Ontem, a Rede Globo anunciou um política de uso de mídias sociais para seus funcionários. Não vi muito mistério. Basicamente a regra para as mídias sociais segue o mesmo conceito geral que a emissora aplica para as demais formas de manifestação pública. Veja AQUI o anúncio da Rede Globo.
A grande preocupação da Globo é proteger seus “conteúdos”. O que faz todo sentido. A dúvida é saber se os funcionários e contratados da emissora, especialmente os artistas, conseguirão se conter nos blogs e twitters da vida.
Dois dias antes, a Folha de São Paulo também enviou um comunicado para seus funcionários. Neste comunicado interno, assinado pela editora-executiva, o jornal pede que seus profissionais não se posicionem em favor de um candidato, partido ou campanha, e que não publiquem furos em suas páginas da web. Ou seja, todos devem seguir nas ferramentas web os princípios do projeto editorial da Folha. Veja o curto comunicado AQUI no blog do Toledo.
Eis a minha avaliação: As orientações da Globo e da Folha tratam as mídias sociais como mais um canal de comunicação e pedem que seus funcionários sigam as regras já existentes dentro da empresa. Ou seja, no fundo no fundo, não são regras novas, são orientações que valem para mídias sociais, nas entrevistas para imprensa e no papo no botequim com os amigos.
No caso da Globo, podemos até discutir se a emissora está sendo muito rigorosa em sua posição, ou seja, restringindo demais (o que eu até concordo), mas não creio que isso seja relevante já que ela apenas propagou para o mundo das redes sociais uma regra interna já estabelecida de controle da informação. Se analisarmos alguns guias corporativos para uso de mídias sociais, será fácil identificar a preocupação existente com os dados e fatos considerados confidenciais e estratégicos pelas empresas. Enfim, a preocupação da Globo e da Folha é justa. Sugiro ler a matéria publicada no IDGNow que analisa esses recentes anúncios. Veja AQUI.
Mas eu tenho um comentário adicional. O que mais me incomodou no comunicado da Globo foi essa afirmativa: “A hospedagem em Portais ou outros sites, bem como a associação do nome, imagem ou voz dos contratados da Rede Globo a quaisquer veículos de comunicação que explorem as mídias sociais, ainda que o conteúdo disponibilizado seja pessoal, só poderá acontecer com prévia autorização formal da empresa”. Não achei isso legal. Me pareceu um exagero, especialmente em relação ao conteúdo pessoal. Com isso, é capaz de alguns sites e blogs de artistas desaparecerem, e outros migrarem dos atuais hosts para os domínios e “olhos” da Globo. O mais preocupante, porém, são os artistas que possuem milhares de seguidores em seus twitters e blogs, eles terão que ter muito mais cuidado ao comentar algo sobre as rotinas da emissora, seus bastidores e programas. Enfim, nada muito diferente da preocupação que toda empresa tem a respeito de seus segredos internos, estratégias, opiniões a respeito do mercado e seus concorrentes.
Creio que estes foram os primeiros anúncios de veículos nacionais de comunicação a respeito de uso de mídias sociais. No exterior essa preocupação já vem sendo debatida nos últimos dois anos. Alguns são mais flexíveis e outros mais restritivos. Por exemplo, a Info, no mês passado, informou que a ESPN proibiu que seus funcionários mantenham sites pessoais sobre esportes fora do portal da ESPN. Estão na lista o Twitter, Facebook e blogs. Veja AQUI a matéria da Info. E veja AQUI os guidelines da ESPN para Mídias Sociais. A razão é a mesma apresentada pela Globo e Folha, ou seja: preservação de conteúdo.
Enfim, vivemos uma época onde informação exclusiva vale ouro.