Quem vive no meio corporativo sabe como é que é. Os líderes das empresas, em sua maioria, são impacientes, estão sempre cobrando resultados e não tem tempo para perder ou divagar. Conversar sem pressa, sem uma agenda ou olhando para a janela, não dá certo. Para eles, conversa boa é aquela dentro de uma reunião. E reunião tem que ter apresentação, um powerpoint, uma pauta ou um documento para olhar. Qualquer reunião começa e, em poucos minutos, já está rolando um papo de quem é o responsável por tal tarefa, prazo e resultados. Já rola logo também um papo de retorno sobre investimento. E já marca uma nova reunião para cobrar os resultados. Não se permite sonhar ou divagar. Conversa sem objetivo não rola.
Dado esse contexto, o fato ocorrido abaixo, contado por um colega, foi mais ou menos assim.
O presidente de uma empresa foi convidado para se reunir com um grupo que estava montando um projeto na área de responsabilidade social. A ideia era apresentar o conceito do projeto para o executivo e ver se ele topava investir. No grupo, havia uma integrante que era muito inteligente, mas que divagava um pouco e às vezes partia para um “brainstorming”. Ao longo da reunião, na terceira vez em que ela falou sobre algo que estava pensando, o presidente mostrou desconforto e disse que não tinha tempo para divagações. A reunião terminou mal e as pessoas sentiram um anticlímax na despedida. Depois da reunião, um dos diretores que acompanharam o presidente na reunião, se virou para ele e falou: — Puxa, você pegou pesado. Você e seu velho preconceito com quem não é objetivo e pragmático. O presidente respondeu: – Eu sou preconceituoso mesmo, e daí? Meu interesse é a empresa e não posso perder tempo.
Eu não preciso citar aqui o nome da empresa onde aconteceu o fato, até porque acredito que essa é uma situação comum em muitas empresas, especialmente nas maiores onde os líderes têm uma rotina alucinante de trabalho. Aliás, o fato se alinha com um outro post que já escrevi chamado “Os líderes têm pouco tempo para pensar“. O problema é que acontecimentos como esse minam a capacidade criativa das empresas.
Rowan Gibson, autor do excelente livro “Inovação Prioridade No. 1“, Editora Elsevier, afirma que existem três precondições críticas para que a inovação genuína aconteça dentro das empresas: 1- Criar tempo e espaço na vida das pessoas para reflexão, geração de ideias e experimentação; 2- Maximizar a diversidade de ideias necessárias à inovação; 3- Favorecimento da ligação e troca de ideias – a “química da combinação”, que serve de terreno fértil às ideias revolucionárias.
Ou seja:
Inovação = Tempo + Diversidade + Colaboração Rowan Gibson pediu a mais de 500 gerentes, de nível médio e sênior, de grandes empresas norte-americanas para identificarem as maiores barreiras à inovação em suas respectivas organizações. Uma das respostas mais comuns foi a “falta de tempo”.
Mas só tempo não é suficiente. Estabelecer momentos de conversa livre, franca e transparente faz toda a diferença. No post passado, chamado “A gente adora floresta de pinheiros“, eu apresentei um ponto de vista sobre a questão da Inovação, que tem profunda conexão com a cultura corporativa.
O caso contado acima, onde o presidente da empresa diz que é preconceituoso, pode não ser um bom exemplo. Afinal, em toda a empresa, tem que existir momentos específicos de decisão pragmática e reuniões objetivas, e outras situações onde reflexão e brainstorming são bem-vindos. Portanto, quando as pessoas se juntam dentro de uma empresa, todas têm que ter consciência do que esperar daquele momento ou daquele grupo. No caso do exemplo acima, pode ter ocorrido um erro de expectativa dos integrantes da reunião. O presidente queria tomar decisões, enquanto outros poderiam querer propor ideias e diferentes alternativas às existentes. Mas, no fundo, lá no fundo mesmo, o único preconceito que o presidente não pode ter é quanto à inovação.