Aconteceu ontem.
Entro no avião e sento na poltrona 2F. O dia está lindo e penso: "Que delícia, vou chegar no Rio e ter uma vista de cartão postal". Já fico ansioso por ver a cidade de cima num dia azul. Minutos depois os passageiros vão chegando.
Senta ao meu lado, com alguma dificuldade, na poltrona do meio, uma senhora bem idosa. Ela sorri. Se acomoda na poltrona, vasculha o bolsão na frente e não encontra nada de interessante. Ela cruza os braços, ajeita os óculos e olha curiosa para cada passageiro entrando no avião.
Em pouco tempo ela se vira pra mim e exclama: "É a minha primeira viagem de avião. Estou nervosa, mas feliz. Tô indo ver meu neto, é ele que está pagando a passagem".
A gente conversa brevemente e, de repente, me cai a ficha: "Como pode ser a sua primeira viagem de avião e a senhora não estar na janela num dia lindo e abençoado por Deus?"
Troco de lugar com ela, a senhora vai para a janela, e isso transforma a minha viagem numa das melhores viagens aéreas da minha vida. A senhora virou criança, passou a viagem encantada com tudo e eu virei guia aéreo do Rio, descrevendo cada lugarzinho que víamos do céu.
Ao pousar no Sto Dumont, Dona Irene segurou minha mão, me deu um único beijo paulista carinhoso e disse que aquela viagem foi uma das melhores experiências de sua vida.