Texto meu publicado no blog Foco em Gerações que reproduzo abaixo. Desenvolvi esse conteúdo com base num post já escrito anteriormente, porém aqui fui mais abrangente e agreguei novos conceitos.
O post da Eline “Mark Zuckerberg e a capacidade criativa dos jovens nas empresas”, publicado no Foco em Gerações, fundiu a minha cuca. Prá você que está pegando carona nesse assunto agora, a Eline participou de um encontro com Mark Zuckerberg, dias atrás, num evento da FGV. E quem é ele? Mark é o menino prodígio que criou o Facebook aos 19 anos de idade.
Eline apresentou muitos insights legais (não deixe de acessar o post original dela). Mas teve um que me chamou a atenção: “Mark acredita que são as pessoas autônomas, e não aquelas que estão dentro de grandes organizações, as que têm mais condições de desenvolver os aplicativos mais requisitados, exatamente porque não estão com sua criatividade cerceada”.
Essa afirmação me deixou encucado. Precisei organizar meus pensamentos para entender toda a extensão daquela frase. Posso até ter entendido errado, mas a minha leitura é que ele disse que as empresas negligenciam a capacidade criativa de seus funcionários. Isso é surpreendente, de certa forma, já que as grandes empresas se apresentam como inovadoras, falando aos quatro ventos que criam ambientes saudáveis e propícios à inovação colaborativa.
Peguei toda a quilometragem rodada que eu tenho no mundo corporativo e fui pro cantinho pensar. Eu me desafiei a pensar em possíveis barreiras, oportunidades ou tendências atuais que influenciam na capacidade colaborativa para inovação dentro das grandes empresas. E constatei que as empresas podem estar numa sinuca de bico.
O primeiro sinal é que muitas empresas já descobriram que a CAPACIDADE DE INOVAÇÃO não está somente localizada nos centros de pesquisa e desenvolvimento que possuem. A inovação pode estar em toda a cadeia, em qualquer parte da empresa, e não somente no produto: pode estar na forma como atendemos o cliente, na fatura de cobrança, na maneira como nos relacionamos com o fornecedor, em algum processo logístico, enfim, em todos os lugares. Quando pensamos dessa forma, fica fácil ver que a grande capacidade inovadora não está nos laboratórios ou nos centros científicos. Ela está dispersa em todos os cantos da empresa, dentro e fora. Existe um conhecimento escondido e latente dentro da cabeça de cada funcionário. São eles que conhecem as falhas nos processos, as oportunidades de melhoria, as demandas e as necessidades dos clientes e o potencial de oportunidades que a companhia não vê. São eles que conhecem os sonhos dos clientes.
O grande desafio é como capturar esse conhecimento disperso em toda empresa. Infelizmente, a maioria das empresas ainda não saber como fazer isso, ou você acha que a caixinha de papelão escrito “Caixa de Idéias – Deposite aqui sua”, ao lado do cafezinho, ajuda em alguma coisa?
Uma outra importante tendência é a GLOBALIZAÇÃO das empresas. Esse é um desafio e tanto. Uma empresa para se tornar global tem que pensar seus processos e métodos de maneira inovadora. Ou seja, para globalizar tem que inovar. Por outro lado, depois que as empresas começam a se tornar verdadeiramente globais, a busca pela padronização ganha dimensões enormes. Estamos falando de padronização de processos, sistemas, ferramentas de trabalho, metodologias, produção, etc, etc, etc. Todo esse ambiente superpadronizado e controlado tende a criar fortes armadilhas para um ambiente mais livre, que considero premissa básica para a criação de um clima colaborativo e inovador dentro das empresas.
Ou seja, as empresas vivem um conflito de personalidade. Elas querem ser globais, com processos, sistemas e metodologias padronizadas, de classe mundial, mas também querem ser inovadoras, com funcionários pensando diferente, sendo criativos e questionadores. É quase um dilema shakespeariano. Padronização e criatividade parecem antônimos. Seguir a regra ou questionar a regra? Pensar diferente ou pensar igual? Ser ou não ser.
Aqui cabe um parênteses: é óbvio que a criatividade num ambiente global e padronizado é possível. Até porque é desejável que o processo criativo e de inovação ocorra em bases estruturadas dentro das empresas, sem isso seria o caos, né? Mas não é fácil.
Existe um outro fenômeno rolando nos EUA e que vai contaminar o resto do mundo. A recessão, que pegou os EUA pela proa, abalou a forma como os americanos encaram o trabalho. Praticamente todas as empresas norte-americanas sofreram e continuam sofrendo no cenário atual econômico, as demissões foram muitas e continuam na pauta do dia. Pouco tempo atrás, ter um emprego fixo em uma grande empresa era sinônimo de segurança. A percepção atual é que estar empregado pode se tornar uma experiência preocupante. Ninguém sabe o que pode acontecer no dia seguinte. Já existem sinais nos EUA de pessoas que estão questionando o valor de serem assalariadas. Muitos querem trabalhar por conta própria ou para alguém em quem confiam. O EMPREENDEDORISMO vem surgindo com força total. Essa nova tendência tem um impacto direto nas empresas, que terão que aprender a lidar com esse novo perfil de trabalhador, saber atraí-lo, contratá-lo e mantê-lo motivado. E todos sabem que os funcionários com o perfil de empreendedor são os mais questionadores e criativos, características importantes para inovação.
Soma-se a isso a CHEGADA DA GERAÇÃO Y AO TRABALHO.
A tradicional relação entre chefe e empregado nas empresas sempre foi baseada num modelo autoritário. O chefe manda e o empregado faz. A nova geração é a geração do diálogo, da democracia e da COLABORAÇÃO. A imagem do gerente mandão está desaparecendo de forma acelerada. Esse novo modelo está desestruturando a relação de poder dentro das empresas, pois a figura do gerente vai mudar radicalmente na próxima década. Cada vez mais existirão gerentes de projetos ou missões, coordenando times multifuncionais, e cada vez menos existirão gerentes puramente de pessoas. A geração Y está impondo uma nova forma de trabalhar, mais colaborativa, democrática e flexível. Tudo ficará mais divertido quando a geração Y chegar nas posições de gerência e comando dentro das empresas. Quero ver no que vai dar a soma X + Y.
Resumindo toda essa novela, eu citei quatro tendências que influenciam a inovação colaborativa nas empresas: – mudança no conceito do que é inovação; – globalização das empresas; – busca pelo empreendedorismo; – chegada da geração Y ao mercado de trabalho – um novo conceito de colaboração.
Qualquer teoria a respeito de inovação colaborativa nas empresas tem que considerar essas vertentes. Fica evidente que globalização, empreendedorismo e colaboração esbarram nas engrenagens de burocracia, excesso de processos, impiedosa hierarquia e impessoalidade que existem nas grandes empresas. Só conseguirão atrair os grandes talentos aquelas que conseguirem estabelecer um ambiente interno criativo, informal, motivador e colaborativo. Nessas horas as pequenas empresas saem na frente, pois seu tamanho e perfil favorecem essa cultura empresarial mais solta e empreendedora. O frescor da impessoalidade e camaradagem dentro das empresas menores é muito mais evidente do que nas grandes corporações.
Enfim, junte tudo isso e veja o nó que o mundo empresarial terá que desatar nos próximos anos.