Há muitos anos atrás, num dos meus primeiros empregos, trabalhei numa empresa que estava se expandindo e contratando muita gente. No dia da minha entrada iniciaram comigo mais dois novos colegas de trabalho. Um deles se chamava Roberto. Ficamos sob a gestão de um mesmo gerente, que comandava um grupo de aproximadamente 20 pessoas. O clima era bom e o gerente parecia ser uma boa pessoa.
Em menos de três meses eu percebi que Roberto era um sujeito complicado. Ele não gostava de trabalhar, era pessimista de carteirinha, sempre achava que o copo dele estava mais vazio, sempre reclamava de tudo, falava mal de todos, mostrava insatisfação com a empresa, nunca demonstrava entusiasmo e influenciava a todos. Quando ele chegava de manhã no escritório, raramente dava “bom dia”, parecia que carregava uma nuvem preta na cabeça, pois ele incendiava o grupo e todos entravam na pilha da insatisfação e pessimismo dele. Ele era realmente uma pessoa desagradável.
Para resumir a história, Roberto transformou o grupo num time de infelizes trabalhadores. Após um ano de sua entrada na empresa, quase metade do grupo pediu demissão do emprego. Foi uma debandada. Todos, inclusive a gerência, tinham consciência da influência devastadora de Roberto e de que ele era a principal razão de tudo que estávamos passando. Mesmo assim, mesmo após todos os danos e a destruição do grupo, a empresa ainda levou meses para tomar a decisão de demitir Roberto. Aquela foi uma lição aprendida.
Por que as empresas demoram tanto tempo para demitir alguém incompetente e perverso para o grupo? Por que as empresas aceitam conviver com péssimos influenciadores? Por que os gerentes procrastinam tanto na hora da tomada de decisão de uma demissão?
Segundo Lucy Kellaway, os gestores adiam essa decisão por três motivos: eles se apegam a vã esperança de que a pessoa vá mudar (ela quase nunca muda), eles relutam em admitir que fizeram uma escolha errada, e eles recuam da situação desagradável que é demitir alguém.
Depois da experiência descrita acima, recebi uma oferta de emprego e fui para outra empresa. Após meses de trabalho, a empresa contratou um novo diretor, vindo de fora da organização. Lembro que em apenas dois dias ele demitiu um analista financeiro que tinha muito tempo de casa. Perguntado por que ele demitiu aquela pessoa tendo apenas dois dias de convivência, ele respondeu: “Como posso conviver com um analista financeiro que se diz sênior, mas não responde às perguntas e não sabe usar Excel?” Nunca mais esqueci essa resposta dele.
Desde então eu aprendi a mapear muito bem quem são os bons e os maus colegas no trabalho e, principalmente, quem são os principais influenciadores da equipe. Com o passar do tempo eu desenvolvi uma teoria simples, porém não é propriamente uma novidade, pois já vi versões variadas do meu conceito. Ao longo de 20 anos como gerente fui testando e desenvolvendo o conceito. Incrivelmente ele funciona na maioria das vezes. Chamei esse conceito de 2-6-2.
Num grupo de 10 pessoas no trabalho, é possível identificar duas supermotivadas, otimistas e para cima. Por outro lado, no mesmo grupo, somos capazes de identificar duas pessoas rabugentas, pessimistas, que influenciam negativamente o grupo e que estão sempre para baixo. Por fim, existem seis pessoas que são observadoras, influenciáveis e que às vezes são influenciadas pelos positivos, ora pelos negativos.
O conceito 2-6-2 pode ter variações numéricas, mas quase sempre é infalível. O sucesso da equipe vai depender de quem tem mais poder e influência sobre as pessoas observadoras. É nesta hora que o gerente tem que atuar, privilegiando e destacando os positivos. Se isso acontecer, a equipe se contagia e o espírito positivo prevalece dentro do grupo. Camaradagem, parceria e entusiasmo passam a imperar se o pêndulo do grupo estiver favorável. Cabe ao gerente saber identificar esses perfis positivos e dar maior espaço para eles no dia a dia.
Não estou dizendo que ter pessoas menos positivas seja de todo ruim. Muitas vezes pode ser interessante ter alguém mais crítico, mais duro e questionador dentro do grupo, alguém menos confiante e até, às vezes, uma espécie de ovelha negra. Mas este não deve ser o espírito reinante. Pense nisso. Pense no grupo onde trabalha e faça o exercício. Escolha estar do lado do colega certo em seu trabalho. Fique perto de quem passa boa energia, tem espírito de time e acredita numa sociedade melhor. Vai ficar bem mais fácil trabalhar assim.