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Histórias de Chefes Mala

Tenho muitos anos anos no mercado de trabalho, obviamente que sempre me reportando a um chefe. De uns tempos pra cá, com o advento das organizações matriciais, tenho sempre mais de um chefe simultaneamente. Ao longo do tempo eu tive chefe de todo jeito, longe e perto, gordo e magro, chato e legal, presente e ausente, preocupado e despreocupado, tenso e relaxado, e por aí vai. Graças a Deus eu tive um número bem maior de chefes competentes e generosos (em compartilhar conhecimento e dar conselhos). Não foi por acaso que consegui evoluir e crescer na carreira. O grande dilema é que os chefes mala, apesar de serem um número pequeno, foram marcantes e jogaram muitas pedras no meu caminho. Ao olhar pelo retrovisor, é interessante constatar que alguns chefes mala foram importantes para a minha formação, fizeram diferença, apesar de eu querer ter tentado enforca-los naquela época.

No início da minha vida eu tive um chefe muito centralizador, controlador mesmo, tudo tinha que passar por ele. Aquilo me incomodava profundamente, demonstrava falta de confiança na equipe, mas depois entendi como a cabeça dele funcionava. O ponto a favor dele é que ele conhecia profundamente o ofício, adorava conversar e dar seus pontos de vista, com isso tínhamos horas e hora de sermão falando como as coisas deveriam ser feitas.

Anos mais tarde ganhei um dos chefes mais complicados da minha vida profissional. Eu sempre fui honesto e muito transparente com meus chefes, é um relação sem segredos ou pegadinhas, e isso me trouxe problemas por diversas vezes. Vou dar alguns exemplos para ilustrar melhor: — Chefe, eu não vou conseguir entregar o trabalho neste prazo porque a equipe está sobrecarregada e o projeto é muito complexo.

Ele responde: — Mauro, você está me dizendo que não está conseguindo comandar a sua equipe e por isso não vai entregar o projeto no prazo que estou pedindo? — Não, não, o que estou dizendo é que estão todos muito atarefados e que o trabalho é complexo. — Então você está dizendo que não tem capacidade para entender o trabalho a ser feito porque parece muito complexo para você?

Não vou seguir com o exemplo, mas as conversas com ele seguiam essa linha e eram intermináááááveis, sofridas, looongas, com jogo de palavras de ambos os lados. Coincidência ou não, ele me levava ao limite e foram dois anos onde alcancei espetaculares resultados de performance. Na minha fase na área de vendas foi quando alcancei os melhores números.

Tive um chefe que falava assim: “Você tem um problema”. Ou seja, o problema nunca era “nosso”, era só meu, ele fazia questão de deixar isso bem claro. Em compensação, quando alguma conquista acontecia, o sucesso era “nosso” 🙂

Certa vez tive um chefe apaixonado por powerpoint. Tudo merecia uma apresentação, especialmente para o chefe dele. Haviam momentos que ele ficava discutindo a tonalidade do azul do texto, a cor do fundo do slide e até pedia versões alternativas para ele escolher. Lembro de várias vezes onde abandonávamos a discussão do conteúdo para falarmos longamente sobre o formato. Aquilo era uma tortura para mim pois eu sempre negligenciava o formato. Mas com ele aprendi, a duras penas, como preparar uma apresentação mais impactante e objetiva, sucinta quando necessária, especialmente quando tínhamos pouco tempo para sensibilizar alguém sobre um projeto ou uma tomada de decisão crítica. Foi duro, mas valeu.

Tive um chefe que fumava charuto… no meio do expediente. Ele era muito desorganizado, mas um gênio em criar cenários e pensar no futuro. Quando ele acendia o charuto, eu já podia contar que ia ficar com ele, pelo menos, duas horas. Ele divagava muito. Como qualquer pensador e sonhador, ele era pouco objetivo, mas profundamente inteligente e me levava sempre a repensar as coisas. Por ser bagunçado, era comum ver a mesa dele com dezenas de papéis empilhados e jogados sobre a mesa. Uma vez o charuto rolou entre os papéis e ele não viu… e a papelada começou a pegar fogo. Os sprinklers funcionaram e o prédio foi evacuado. Nada de grave aconteceu, mas naquele dia ele foi proibido de continuar fumando seus charutos, até porque os vizinhos de sala já não o aguentavam. Ele não era exatamente um chato, mas era difícil manter as coisas organizadas e fazer os projetos acontecerem no prazo, ele sempre pensava em mudar algo.

Felizmente essas histórias de chefes mala são poucas. Me atrevo a dizer que elas foram importantes porque me ensinaram “como fazer” e, principalmente, “como não fazer”. Aprendi que devo agir com meus subordinados, e toda equipe, da mesma forma que eu gostaria que agissem comigo.

Uma vez, quando mudei de área, eu ganhei um livro chamado “Chefes Incríveis” de um dos integrantes da antiga equipe. Fiquei encucado pois sei que, como líder e chefe de equipes, sempre tenho muito o que aprender e desenvolver. Portanto, fui preparado para encarar a dedicatória, mas lá estava a frase mágica, escrita a mão, que massageou meu ego: “Chefes incríveis, como você”.

Cada pessoa tem necessidades específicas, mas compartilho aqui uma confidência. Quando fui nomeado gerente pela primeira vez, em dezembro de 1990, eu não tive tempo de fazer cursos preparatórios. O processo de promoção foi muito rápido e eu tinha que mudar de cidade com família e papagaio, tudo corrido e muito louco. Pensei: “Como posso me transformar em um gerente de pessoas em menos de 30 dias?”. Uma das decisões mais acertadas que tomei foi conversar com o máximo de gerentes possível. Foram reuniões pessoais e por telefone, sempre perguntando duas coisas: “O que você fez no seu primeiro ano como gerente e que faria diferente se tivesse a chance de começar de novo? Qual é o conselho mais importante que você pode dar para um gerente novato como eu?”. Recebi conselhos valiosos.

A segunda ação foi a sorte de encontrar um livro mágico, que está esgotado nas lojas, infelizmente, mas todos os gerentes deveriam ler. Ainda é possível encontrar tal livro nos sebos. Chama-se “Sucesso com as Pessoas: A Teoria Z das Relações Humanas para o Aproveitamento Mútuo”, em português. Em inglês o título é: “Success with People: The Theory Z Approach to Mutual Achievement“. O autor é Willard I. Zangwill, Professor de Ciência de Administração da Universidade de Chicago, USA. Ele ensina, através de conselhos legais e casos práticos, que o sucesso do gerente depende de uma única coisa: o sucesso do funcionário. Cuide de fazer o seu time funcionar e todo o resto vai funcionar para você. O livro ensina como fazer isso.

Enfim, lembranças de outros tempos.

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