Esse caso foi bastante badalado há algumas semanas. Mas, propositadamente, eu esperei algumas semanas para ver os desdobramentos do caso. E algo me surpreendeu.
A jovem Marina Shifrin, escritora, pediu demissão da empresa onde trabalhava através de uma forma completamente diferente. Ela postou um vídeo no YouTube com uma dança bem pessoal. O vídeo se tornou hit na web e ganhou destaque pelo mundo. Ele teve tanta repercussão que colocou a música “Gone”, do cantor Kanye West, de novo nas paradas.
O vídeo da Marina era claramente um protesto dirigido ao seu chefe, mas ao postar no YouTube, acredito que milhares de pessoas se identificaram com a sua atitude e se imaginaram fazendo a mesma coisa ou algo parecido. Não houve ofensas ao chefe ou a empresa, apenas uma performance bem divertida e uma comunicação direta mostrando a motivação de sua saída.
Duas coisas me chamaram a atenção em relação ao fato, e não foi a atitude da ex funcionária ou a repercussão do vídeo. Estou falando da banalização do ato da demissão e, melhor ainda, do vídeo resposta da empresa.
Eline Kullock, em seu texto “O presentismo da geração Y e o vídeo de demissão da Marina Shifrin” faz uma excelente reflexão sobre essa tal “banalização da demissão”. Vale muito ler. Para a geração mais antiga o ato de se demitir é algo complicado, mexe com a autoestima, precisa de muita reflexão e planejamento. É algo que dói no coração, para fazer escondido. A demissão sempre foi tratada com algum tabu e era algo discutido dentro de ambientes controlados. Nos tempos atuais, parece que o processo de demissão ficou menos importante, parece ser algo natural, corriqueiro, como um almoço ou uma ida a esquina. O “pleno emprego” e a “carreira longa na mesma empresa” estão em extinção.
Qual foi a real motivação da Marina para fazer um vídeo, posta-lo no YouTube, em vez de realizar um pedido de demissão numa sala fechada com seu chefe? Por que fazer de sua saída um desabafo público? O que ela queria como imagem a partir dessa atitude? Ela pretendia conquistar algo? Qual o legado deixado por ela na antiga empresa? Será que a “dancinha da demissão” ajuda ou atrapalha na busca dela por um novo emprego? Será que ela vai conseguir um melhor emprego depois dessa experiência e iniciativa?
Marina explicou a razão de sua demissão em seu blog, Deu para entender muito bem, mas não ela comentou a ideia do vídeo. Seria divertido e interessante se fizesse.
Marina trabalhava na Next Media Animation, uma companhia produtora de vídeos de Taiwan. A resposta da empresa para ex funcionária veio no mesmo remédio, ou seja, na forma de um vídeo bem humorado onde os funcionários fazem uma performance e tentam responder a Marina. O chefe também respondeu a altura as acusações apresentadas por Marina. Ele diz algo na linha: “Eu gostaria que a Marina tivesse aplicado a criatividade mostrada por ela no vídeo em seu trabalho diário aqui na empresa”. O vídeo é divertido, valoriza alguns benefícios da empresa, mostra cenas gravadas na piscina e diz que está com vagas abertas para novas contratações.
Apesar de ser uma empresa pequena, produtora de vídeos, a resposta da empresa foi bastante surpreendente. Se fosse uma companhia grande, mais burocrática, certamente o desdobramento seria outro. Mas o exemplo é válido para mostrar que vivemos outros tempos. Trata-se quase de uma “guerra” pública, de posicionamento, onde uma funcionária deixa a empresa através de um vídeo no YouTube que já alcançou quase 17 16 milhões de views, sem pudor, mas com criatividade. A empresa, em contra-ataque, responde na mesma moeda, com sarcasmo, alavancando sua imagem, posicionando-se publicamente para fazer frente a uma exposição pública não planejada. O seu vídeo resposta já tem mais de 4 milhões de views.
São sinais de novos tempos, onde conversas e atitudes anteriormente privadas se tornam públicas. Milhões de pessoas acompanham.
Veja o vídeo da Marina. A ex funcionária mostra que sabe dançar, parece se divertir e e apresenta suas razões por tomar aquela atitude.
Veja o video resposta da empresa.
Publicado no blog Ponto de Vista do Meio&Mensagem