Eu acompanhei esse caso nos últimos 3 dias. A minha principal curiosidade era saber o desfecho e, confesso, que continuo encucado como uma pessoa bem formada e com ótimo cargo faz uma besteira dessas. Estou falando de Justine Sacco. Ela é diretora, ou ex-diretora, de comunicação de uma empresa chamada IAC, InterActive Corp, que é dona de sites como Vimeo, match.com e Meetic.
Na última sexta-feira, dia 20/dez/2013, quando Justine ainda embarcava de Londres para a Cidade do Cabo (África do Sul), ela postou o seguinte no Twitter: “Going to Africa. Hope I don’t get AIDS. Just kidding. I’m white!“. Numa tradução para o português: “Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!“
Durante a viagem de 12 horas dentro do avião o post no twitter foi retuítado mais de 3 mil vezes. A hashtag #JustineSacco virou trend topic no Twitter. Simultaneamente o post bombou em vários jornais online e ganhou repercussão mundial. Enquanto isso Justine nem imaginava o que acontecia. Ela só tomou conhecimento quando chegou na Cidade do Cabo, no sábado, ao ligar o seu celular. Aí o estrago já estava feito. Ela deve ter tomado um tremendo susto, deve ter visto a sua timeline repleta de mensagens duras e hostis, mas não tomou nenhuma ação de pedido de desculpas ou algo assim. A ação tomada por ela foi apagar a conta @JustineSacco do twitter e o post publicado desapareceu junto.
No mesmo sábado, diante da avalanche e da repercussão do caso, inclusive na TV, a empresa empregadora de Justine Sacco se pronunciou dizendo que o post publicado pela executiva não reflete o pensamento e as crenças da organização onde ela trabalha. No mesmo dia, a tarde, a empresa informou que a executiva estava demitida.
No dia seguinte, domingo, 22/dez, a tarde, a executiva se pronuncia publicamente pela primeira vez e divulga um comunicado público de desculpas no jornal Sul Americano “The Star”.
Li suas desculpas, mas é interessante olhar o seu tweet com calma. Veja que ela escreve AIDS com letras maiúsculas. Ela coloca um ponto de exclamação quando diz que é branca. Ou seja, ela escreveu pensando e elaborando. Acho que quando alguém escreve dessa forma é porque muito provavelmente pensa realmente assim. Não foi algo impensado. O que foi impensado foi a repercussão.
Ler as matérias publicadas pelo mundo mostra que a ex-executiva já publicava alguns tweets polêmicos, mas nada parecido com esse.
Se desejar ter um ótimo resumo de todo o caso não deixe de ver a matéria de 2 minutos veiculada pela ABC. Muito boa matéria! Mas também recomendo a matéria “Justine Sacco, Internet Justice, And the Dangers Of A Righteous Mob” publicada na Forbes. A matéria faz uma análise muito interessante, com boas reflexões e faz a gente pensar.
Esse caso me fez refletir sobre 8 pontos: 1- Como pode uma profissional de relações públicas cometer tal desastre? 2- Será que ela vai conseguir um novo emprego como profissional de comunicação depois dessa experiência? 3- A conta do Twitter de Justine Sacco tinha apenas 200 seguidores. Portanto não negligencie o poder das redes sociais. O post dela foi potencializado ao máximo a partir dos retweets iniciais. 4- Tudo isso aconteceu num tempo extremamente curto… apenas 24 horas. Quando Justine desembarcou de seu vôo ela foi tragada por um tsunami. 5- O mundo todo acompanhou o caso de forma online e colaborativa pois centenas de veículos cobriram a evolução dos fatos, hora a hora. Até uma foto do desembarque de Justine foi publicada online. 6- Vivemos a indústria do espetáculo. Estou convencido que milhares de pessoas repercutiram o fato sem ter um mínimo entendimento do que estava acontecendo. Repercutiram pelo prazer de repercurtir. 7- O barulho foi tão grande que a empresa empregadora teve que se pronunciar no final de semana e tomar uma decisão drástica sem nem dar a chance de uma conversa com a funcionária. 8- E o mais surpreendente: Justine Sacco é sul-africana, assim como seu pai.