, mas é resultado de um somatório de feedbacks que recebi de muitos amigos e colegas que conversam comigo sobre o mundo do trabalho. A minha presença ativa nas mídias sociais me ajuda a coletar melhor essa percepção demonstrada pela massa em relação às empresas.


Obviamente que o ambiente de trabalho evoluiu muito. Eu, especificamente, trabalho numa empresa de vanguarda que preconiza um ambiente diverso, colaborativo e transparente. Acho que sou um afortunado nesse sentido, pois estou muito feliz onde estou. Mas a maioria dos meus amigos não tem uma história parecida para contar. Na verdade, o quadro me parece até mais dramático.


Existem muitos desafios, mas acredito que um dos principais reside na liderança. Não estou falando apenas dos presidentes das empresas, mas incluo também os executivos, os gerentes e os coordenadores de equipes. Eu sou gerente, portanto, me sinto plenamente incluído dentro desse balde. Desculpe se generalizo, até porque eu conheço líderes extraordinários com quem convivi e convivo hoje em dia, mas o fato é que a maioria das empresas ainda tem e são comandadas por líderes à moda antiga.


Passei estes últimos anos ouvindo muitos comentários de amigos e colegas que clamam por uma liderança mais conectada com os dias atuais. De tanto ouvir, eu comecei a anotar cada observação. Fui anotando, anotando, anotando… e deu nesta lista aí abaixo.


  • Nós precisamos de líderes diferentes

  • Queremos líderes para chamarmos de colegas, e não mais de chefes

  • Precisamos de líderes menos assertivos, mais contemplativos

  • Buscamos líderes mais generosos, que compartilhem seu conhecimento e não guardem as coisas para si

  • Líderes que falem menos e ouçam mais

  • Líderes que falem mais “nós” do que “eu” quando as coisas dão certo

  • E que falem mais “nós” do que “vocês”, quando as coisas dão errado

  • Líderes que gostem mais de conversar do que assistir apresentações de powerpoint

  • Lideres menos preocupados com a forma e mais conectados com o conteúdo

  • Líderes que gostem de pessoas que pensem diferente, com pontos de vista diversos dos deles, que gerem até desconforto, mas que permitem um ambiente mais diverso e heterogêneo

  • Líderes que inspirem curiosidade, que provoquem as pessoas a serem mais questionadoras

  • Líderes que trabalhem bem com pessoas deficientes, que não pensem inclusão como uma forma de caridade, mas sim como uma estratégia para construir um time mais forte, com novas percepções, sentimentos e capacidades

  • Líderes que curtam funcionários que usam cabelo moicano, ou que usam piercing ou que vestem jeans surrado

  • Líderes sem preconceito com raça, gênero e origem social

  • Ou melhor, queremos mais líderes negros, mulheres, LGBT ou deficientes

  • Líderes que adorem a palavra “por que”

  • Líderes que confiem mais nos seus liderados e não façam caretas quando são questionados

  • Líderes que pulem no abismo junto com seus liderados

  • Líderes que se preocupem menos com a fonte usada no powerpoint… ou com a cor do slide

  • Líderes que gostem de conversas no cafezinho no final do dia

  • Precisamos de líderes que sorriam quando estão todos em crise, que consigam ser a voz de paz e conciliação quando todos estão gritando

  • Líderes que se preocupem menos com o tipo de roupa que usamos, independentemente se usamos tênis ou um sapato caro

  • Líderes que falem mais “não sei”, mas com sinceridade

  • Líderes que enxerguem que existe vida lá fora e que valorizem isso

  • Líderes que trabalhem com as portas abertas

  • Líderes que se permitam contemplar a paisagem nas janelas no final do expediente ou até mesmo no meio de uma reunião tensa

  • Líderes que contem piadas

  • Líderes que não se incomodem de deixarmos o trabalho para irmos à festa de dia das mães da escola

  • Líderes que mostrem as fotos dos entes queridos em seus smartphones, ou o quê fizeram nas últimas férias

  • Ah, líderes que gostem de férias

  • Líderes que deem bom dia todos os dias com a “boca cheia”

  • Líderes que não se importem com a hora que chegamos desde que façamos bem o nosso trabalho de qualquer lugar

  • Líderes que gostem de dar feedback sem a gente precisar pedir

  • Líderes que curtam ir à escola no dia das crianças para ver os seus filhos ou até ver os filhos do melhor amigo

  • Líderes que gostem de mesas redondas, mas se a mesa for quadrada, que se sentem então no mesmo lado da mesa e não do outro lado

  • Líderes que adorem trabalho em equipe

  • Líderes que saibam ouvir críticas e agradecer por elas

  • Líderes que ajudem as pessoas a crescerem

  • Precisamos de líderes que sorriam mais.


Nós, trabalhadores, agradecemos.

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