Em junho passado, uma comunicação de Fernando Meirelles enviada para os funcionários de sua produtora, a O2 Filmes, fez sucesso entre aqueles que produzem filmes. Com o título de “O Método – Projeto Definitivo”, a carta de Meirelles recomenda uma nova forma de trabalho nos sets de filmagem em função dos novos meios digitais que dominam a produção de filmes. Veja AQUI a carta publicada no blog da O2. Caso tenha problema de acesso (o site da O2 não está legal), encontre AQUI a essência do conteúdo da carta manifesto de Meirelles).
O contexto é muito simples. A disponibilidade de câmeras digitais de alta definição transformou completamente a forma de fazer filmes. O processo já não é mais tão caro quanto antes, não existe mais a preocupação com a quantidade do que é filmado e os diretores de hoje se sentem livres para filmar à vontade. O resultado dessa “farra”, segundo Meirelles, é a produção de um volume de material de mais baixa qualidade e uma grande dificuldade para lidar com o material gerado, que normalmente é enorme. O pessoal de pós-produção é que “paga o pato”.
Talvez isso explique o surgimento de filmes de mais longa duração nos tempos atuais. O pessoal filma tanto, que acaba forçando a barra na finalização do filme para incluir mais cenas. Aliás, pense em nós mesmos. Qualquer pessoa com uma câmera digital nas mãos produz uma quantidade enorme de fotos. A dificuldade é como armazenar toda esta produção e e depois achá-la de novo. Quantas vezes geramos fotos que nunca mais vemos depois? Se levarmos este contexto para o cinema, publicidade e TV, o problema é bem maior. O pessoal da pós-produção tem que se virar com o armazenamento e principalmente na montagem do filme. Como separar o que presta do que não presta? Como selecionar as pepitas de ouro no meio de toneladas de material produzido?
Em resumo: a produção digital não é muito mais barata. O custo mudou de lugar dentro do processo, onde o vilão é agora o processamento do material. A carta “O Método – Projeto Definitivo” é muito interessante e mostra o brilhantismo do gênio Fernando Meirelles.
Tudo isso pode ser refletido no mundo da comunicação corporativa. Há uma década, a produção do material de comunicação interna e externa nas empresas era muito mais difícil, lenta e enxuta do que os dias atuais. Era quase um trabalho de garimpagem. Hoje, as equipes de comunicação das empresas produzem toneladas de informação, de forma rápida e abundante, que é publicado em meios impressos e digitais, muitas vezes de forma online e no “calor da emoção” da notícia. Isso tudo sem esquecer o imenso volume multimídia produzido. Tudo isso é muito legal, mas nós estamos boambardeando as audiências com um volume absurdo de informação.
Diante de tanta informação disponível nas empresas, como garantir que o receptor vai realmente receber a informação mais relevante, aquela que realmente interessa? É preciso repensar “o método” de trabalho existente na comunicação corporativa. A produção indiscriminada de conteúdo não é desejável. É preciso que cada conteúdo seja pensado com antecedência e avaliado, pois nem tudo que é produzido merece entrar na “máquina de comunicação”. Em resumo, menos é mais.