Uma vez assumi uma posição executiva numa empresa na qual as coisas estavam muito mal. Logo ao chegar, me surpreendi com o pouco caso do grupo em relação à gravidade dos problemas que os negócios da empresa estavam passando. Não demorou muito para eu descobrir que o problema era muito mais sério. Não havia pouco caso, o que acontecia, de fato, era desconhecimento. Os funcionários não sabiam o que estava se passando. A gestão anterior omitia os fatos e negligenciava a participação dos funcionários no debate dos problemas e desafios e, principalmente, das soluções.
Eu decidi virar a operação de pernas para o ar, e passei a fazer reuniões semanais com todo o time, independentemente da hierarquia. Eu colocava todo mundo no auditório, desde os gerentes mais seniores até os funcionários mais juniores, e abria o livro. Nessas sessões eu apresentava os problemas, os riscos, os números (muito deles super confidenciais) e convidava – na verdade eu convocava – todos, sem exceção, para virarmos o jogo.
Confesso que as reuniões geravam muito desconforto e apreensão nas pessoas. No entanto, a transparência e a honestidade na relação geraram engajamento do grupo, muitos fizeram sacrifícios pessoais doando tempo, cancelando férias, indo além de suas áreas de responsabilidade para ajudar outros do grupo, virando noites e em poucos meses saímos de mares turbulentos e entramos em mares mais calmos. Os resultados vieram. As reuniões de acompanhamento foram diminuindo. Em seu lugar começaram as reuniões de reconhecimento e celebração.
A partir dessa experiência, aprendi a duras penas que comunicação transparente e honesta é fundamental para o sucesso de qualquer grupo e seu líder.
Portanto, não foi por acaso, que um levantamento feito pela Love Mondays apontou reconhecimento e comunicação como as atitudes que os funcionários mais esperam dos presidentes de empresas. Love Mondays é um site que coleta avaliações anônimas de funcionários das empresas onde trabalham.
O Love Mondays perguntou aos seus usuários quais os conselhos que eles gostariam de dar aos presidentes das empresas. O levantamento foi feito de dezembro de 2014 a janeiro de 2015. O site analisou as opiniões de mais de três mil pessoas, procurando descobrir as demandas mais comuns dos colaboradores aos principais líderes das empresas. No final, o portal publicou um ranking com 10 conselhos.
O que me chamou a atenção foi que, entre os cinco primeiros conselhos, três deles estão intimamente conectados à comunicação:
1- dar mais reconhecimento aos funcionários 2- melhor comunicação com os funcionários 3- estar mais informado sobre o dia a dia das empresas
Numa era em que todos nós somos seres super conectados, participantes ativos em múltiplas redes sociais e com smartphones cada vez mais poderosos em nossas mãos, me surpreende o clamor por mais comunicação. Ou seja, tem algo que não está sendo bem feito pelos líderes das empresas. Está faltando comunicar e interagir melhor com os colaboradores.
A fórmula tradicional e antiquada de cartas, emails e revistas internas não está sendo suficiente. Os funcionários querem informação direta, sem intermediários, desejam trocar opiniões, participar de alguma forma e deixar de serem meros coadjuvantes nessa relação com a liderança das empresas. Isso representa uma forma diferente de fazer comunicação corporativa. É por isso que hoje se fala tanto em engajamento. Aliás, já se fala que os CEOs deveriam agir como chief engagement officers e que as organizações de comunicação dentro das empresas têm um papel fundamental nessa tarefa.
Segundo estudo da Hay Group, as empresas que melhor engajam seus funcionários podem ter receitas até 4,5 vezes maiores do que as demais. Por outro lado, conseguir fazer isso está cada vez mais difícil, pois a cabeça dos funcionários mudou muito nos últimos anos. As motivações e valores atuais são diferentes das do passado. Segundo a Hay, essa transformação está acontecendo devido à influência de vários fatores, entre eles, o estilo de vida digital, a convergência tecnológica, as mudanças demográficas, a globalização e o impacto ambiental. Com base nessas tendências e em seus próprios estudos, a Hay identificou os principais desafios que as companhias enfrentam para incentivar e envolver os trabalhadores. Não é surpresa que colaboração e transparência apareçam na lista.
