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O Uber é a salvação dos taxistas

Nas últimas semanas se intensificou no país o debate Uber versus taxistas, mas acho que essa conversa pode ser a ponta do iceberg. A questão vai muito além do Uber, nós estamos discutindo a prestação e as opções de serviço de transporte dentro das cidades, esta é a discussão real por trás de tudo, e não apenas o fato do Uber ser regulamentado ou não.


O Uber é a bola da vez, mas na fila já surgem outros modelos de compartilhamento de transporte que podem colocar o tradicional serviço de táxi em risco. O Lyft, o Zaznu e a startup brasileira Tripda são exemplos de aplicativos de carona. Você baixa o aplicativo, marca para onde quer ir e o aplicativo oferece opções de motoristas cadastrados que topam dividir a corrida com você. A ideia por trás destes aplicativos, com alguma variação, é conectar passageiros e motoristas de uma maneira fácil, rápida e conveniente, para que todos possam viajar gastando menos. Cada participante da carona paga o custo.


A startup brasileira Fleety permite o aluguel de veículos particulares. A ideia é utilizar os veículos que costumam ficar parados por muito tempo e geram despesas aos proprietários. No aplicativo, o usuário pode disponibilizar o seu carro para aluguel ou procurar um carro que atenda as suas necessidades.


Daqui a pouco as locadoras de veículos poderão reclamar de que estão invadindo a sua praia. O Moovit é um aplicativo que apresenta as melhores rotas de transporte público para qualquer lugar em sua cidade. Ele compara as opções de transporte público disponíveis e oferece instruções detalhadas de todo o caminho até o seu destino.


O Easy Taxi e 99 Taxi são exemplos de aplicativos que já causaram mudanças no tradicional serviço de táxi das cidades, beneficiando motoristas e passageiros, mas prejudicando as antigas estruturas de associações e cooperativas de táxis. Estes são apenas alguns exemplos de aplicativos que estão aí e que sacodem, de alguma forma, o território protegido dos táxis regulamentados.


Segundo a excelente matéria do Fantástico (de quase 10 minutos!!) veiculada em 26 de julho, o Uber já está presente em 59 países e em mais de 250 cidades. A cidade do México foi a primeira cidade da América Latina a regulamentar o Uber, onde os seus motoristas pagam taxa anuais. Em New York, os táxis amarelos tradicionais já são minoria em relação aos carros do Uber. São 13,5 mil táxis amarelos contra 15 mil carros do Uber (dados da NYC Taxi and Limousine Comission).


O caso do Uber oferece uma oportunidade de ouro para os taxistas se conscientizarem de que a sua sobrevivência depende da sua capacidade de virarem o jogo, de começarem a prestar um serviço de melhor qualidade e criar diferenciais. Não basta ter a licença e pagar os impostos, o taxista é um prestador de serviço público, e no mundo atual só sobrevive quem prestar um bom serviço, com preço justo e competitivo.


Eu vivo no Rio e, infelizmente, o serviço de táxi na cidade é ruim. Sou usuário, portanto afirmo isso por experiência própria sem precisar recorrer a ninguém. Obviamente que existem bons profissionais, mas na maioria das vezes o serviço de táxi na cidade é roleta russa. Não desejo aqui discutir a legalidade do Uber e de outros aplicativos, como os citados acima, até porque eu não tenho opinião fundamentada sobre isso, mas o fato do Uber estar causando debates e manifestações por todo mundo já é uma indicação de que realmente ele abala o status quo. E isso é bom… muito bom.


O que a maioria dos cidadãos deseja em transporte é um serviço bem prestado, honesto, seguro, confortável e com preço justo. O Uber surge no rastro da qualidade questionável do serviço regulamentado dos táxis. Não vejo o Uber como um concorrente desleal e nem como algo do demônio, como alguns têm escrito, mas como algo que vai trazer benefícios de alguma forma para o serviço de transporte prestado para a população. Posso estar sendo simplista, mas é assim que eu vejo.


É interessante ver a declaração de Ronaldo Balassiano, engenheiro de gerenciamento de mobilidade da Coppe/UFRJ: “Não se pode prescindir de um sistema de transporte que, embora individual, atende milhares de pessoas, reduzindo o número de carros particulares nas ruas. O curioso é que 90% dos táxis do Rio utilizam algum dos 15 tipos de aplicativos de smartphones para conseguir clientes. Usam a mesma tecnologia do Uber. Não se deve impedir novas modalidades, e sim buscar regulamentá-las”.


O Uber é mais um capítulo na imensa lista de quebras de modelo que nós vislumbramos hoje na sociedade. Algo na linha do que o Airbnb vem fazendo no segmento de hospedagem, o Spotify na música, o TripAdvisor em viagens e o Netflix no entretenimento. É mais um que chega na festa a base de Extasy da evolução e da inovação de serviços. O cenário é bem simples: ou os taxistas melhoram seus serviços ou alguém vai tomar o lugar deles. É esta a discussão mais importante que deveria estar ocorrendo na comunidade dos taxistas. Existe uma mudança acontecendo na área do transporte individual e eles estão prestes a serem atropelados por esse tsunami.


É perda de tempo esperar que o Uber vá recuar em seu negócio e em seu propósito. O bode já está na sala, ninguém tira mais. Eu não estou defendendo o Uber como empresa, até porque não sei detalhes, mas eles recorrentemente não se posicionam como uma empresa de transporte. Veja a declaração da companhia: “O Uber ressalta ainda que não é uma empresa de táxi, muito menos fornece este tipo de serviço, mas sim uma empresa de tecnologia que criou uma plataforma tecnológica que conecta motoristas parceiros particulares a usuários que buscam viagens seguras e eficientes”.


Quer saber a maior ironia de todas? Os protestos dos taxistas no último dia 24 de julho deu tanta visibilidade para o caso que levou o Uber a se tornar o aplicativo mais baixado pelas pessoas neste dia de protestos no Brasil. Esta foi a primeira vez que o Uber ocupou o 1º lugar entre os aplicativos gratuitos mais baixados na Apple no Brasil desde o seu lançamento no país em 2014, segundo os rankings da App Annie. O movimento de download foi 20 vezes superior ao de dias normais.


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