Pular para o conteúdo

Nas redes sociais corporativas, educação e orientação são mais importantes do que controle e punição

Dias atrás, eu recebi uma ligação de um colega. Ele queria me comentar um caso de redes sociais que rolou na empresa onde trabalha. A conversa foi a seguinte:

— E aí? Tudo bem? Tô ligando para contar uma experiência que tivemos aqui na empresa com redes sociais.

— Experiência com redes sociais? Mas como? Vocês não permitem o acesso dos funcionários às redes sociais. E, pelo que sei, vocês também não têm blogs internos ou coisas parecidas. Mudou alguma coisa?

— Não. Você está certo. O acesso aqui é proibido mesmo. Mas o que aconteceu é que um funcionário falou mal da empresa em seu blog pessoal. Parece que ele ironizou o presidente, falou que não concordava com as algumas coisas que a empresa fazia e até reclamou do salário baixo.

— E?

— E hoje a empresa demitiu o funcionário.

— Demitiu o funcionário? Mas quando vocês descobriram este caso? Aliás, se o blog era pessoal, como a empresa chegou nele?

— Foi uma denúncia anônima. Um funcionário, que não se identificou, ligou para o RH e deu o endereço do blog dele, contando o problema. A denúncia aconteceu há dois dias. Isso chegou rapidamente no diretor de RH, que parece que teve uma reunião com o presidente, e hoje de manhã deram a demissão sumária no funcionário.

— Foi justa causa?

— Não sei. Acho que não. O que corre pelos corredores é que a demissão foi dada para servir de exemplo. Eles não querem ver novos casos parecidos e resolveram radicalizar.

— E o clima aí? Como está?

— Todo mundo só fala nisso. Existe um pouco de revolta das pessoas, elas acham que ninguém deveria ser demitido por escrever algo num blog ou numa rede social. Os funcionários ainda não entenderam muito bem o que ocorreu.

— Você pode me passar o endereço do blog?

— Até poderia, mas o blog foi apagado. Ele desapareceu. Por isso esse papo até parece boato, mas ele ocorreu de verdade.

— Eu posso citar o seu nome ou o nome da empresa? Eu gostaria de escrever sobre este caso.

— Não, não, por favor. Não fale nada. Eles não estão querendo divulgação para o caso. Estão com o maior medo disso cair na imprensa.

— E o funcionário demitido? Será que ele não vai reclamar? Será que ele não vai escrever sobre isso em outro blogs?

— O que rola aqui é que a empresa fez um acordo com ele.

O relato acima me surpreendeu muito. Este foi o segundo caso de demissão no Brasil por conta de mau uso de redes sociais que tomei conhecimento. O primeiro foi o caso da Locaweb ocorrido em março deste ano. Eu não sei de mais nenhum. Gostaria de conhecer outras situações, caso existam, para meu aprendizado.

Eu não estou certo se este tipo de situação é comum em nosso país, até porque as empresas não gostam de falar sobre destas experiências. Uma pesquisa realizada no ano passado nos EUA mostrou que o número de empregados punidos por conta de uso inadequado de emails e redes sociais vem aumentando consideravelmente. Apesar da amostragem pequena, a pesquisa foi feita apenas com 220 empresas americanas com mais de 1 mil empregados, o resultado do estudo serve como sinal de alerta para o mundo corporativo, já que 17% das empresas pesquisadas aplicaram alguma ação disciplinar em funcionários que violaram as políticas de uso de blogs. Enquanto 9% delas reportaram que demitiram empregados por tal violação.

Eu acredito que a demissão deve ser sempre o último recurso. No caso acima relatado, eu, sinceramente, acho que a empresa perdeu uma excelente oportunidade de educação. Antes de punir, a empresa deveria procurar o funcionário para conversar e entender as motivações que o levaram a escrever sobre a empresa em seu blog pessoal, quando ele poderia e deveria ter externado suas opiniões dentro da própria empresa, para o seu gerente ou para os canais adequados da empresa. É importante fazer o funcionário refletir, pensar sobre a situação e os danos que uma exposição pública inadequada por causar. Na maioria das vezes, os funcionários cometem equívocos de forma inocente. Eles não entendem a dimensão e as implicações do que representa escrever suas opiniões num blog público, seja ele pessoal ou não.

O caso relatado pelo meu colega lembra aquele que contei no ano passado, quando uma funcionária de uma empresa espinafrou a empresa em seu blog pessoal. Achei as situações muito parecidas. Acredito que o procedimento descrito para aquele caso se ajusta perfeitamente para este também. Vale a pena ler.

Enfim, educação e orientação são muito mais importantes do que controle e punição.