Charlene Li, uma das consultoras mais conhecidas em liderança digital, novas tecnologias sociais e colaboração nas empresas, autora de vários livros best sellers, afirma que os líderes mais engajados e de maior sucesso têm três características em comum: escutam estrategicamente, compartilham informação e se utilizam de formas genuínas de engajamento. Para ela, o líder engajado é um construtor de relacionamentos de valor, dentro e fora das empresas, que rompem a barreira da hierarquia e usam novas formas de interação. Não deixe de ler o excelente artigo chamado “3 Things All Engaged Leaders Have In Common“, escrito por Charlene para a FastCompany. Vale muito a pena. O artigo é uma adaptação do recente livro publicado por ela: “The Engaged Leader: A Strategy for Your Digital Transformation”.
Numa entrevista para o jornal Valor, Eduardo Gouveia, presidente da Alelo, contou algumas de suas estratégias na busca de melhor interação com sua força de trabalho. Ele faz almoços com funcionários e procura trabalhar em lugares diferentes dentro da empresa para ter chance de conhecer e interagir com mais funcionários. Ele disse que, sempre que pode, vai ao banheiro em andares diferentes do prédio, para circular mais pelos corredores. Essas são formas simples e muito interessantes de melhorar a comunicação interna, mostram um executivo que pensa diferente e que realmente procura interagir com os diversos escalões da empresa. No entanto, essas atitudes devem ser encaradas como ações complementares a algo maior e mais abrangente. Certamente não atende integralmente a demanda e a necessidade de empresas com milhares de funcionários.
Algumas empresas já descobriram que a adoção de mídias sociais internas faz toda a diferença. Pense em uma rede corporativa interna, onde os funcionários podem conversar uns com outros, compartilhar conhecimento e emitir opiniões. Criar um ambiente colaborativo, aberto, transparente e em tempo real é uma necessidade atual. Esta é uma forma interessante de aproximar as lideranças das equipes mais distantes e remotas. Por mais que apareçam opiniões contrárias, minha experiência pessoal mostra claramente que as mídias sociais internas trazem mais produtividade e inovação para as empresas, além de mais satisfação e desenvolvimento para os funcionários.
Existem muito mais benefícios do que riscos na implementação e no uso de mídias sociais pelas empresas: comunicação direta, sem intermediários, quebra da barreira hierárquica, quebra da barreira geográfica, incentivo à inovação e à diversidade, aumento do sentimento de camaradagem e do espírito de equipe, ajuda no entendimento da estratégia da empresa, aumento do senso de pertencimento, cria referências, etc. Eu poderia ficar aqui enumerando muito mais razões.
Por outro lado, a entrada das empresas no mundo das mídias sociais precisa de planejamento, de objetivos definidos e de adequação à cultura da companhia. Não é algo simples, mas está longe de ser complicado. Já existem muitas empresas com histórias de sucesso que merecem ser estudadas, com lições aprendidas e bons exemplos de como fazer.
Os maiores riscos para adoção das mídias sociais nas empresas ainda residem no velho paradigma das empresas desejarem controlar o que rola dentro da empresa. Isso é um sonho impossível. Ninguém controla mais nada. Na era dos smartphones, internet, redes sociais e conectividade total, o controle virou história da carochinha, algo de tempos passados. O tempo agora é de participar e influenciar na conversa em vez de comandar e controlar a conversa. Portanto, esqueça o desejo de inibir a interação aberta entre os funcionários, em vez disso trate de criar ambientes dentro das empresas para as pessoas conversarem cada vez mais, de preferência através dos canais de comunicação da empresa, onde os papos podem ser vistos, acompanhados e compartilhados.
Voltando ao início do post, é este o ambiente que os funcionários desejam. Todos nós queremos ambientes mais transparentes e abertos, onde os líderes falem e compartilhem seus pontos de vistas, percepções, planos, objetivos e até, inseguranças. Ironicamente, a principal barreira para a adoção das mídias sociais pelas empresas continua sendo os executivos. Infelizmente, ainda existe um número significativo de líderes empresariais que não entendem o poder das mídias sociais como ferramenta de comunicação e engajamento dos funcionários. Existem várias barreiras. Fiz uma pesquisa anos atrás e cheguei a 10 principais barreiras, mas o resumo é que a maioria ainda acha que vai perder tempo nas mídias sociais, além de não ter certeza do benefício do diálogo aberto e descontrolado.
Enfim, a comunicação interna dentro das empresas precisa passar por uma transformação gigantesca. Os funcionários estão clamando por mais e melhor comunicação de suas lideranças. Cabe aos CEOs das empresas dedicarem mais tempo em suas agendas para as atividades genuínas de relacionamento com seus times, especialmente usando ferramentas sociais digitais. É tempo de mudança.