Tempos atrás escrevi um post analisando os males causados pelas mídias sociais, especialmente o Facebook e o Instagram. Existem pesquisas e estudos que evidenciam isso. A questão não são as mídias sociais em si, mas a forma como você usa e consome tais redes.
Um dos estudos afirma que o “consumo passivo” dos posts dos seus amigos no Facebook está fortemente relacionado a sentimentos de solidão e depressão. As pessoas se sentem frustradas ao rolar as telas do Facebook e se depararem com pessoas felizes, viajando e alcançando coisas legais. É quase uma espécie de “tortura mental”. Saiba mais no post “Facebook e Instagram fazem mal para a saúde“.
Uma pesquisa feita na Inglaterra concluiu que o excesso de fotos publicadas no Facebook pode prejudicar os relacionamentos na vida real. Os pesquisadores afirmam que as pessoas parecem não se relacionar bem com quem compartilha muitas fotos de si, com exceção dos parentes e amigos muito próximos. Em resumo: quanto mais fotos você publica, maior o risco de prejudicar o relacionamento com alguém.
Já um estudo publicado em 2012, pela Columbia Business School e pela Universidade de Pittsburgh, apontou que usuários de Facebook são mais propensos a seguir impulsos consumistas e a engordar. O conceito é simples: as pessoas se sentem relaxadas no Facebook, por isso elas se controlam menos e se permitem extrapolar em algumas coisas.
Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados sobre o tempo que passam conectados ao Facebook. Adivinha? Os mais gordinhos sempre gastavam mais tempo, todos os dias, com o Facebook. Por isso que a Super Interessante, ao publicar matéria sobre esse estudo, usou o dramático título: “Facebook te deixa mais pobre e gordo“.
Agora surge um novo estudo, mais um trabalho da Universidade de Pittsburgh, afirmando que usuários frequentes de Facebook tendem a ter níveis mais elevados de endividamento com cartões de crédito e menor pontuação de crédito. Isso acontece porque as mídias sociais podem estar desencorajando o autocontrole financeiro e criando impulsos consumistas.
Ao ver fotos e posts de seus amigos nas redes sociais se divertindo, viajando e conquistando coisas, você se sente impelido a fazer as mesmas coisas, até mesmo para se sentir parte daquele grupo social e mostrar que você também é capaz.
O artigo “How to avoid the high price of social media envy” publicado na Reuters faz uma boa análise desse cenário. É evidente que as mídias sociais estimulam nossos desejos, nossas decisões e nossos gastos. Existem muitos estudos afirmando que as redes sociais têm forte influência nas decisões de compra dos usuários, ou seja, elas tocam no “botãozinho” do consumo dentro da gente. Fiquei surpreso ao descobrir que o Pinterest, cuja plataforma é muito mais visual que o Facebook, tem uma compra média por clique bem maior que o Facebook: mais que o dobro, segundo dados publicados pela Fast Company.
A mensagem é clara: cuidado ao entrar nas redes sociais porque sua resistência a gastar dinheiro diminui.
Este estudo, que sinaliza que o Facebook nos deixa mais frouxos para gastar dinheiro, tem relação direta com outros estudos que afirmam que as redes sociais podem gerar sentimentos de depressão e frustração. Em todos os estudos surge o sentimento de inveja, que parece ser o sentimento por trás de tudo.
A situação pode ser até pior. Alguns pesquisadores dizem que as mídias sociais tendem a provocar uma espécie de “espiral de inveja”. Ao ver histórias e experiências legais de seus amigos numa rede social, você fica motivado para publicar histórias mais legais, e seus amigos, ao ver as suas histórias, vão tentar publicar histórias ainda mais bacanas, e assim o mundo das redes sociais tende a levar as pessoas para longe do mundo real. Essas histórias podem ser viagens, bens e outras conquistas. É aí que sentimentos conflitantes aparecem e as pessoas forçam a barra em suas finanças para atender aos seus anseios.
O número alto de curtidas em posts de alguns dos seus amigos no Facebook também parece ser algo que incomoda. A percepção é que existem pessoas mais legais do que você. Isso gera um desafio dentro de sua mente e o faz pensar em descobrir o motivo de eles estarem sendo mais admirados do que os outros, e até você mesmo. Sem saber, o seu inconsciente pode estar levando você a querer imitar esses sujeitos de maior sucesso nas redes sociais.
Como resistir ao instinto humano de tentar se igualar ou se superar ao que seus amigos publicam nas mídias sociais? É difícil. A maioria das pessoas publica apenas coisas legais, mas não contam as dificuldades que tiveram que enfrentar para conquistar aquela viagem dos sonhos ou aquele carro novo.
Devemos ter sempre em mente que as pessoas nas mídias sociais tendem a publicar somente as histórias bonitas de sua vida. Na verdade, é pior: nas redes sociais as pessoas supervalorizam as suas boas histórias, exageram e até fazem uso da “licença poética”, camuflando muitas vezes a dureza do dia a dia. As dificuldades e as más notícias quase não aparecem. E, quando aparecem, elas tendem a ser minimizadas, muitas vezes tratadas com ironia.
É inegável que as mídias sociais geram inclusão, compartilham conhecimento, ajudam a democracia, aproximam pessoas e derrubam barreiras de todos os tipos, não somente as geográficas. Os benefícios são imensos, e não são somente para o indivíduo, mas também para a coletividade. Os benefícios e os males de tais redes dependem totalmente da forma como elas são usadas, do tempo e da forma como elas ocupam a vida de cada um. Existe uma tendência enorme da vida virtual e imaginária na web ocupar uma parte preciosa da sua vida real. E aí pode estar o perigo. Saber discernir entre os dois mundos é fundamental.
Enfim, nesse mundo de faz conta das mídias sociais, devemos ter a capacidade de colocar um filtro em nossos olhos. Desculpe se serei repetitivo e falarei mais uma vez o que já escrevi em posts anteriores. A solução não é as pessoas fugirem do Facebook, do Instagram e de outras redes. Muito pelo contrário, mas pensar na forma como usam.
O que você está deixando de fazer enquanto fica horas pendurado num gadget? O uso do Facebook faz você aprender algo diferente? Faz você se sentir um ser humano melhor? Como se sente depois de passar 30 minutos nas mídias sociais? A sensação é de ganho ou perda de tempo? Pense nessas perguntas. Ou melhor, pense nas respostas.