Texto (adaptado) publicado no blog Foco em Gerações
Em 2011, completei 51 anos de vida.
Na minha adolescência, eu via TV na sala, jogava bola de gude, dormia cedo, ouvia muito meus pais para aprender com eles, mesmo que as vezes eu não concordasse com suas idéias e convicções, tinha hora para almoçar, gostava de ir na casa da minha avó aos domingos para o almoço em família e o meu círculo de amizade envolvia meus amigos da rua e meus colegas da escola.
Eu não sabia direito o que acontecia no mundo porque as notícias chegavam em conta gotas, raramente eu ficava dentro do quarto porque não tinha nada de interessante dentro dele, talvez o álbum de figurinhas da copa do mundo até valesse a pena, apesar que ele já estava meio surrado de tanto folheá-lo. Eu sofria para ir as aulas de inglês, era uma tortura. Meu sonho era me formar e conseguir trabalho numa grande empresa, para construir uma carreira segura e longa. Adorava ir ao cinema nos finais de semana e ver jogos no Maracanã. O desenvolvimento da minha personalidade e do meu cérebro foi feito assim, até aos 20 anos, num ambiente estruturado, controlado e calmo, com tempo para pensar e buscando um futuro de longo prazo. Eu passei a maior parte da minha vida construindo o futuro. E ele ainda não chegou pra mim, apesar dos meus 51 anos.
A adolescência do meu filho é um “pouco diferente”. Ele não vê TV. Aliás, TV é uma espécie de música ao fundo. Quando ele se interessa por algo na TV, ele levanta a cabeça do computador para olhar. Ele se relaciona com centenas de “amigos” ao mesmo tempo, via redes sociais. Amigos podem estar próximos ou longe, não importa muito, podem até ser desconhecidos. Ele não têm idéia do que é bola de gude e nem tem interesse em saber. Nunca dorme cedo e sempre acorda tarde.
Eu escuto muito o meu filho pois aprendo muito com ele, normalmente ele está muito mais informado e sabedor do que “rola” do que eu. Raramente almoçamos juntos, nunca dá tempo, o lance é levar a comida para dentro da toca. O que é a toca? A toca é o quarto dele. É lá que as coisas acontecem. Almoço no domingo na casa dos avós nem pensar. Não tem tempo.
Ele sabe tudo que acontece no mundo, falando com dezenas de amigos ao mesmo tempo em suas máquinas de se relacionar, que pode ser o notebook, o smartfone, o tablet, ou qualquer coisa que se conecte à internet. Faz tudo ao mesmo tempo. Álbum de figurinhas? Só se for na internet. Não tem a menor pretensão de conseguir um emprego tradicional numa grande empresa. Pensa em fazer algo diferente. Ele vai muito raramente ao cinema. Por que, se tudo que ele precisa está na telinha dentro do quarto? Tem facilidade de falar línguas e aprende muito por conta própria. Tem personalidade de empreendedor, gosta de riscos, pensa a curto prazo e é multitarefa. Seu cérebro de adolescente está sendo desenvolvido nesse ambiente aparentemente caótico, multi estimulado e inquieto. Ele não está preocupado em como será a sua vida aos 40 anos. O futuro para ele se resume a poucos anos. O futuro dele é agora.
Então?
Qual dos dois cérebros tem chance de ser mais brilhante, criativo e estratégico?
Quem vive uma vida mais estimulante, diversa e divertida?
Quem deve ouvir quem num relacionamento entre ambos?
Ainda tem dúvida? Passa lá em casa pra ver…