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Nós amamos abobrinha

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Confesso para vocês que eu tenho um problema de relacionamento com o Facebook.

Eu já tentei usar o Facebook de maneira mais séria, mais construtiva, mas não tem jeito, o negócio mesmo é falar bobagem ou usar de maneira despretensiosa.

De um ano pra cá eu transformei a minha atividade no Facebook numa espécie de experimentação. Comecei a publicar coisas diversas para ver o que rolava, especialmente olhando o número de “likes” e comentários. Deu para aprender algumas coisas.

Fotografias da minha janela do trabalho, que é um escândalo pois tenho na frente o Pão de Açúcar no Rio, é um campeão de “likes”. Pode ser em qualquer situação: dia de sol, dia nublado, com chuva, sem chuva, com neblina, vale tudo. O número de “likes” é sempre relevante. Também posto muitas fotografias de Paraty, cidade que frequento com regularidade. Quase sempre o retorno é muito bom. Minhas fotos da ponte aérea também geram muitos “likes”. As pessoas curtem pra valer. Quanto menos texto, melhor. O que vale é a imagem mesmo.

Passei a escrever histórias curtas do meu cotidiano, quase sempre bem humoradas, com um olhar otimista e positivo, vendo as coisas com um viés mais humano e divertido. As pessoas adoram isso, curtem bastante e postam muitos comentários. Em resumo: histórias curtas, onde as pessoas se identificam, sem compromisso, é uma boa e o engajamento acontece. Acabei até criando um blog para armazena-las.

Por outro lado, nas vezes que publiquei posts mais sérios, refletindo sobre a sociedade e de forma imparcial, o que ganhei foi um silêncio quase total, pouquíssimo engajamento e comentários mínimos. Não rolou! Tentei mais vezes e nunca rolou.  Porém, se eu escrever o mesmo post com um tom mais polêmico, parcial, com um tom irônico, dando uma cutucada em alguém, aí a coisa esquenta e os comentários aparecem. No entanto acontece um fenômeno: a polarização. Aparecem pessoas a favor e outras contra, muitas cuspindo maribondos contra mim. Eu não curto muito isso, até porque alguns dos comentários são radicais e grosseiros, criando um tremendo mal estar, porém é uma forma de ter uma timeline mais movimentada.

O que aprendi na prática:
– Posts com fotografias bonitas trazem mais engajamento (pequenos vídeos também!).
– Posts despretensiosos, descrevendo o dia a dia de maneira positiva, muitas vezes funciona bem.
– Posts polêmicos, sobre qualquer assunto, sempre dá bom retorno, mas esteja preparado para o radicalismo e comentários deselegantes
– Posts sobre assuntos sérios recebem pouco feedback, parece que as pessoas passam direto

Em resumo, um saco !!!

Uma coisa que também me desanima é constatar que as grandes redes sociais, como Facebook e Twitter, por exemplo, diminuíram muito o alcance orgânico dos posts publicados pelos simples mortais. O que pula na sua tela são conteúdos patrocinados, com viés publicitário, privilegiados pelos algoritmos turbinados das grandes redes. Ok, eu entendo, aceito bem, afinal elas são empresas que precisam se sustentar, crescer, faturar para manter a operação e inovar. Porém lamento constatar que a timeline agora está menos divertida e menos interessante do que há alguns anos.

Ao longo dos últimos meses eu fui limpando o meu Facebook. Eu continuo com toneladas de amigos, mas deixei de seguir a maioria. E peço desculpas por isso, mas não quero saber o que as pessoas comem no café da manhã, nem no jantar, e nem mensagens de paz e amor. Gosto de pessoas que me fazem refletir, de forma bem humorada, que trazem um ponto de vista diferente, não necessariamente alinhados com meu pensamento ou crenças. Não gosto de posts que simplesmente compartilham links, mas curto muito quando alguém escreve algo sobre seu conteúdo, dando algum brilho adicional. Aos poucos eu fui deixando de seguir a maior parte das pessoas e hoje eu tenho uma timeline extremamente valiosa para mim.

Como sigo pessoas que não necessariamente pensam como eu, as vezes eu tenho vontade de escrever gafanhotos sobre algo ou alguém, mas aí eu me seguro porque a decisão de seguir e ler determinados indivíduos foi exclusivamente minha. Já até pensei em escrever um post listando as personalidades que sigo e que acho que vale a pena serem seguidas. Tem cantor, político, acadêmico, psicólogo etc. É bem diverso. Mas a lista de pessoas é algo muito individual, cada um tem um interesse diferente. Por isso nunca compartilhei essa lista.

Mas de tudo isso, o que me incomoda é o que o número de “likes” no Facebook denuncia o que o povo realmente consome nesta gigantesca rede social. Em vez desta poderosa rede estar sendo usada mais vigorosamente para fazer as pessoas refletirem e discutirem como podemos transformar nossa sociedade em algo melhor, estamos nós aqui curtindo as fofocas e as efemeridades da vida. Enfim, todos amamos abobrinhas.