Sou diretor de uma grande empresa. Para os meus pais eu sou motivo de orgulho. Para os meus amigos eu sou um afortunado cheio de dinheiro pois sou executivo de uma “multinacional”. Para os meus antigos colegas de faculdade eu sou um exemplo de quem teve uma carreira de sucesso. Para os meus pares na empresa eu sou aquele que sempre ajuda. Para os meus subordinados eu sou alguém que vai resolver todos os seus problemas. Para os meus filhos… bem, para os meus filhos, eu sou da geração passada.
Para todos os citados acima eu quero avisar que sou igual a eles. Nadica de diferente! Tenho inseguranças, incertezas, vontade de sair mais cedo do escritório, curtir a minha família, dor de barriga, dúvidas de todas as espécies e toda a sorte de sentimentos, que muitas vezes parecem incompatíveis com um “executivo de empresa”.
Aviso também que o meu dia tem o mesmo número de horas que os seus. Exatos 24 horas! Insuficientes para o meu lazer e insuficientes para tudo que a empresa espera que eu faça. Eu também gosto de ver televisão, estar com a minha família, viajar e dirigir o meu carro olhando a paisagem, e não participando de “conference calls” durante o trajeto. Digo isso pois existe a percepção de que ser chefe significa estar sempre disponível . E não somente disponível, mas feliz, entusiasmado e com respostas para todas as perguntas.
O mundo corporativo as vezes é hostil. Quanto mais você cresce e conquista espaço nas organizações, mais espaço você perde no resto. Tudo isso no mesmo dia de 24 horas. Saber equilibrar o “desequilibrável” e tirar o melhor das pequenas coisas é uma forma bacana de trazer mais satisfação e sentido de realização na vida.
As revistas de administração adoram tratar os executivos como heróis. Muitos são tratados como ícones e modelos de inspiração para os que iniciam a vida profissional. Muitas vezes as fraquezas e o lado humano desses ícones são tratados de forma marginal, ao largo de sua biografia e vida, o que é muito ruim pois criam um mundo de “faz de conta”, estabelecendo padrões que não existem no mundo real. Pena isso. Os executivos são seres de carne e osso, também frágeis e inseguros, quase sempre solitários.
Uma vez li que quanto mais alto o executivo em seu posto de liderança, mais solitário ele é. Eu acredito nisso. Executivos, de forma geral, são seres cheios de conflitos, que muitas vezes tomam decisões difíceis e duras porque tais decisões não podem ser compartilhadas. Muitas vezes, por trás daquela casca de segurança e altivez, mora um cara frágil e não realizado. Não quero generalizar, mas creio que o número desses casos pode ser maior do que imaginamos. Super executivos bem sucedidos, muitas vezes, também são seres muito solitários.
Por outro lado, no outro lado da balança, aparece a indescritível sensação de estar construindo algo, de liderar equipes e inspirar, ser mentor, dar esperança e desenvolver equipes. Não existe nada igual a capacidade de influenciar, transformar e construir. Esse é o alimento dos verdadeiros líderes, que muitas vezes solitários, encontram aqui a fonte de suas energias e paixão. Estes são seres que iluminam os outros, que sorriem numa reunião pesada ou que perguntam se o seu filho passou na escola antes de tomar uma decisão de milhões. Nessas horas descobrimos que somos “quase” todos iguais.
A ironia é que o líder mais próximo das pessoas, aquele mais disponível, transparente e aberto, é também aquele mais demandado. Imagino o retrato de uma balança onde vamos colocando cada vez mais pesos de ambos os lados. Saber manter essa balança equilibrada é uma arte, especialmente se considerarmos que no fim de tudo ali reside um ser humano, com suas frustações e sonhos, fraquezas e virtudes.
Enfim… devaneios de virada do ano…