Melhores Momentos â Festival de âPublicidadeâ 2011 em Cannes â parte 3 e Ășlt
- Mauro Segura
- 29 de jun. de 2011
- 5 min de leitura
Ă difĂcil para ser verdade, mas esse, finalmente, Ă© o Ășltimo post da minha experiĂȘncia no Festival de âPublicidadeâ de Cannes. NĂŁo deixe de ver os posts anteriores. Parte 1 Parte 2 Parte 2 e 1/2 Parte 2 e 3/4
Apesar da minha imensa vontade de falar da linda cidade de Cannes, dos seus tipos estranhos e engraçados, das celebridades do evento e atĂ© das casualidades que presenciei durante os meus dias por lĂĄ, eu vou me segurar e me concentrar em falar do evento. Vamos lĂĄâŠ
Uma discussĂŁo que rolou nos corredores do Palais foi a respeito do futuro do evento, agora chamado de Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions. Essa Ă© a 58a. edição, ou seja, um evento com histĂłria. AtĂ© o ano passado o nome era âFestival de Publicidadeâ. A substituição da palavra âpublicidadeâ por âcriatividadeâ jĂĄ sinaliza que o evento estĂĄ em transição, mas a mudança fica evidente ao ver a agenda, o perfil do pĂșblico participante e o papo nos corredores e auditĂłrios. O post âUma platĂ©ia executiva em Cannesâ, de Marili Ribeiro em seu blog do EstadĂŁo, resume muito bem essa situação. Eu concordo com aqueles que chamam o atual evento de Feira de NegĂłcios. Ver CEOs no palco, apresentaçÔes sobre efetividade de campanhas e painel sobre novos modelos de negĂłcios, sĂŁo exemplos de um evento muito alĂ©m de um Festival de Criatividade. Enfim, eu apreciei muito o desenho do evento.
Ă sempre Ăłtimo ver CEOs no palco dando seus recados para a turma da publicidade. Essa conexĂŁo Ă© fundamental. E, no evento desse ano, vieram os CEOs de dois gigantes: NestlĂ© e Unilever. ImperdĂvel.
Paul Polman, CEO da Unilever, disse: âEu nĂŁo trabalho para a Unilever, eu trabalho para o clienteâ, e gastou um bom tempo falando sobre as mudanças do comportamento do consumidor. Deu a visĂŁo dele, como lĂder de uma grande empresa, a respeito do novo marketing para as empresas e da importĂąncia da voz das pessoas vinda das redes sociais. Polman sinalizou trĂȘs grandes direçÔes: 1- o shift da economia mundial dos mercados maduros (USA e Europa) para os mercados emergentes, como Ăsia, Leste Europeu e AmĂ©rica Latina; 2- a revolução digital que gera grande impacto no marketing, comunicação e na sociedade em geral; e 3- a era da sustentabilidade. Eu nĂŁo sabia, mas Polman disse que, atualmente, mais de 50% do faturamento da Unilever jĂĄ vem dos mercados emergentes (fora USA e Europa). Em 2020, essa parcela deverĂĄ ficar entre 70 e 75%. Isso justifica o movimento intensivo dos recursos internos da empresa (pessoas, capital e investimentos) para esses novos mercados. AliĂĄs, os mercados emergentes tiveram grande destaque no Festival de Cannes, Ă© sĂł verificar o nĂșmero de casos inscritos, destaques e prĂȘmios. O mundo estĂĄ realmente em movimento.
