O uso do Facebook faz bem para você ou gera angústia, ansiedade, inveja e frustração?
As telas do Facebook mostram pessoas felizes, viajando, realizando feitos memoráveis, alguns extraordinários, alcançando momentos especiais como casamento ou a conquista de um diploma, e por aí vai. É um leque de conquistas, satisfações e pessoas alegres e realizadoras.
Quando você vê alguém em Paris rola aquele pensamento “puxa, eu gostaria de estar lá” ?
No dia que escrevo esse post, na minha timeline do Facebook, o meu amigo Giovanni completou o Ultra-trail Uerwersauer, em Luxemburgo, na Europa, que é uma corrida de 50 km em montanha. Acredite, ele ficou abaixo do tempo de 7 horas. A Luciana estava no Atacama, no Chile. A Adriana em Miami, a Vivi em San Francisco, a Cintia em Paris e a Marina em Barcelona. O Renato no Nepal. Todo mundo postando muitas fotos lindíssimas. Na minha timeline também aparecem fotos de bichinhos perdidos em busca de adoção. Muita gente reclamando de governantes.
O Human-Computer Institute da Carnegie Mellon fez um estudo que concluiu que o “consumo passivo” dos posts dos seus amigos no Facebook está fortemente relacionado a sentimentos de solidão e depressão.
No início de 2013, duas universidades alemãs mostraram que ser um “seguidor passivo” no Facebook gera sensação de ressentimento e inveja em vários usuários, sendo fotos de férias o principal gatilho para despertar esses sentimentos. Um outro estudo, do Departamento de Ciência Comportamental da Universidade de Utah, também concluiu a mesma coisa. Aliás, vale a pena ver este estudo chamado “They are happier and having better lives than I am: The Impact of Using Facebook on Perceptions of Others’ Lives“. Só o título do estudo já dá vontade de ler. 🙂
O quadro piora ao constatarmos que o aumento de solitários está aumentando. Eu desconheço dados do Brasil mas nos EUA os números são inquestionáveis. Em 1950, menos de 10% das casas norte-americanas tinham apenas 1 morador. Em 2010, este número saltou para 27%. Existe uma questão fundamental levantada no excepcional artigo “Is Facebook Making Us Lonely?” publicado no The Atlantic no ano passado: É a internet que faz as pessoas se sentirem solitárias ou são as pessoas solitárias que são mais atraídas pela internet? Na era do Facebook esta pergunta ganha novas nuances.
Um outro estudo, chamado “Misery Has More Company Than People Think: Underestimating the Prevalence of Others’ Negative Emotions“, sugere que o uso das redes sociais podem levar as pessoas a se sentirem mais sozinhas com suas dificuldades emocionais, ou seja, ocorre uma amplificação dos sentimentos negativos latentes em cada um de nós.
A maioria desses estudos são cuidadosos ao afirmar que não é o Facebook que causa sensações de solidão, inveja e depressão, mas sim a forma como ele é usado. Se você usa o Facebook primariamente para compartilhar conteúdo legal, jogar games ou trocar mensagens com novas amizades, muito provavelmente ele está sendo positivo para você. Por outro lado, se você usa o Facebook apenas para acompanhar o que as pessoas fazem e o que o publicam, especialmente fotos, e mais especialmente as suas férias, eu acho que você é um bom candidato para desenvolver um semi-consensual relacionamento sadomasoquista com o Facebook.
Mas o Facebook não é tudo, existe uma rede social com um potencial ainda mais devastador: o Instagram.
Apesar da inexistência de estudos sobre os efeitos emocionais do Instagram no ser humano, acho que é possível extrapolar os estudos do Facebook. O Instagram tem elementos muito parecidos com o Facebook: publicação de fotos, botão “curtir” e comentários de pessoas. Na verdade, o Instagram é quase a parte fotográfica do Facebook. Ali você encontra o maior o repertório de fotos de viagem, pessoas felizes, tendo sucesso, etc. Quase todos mostrando o seu melhor momento. Existe alto potencial de uma foto provocar uma comparação social e disparar sentimentos de inferioridade e frustração.
Pesquisadores dizem que tal situação pode provocar uma “inveja espiral“, crescente, que é muito peculiar nas redes sociais. Ao ver fotos bonitas de seus amigos no Instagram, você fica motivado para publicar fotos melhores, e seus amigos, ao ver as suas fotos, vão tentar publicar fotos ainda mais bonitas, e assim o mundo das redes sociais tende a levar as pessoas para longe do mundo real. Existe um possível mundo do faz de conta por trás disso.
Agora surge o Lulu, um aplicativo restrito a mulheres, que permite compartilhar comentários das mulheres sobre rapazes tanto com as amigas, como também com amigas das amigas e todas as que forem amigas do rapaz avaliado no Facebook. É algo que você não consegue controlar, basta o homem estar no Facebook que ele automaticamente está no Lulu. Tudo é muito incipiente, mas sentimentos de baixa auto estima, frustração e até vingança ficam evidentes nesse tipo de rede social. Algumas usuárias do Lulu dizem que veem o app como uma ferramenta para se vingar de alguns homens por mau comportamento.
Enfim, eu não estou querendo aqui dizer que você deve fugir do Facebook, do Instagram e de outras redes. Longe disso. Mas pense na forma como você usa. O que você está deixando de fazer enquanto se senta no sofá e fica horas olhando para um gadget? O uso do Facebook faz você conhecer ou aprender algo diferente? Como se sente depois de passar 30 minutos no Facebook? Sente que ganhou algo ou perdeu tempo? Pense nessas perguntas, especialmente quando estiver com o Facebook na sua frente.
Texto baseado e inspirado no excelent post de Jessica Winter “Selfie-Loathing: Instagram is even more depressing than Facebook“, publicado no Slate.com
Texto publicado no Brasil Post