O CEO da NestlĂ©, Paul Bulcke, começou dizendo: ânĂłs somos uma companhia de marketing, esse Ă© o nosso DNAâ, âa NestlĂ© sĂł existe porque os consumidores acreditam na genteâ e ânĂłs nos conectamos com as emoçÔes dos consumidoresâ. Falou muito sobre branding e mĂdias sociais. Disse que as mĂdias sociais sĂŁo âcoreâ no marketing da NestlĂ© pois permite um diĂĄlogo permanente com o consumidor: âatravĂ©s das mĂdias sociais nĂłs conseguimos entrar nas casas dos consumidores, trocar receitas, conhecer a dona de casa, entender o que eles gostam e queremâ. Veio da platĂ©ia uma pergunta para ele: âComida Ă© algo muito ligado a cultura, os sabores, as caracterĂsticas e os desejos variam muito, de lugar para lugar, Como a NestlĂ©, uma empresa global, lida com isso?â O CEO respondeu simplesmente assim: âGlobal exploration, Local executionâ. Bulcke falou que a NestlĂ© tem uma imagem global, mas a execução Ă© muito descentralizada. âNĂłs deixamos as pessoas locais tomarem as decisĂ”es. Existem sabores diferentes de cafĂ© no mundo todo. Cada lugar gosta de um cafĂ© diferente. NĂłs respeitamos isso e essa Ă© a nossa força. Consumo de comida Ă© algo bem cultural e bem local, nĂłs temos mais de 6 mil submarcas no mundo, muitas marcas regionais e locais, e vamos continuar assimâ. Ele falou vĂĄrias vezes sobre o Brasil, mostrando que esse Ă© um mercado importante para a NestlĂ©. Bulcke recebeu a seguinte pergunta da platĂ©ia: âComo vocĂȘ faz para manter e fomentar inovação numa empresa enorme como a NestlĂ©?â A resposta foi que a empresa tem 3 focos: 1- âTentamos de todas as formas descentralizar as decisĂ”es. Numa grande empresa, os processos e controles asfixiam a criatividade e a inovação. Entregamos as decisĂ”es para quem estĂĄ perto do consumidor. SĂŁo eles que entendem o que o mercado desejaâ; 2- âO backline e o frontline tĂȘm que estar separados. O backline Ă© aquele pessoal que administra e opera o dia a dia da empresa. O frontline sĂŁo aqueles que estĂŁo na frente dos consumidores. O backline consome a empresa e inibe a criatividade, eles estĂŁo preocupados com custos, processos e controles. Os grupos tĂȘm que trabalhar separados para preservar o frescor e criatividadeâ; 3- âOlhamos o mercado o tempo todo. Falamos o tempo todo com os consumidores. Estamos sempre vendo o que os concorrentes estĂŁo fazendoâ.
AlĂ©m da presença dos CEOs, que faz pousar a aeronave do mundo real dos negĂłcios no evento, Ă© muito interessante ver as novas mĂdias e a web participando ativamente de todo o programa. Google, YouTube, Facebook, Yahoo e outros estiveram no festival, com presença muito efetiva e marcante. A Google, por exemplo, patrocinou o Young Lions.
O surgimento de novos meios e alternativas estĂĄ virando de cabeça para baixo o mercado publicitĂĄrio. Em 2010, foram gastos mais de 450 bilhĂ”es de dĂłlares em publicidade em todo mundo. Ă muito dinheiro. Essa Ă© a maior razĂŁo das discussĂ”es em Cannes. Como proteger esse investimento e criar modelos de negĂłcio que sustentem o crescimento dessa indĂșstria? Por trĂĄs disso existe um mundo que terĂĄ mais de 9 bilhĂ”es de habitantes em 2050, que certamente serĂĄ formado por usuĂĄrios intensivos de smartphones (ou devices que terĂŁo outro nome!!), mĂdias sociais e bilhĂ”es de gadgets conectados. O potencial do mercado publicitĂĄrio estĂĄ se expandindo exponencialmente, e a agenda dos participantes do Festival de Cannes parece estar muita mais interessada em discutir isso do que ficar confinado na questĂŁo de criatividade. Voltamos de novo na questĂŁo da mudança da agenda do evento⊠Como escreveu Marili Ribeiro do EstadĂŁo em seu twitter: âCannes expĂ”e inimigos. Da rede de agĂȘncias nĂŁo Ă© outra rede, mas as redes sociais. Comunicação hĂper segmentada tira receita da publicidadeâ
Uma outra novidade em Cannes foi a inclusĂŁo de uma apresentação do TED na agenda. O anfitriĂŁo entrou no palco, se apresentou e explicou o que era o TED e sua proposta, que basicamente Ă© trazer profissionais, muitos deles desconhecidos da maioria do pĂșblico, para apresentar opiniĂ”es e compartilhar conhecimento, sempre em apresentaçÔes com 20 minutos de duração. Para Cannes, o TED trouxe dois apresentadores e uma poetisa. Ver o TED nesse tipo de evento Ă© uma oportunidade de oxigenação para o mundo publicitĂĄrio. PorĂ©m, mantendo o teor de criatividade, a jovem e excepcional poetisa Sarah Kay fez o pĂșblico sonhar ao dizer: âQuando olho para o cĂ©u numa noite de tempestade, eu penso que Ă© Deus tirando fotografias lĂĄ de cimaâ.
Em tempo, a AlmapBBDO conquistou mais uma vez o tĂtulo de Agency of the Year do Festival de Cannes, prĂȘmio que jĂĄ havia conquistado em 2010 e em 2000. Com a vitĂłria deste ano, o Brasil soma seis conquistas no Agency of the Year. A AlmapBBDO foi a vencedora em 2011, 2010 e 2000. A DM9DDB ganhou em 2009, 1999 e 1998. E a F/Nazca S&S venceu em 2001.