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RP 2.0 – Uma experiência de jornalismo multimídia

Em julho de 2005, Edu Vasquez postou em seu blog um texto cujo título era: “O Press-Release morreu?” Passados mais de dois anos, acho incrível como o conteúdo do post continua atual.

Em 2007, Thiane publicou um artigo muito pertinente. Falava em assessores de imprensa preguiçosos e PR 2.0.

Agora caminhemos para o post “O papel das Relações Publicas no Mundo Digital” publicado no blog da Thiane em set de 2008.

Ler os três posts juntos faz a gente pensar.

O que mais assusta nisso tudo é que o tempo passa, o tempo voa, mas o press-release tradicional, “velho de guerra”, continua numa boa. Ou seja, as assessorias insistem na fórmula do press-release pois ainda acham um método eficaz e mais conveniente de fazer RP.

Temos debatido muito isso dentro da IBM.

No final de 2007, nós decidimos fazer uma experiência. Fizemos algo diferente. Nós chamamos a experiência de “webrelease”. Criamos um “release 2.0” a respeito de novidades de tecnologia (mais focado em hardware), contemplando o que anunciamos no ano que se encerrava e com uma previsão das tendências para o ano seguinte. O webrelease incluía links interessantes, com um vídeo de um executivo nosso importante e muitas mensagens em formato multimídia.

Ou seja, criamos um release bem diferente do tradicional, realmente com conteúdo interessante, inovador e muito rico. Quando lançamos nesse projeto, nós não estabelecemos nenhum objetivo claro em termos de resultados. O objetivo maior era experimentar algo novo e sentir a receptividade.

E o resultado?

O fato é que recebemos bom feedback de vários jornalistas. Eles gostaram da proposta, pelo menos foi o que alguns nos disseram via email. Quase nada foi publicado daquele conteúdo que enviamos. Fiquei surpreso com o pouco entusiasmo dos nossos jornalistas mais chegados. Mas quero lembrar que não estabelecemos objetivos para a iniciativa.

De forma geral, o grupo de comunicação que trabalhou no projeto achou o resultado bom. A minha avaliação foi um pouco diferente. A minha percepção é que a maior parte dos jornalistas prefere informação objetiva. Algo no estilo: “Fala o que tem que falar e pá-pum! Nada de lero-lero”. O nosso webrelease tinha vários links e conteúdos. Acho que isso é meio “lero-lero” para muitos jornalistas. É quase como dizer para eles: “Olha, eu tenho muita coisa para dizer, eu tenho tudo isso aqui, dá uma pesquisada e veja o que te interessa”.

Infelizmente, a maior parte do jornalismo opera no estilo “máquina de moer carne”, ou seja, não tem muito tempo para pesquisar e fazer coisas muito elaboradas. Será que estou sendo injusto? Conversei isso com meu grupo e eles acham que estou sendo radical nessa linha de raciocínio. O fato é que a experiência evidenciou prá mim que a maioria dos jornalistas quer informação resumida, bem pragmática e factual. Ou seja, eles querem ainda o press release… mas não para publicar o release e sim para usá-lo como pauta.

Não estou falando que os jornalistas são preguiçosos. Aliás, é uma covardia quem fala isso. Obviamente que existem alguns jornalistas displicentes na tarefa de buscar e apurar fatos, mas a maioria sofre mesmo é com a pressão do tempo e do editor. O volume absurdo de informação com que bombardeamos (nós, empresas!!) os jornalistas, todos os dias, é matador. Eles recebem toneladas de releases e gastam uma parte considerável do dia garimpando as pepitas de ouro no meio de um monte de pedras que encontram em suas caixas de entrada. É garimpagem mesmo. Parte do problema somos nós, das assessorias das empresas, que não temos piedade no uso da tecla “send”. Por outro lado, parte da culpa vem dos próprios jornalistas, que não tem tempo para (ou não querem) pesquisar e fazer matérias mais elaboradas. Ou seja, o binômio pressa-comodidade tem maior peso na balança.

Enfim, diante desse imbróglio, eu ainda vejo dificuldade em fazer da tal RP 2.0 uma realidade em nosso dia a dia. Não por parte das ferramentas, mas sim por conta da dificuldade de entender exatamente o que os jornalistas desejam e o que as empresas podem ganhar ao entrarem nessa jornada. Para quem se interessa pelo assunto, vale a pena ler o post do último Newscamp que dá uma exata noção dessa dificuldade.

Para apimentar mais esse cenário, discute-se muito sobre o futuro dos jornais, tendo em vista que existe uma transformação evidente em curso. Muitas mídias já estão abandonando sua versão impressa e adotando exclusivamente a online. Na verdade, a discussão do futuro do jornalismo vai além da mídia. O Luis Nassif é um que pôe lenha na fogueira quando fala nesse assunto. Vale ler esse post. Enfim, não dá para falarmos de RP 2.0 sem pensarmos em “novos” profissionais de comunicação e em novos conceitos de jornalismo.

Voltando ao RP 2.0…
No evento 2º. Fórum de Comunicação do Governo Federal, a Patrícia Moreira (editora de política, economia e Brasil) do Jornal da Tarde, falou sobre isso. Ela disse que as redações estão inundadas de emails com releases e sugestões de pauta. Um jornalista no evento comentou que, recentemente, perdeu uma coletiva importante pois o convite foi enviado unicamente via e-mail e ele não viu. O convite ficou perdido no meio de duzentos emails não lidos. O assunto era muito importante. O jornal e a empresa se sentiram prejudicados com o ocorrido. Por fim, Patrícia foi clara ao microfone: “– Se você tem algo relevante e diferente, o melhor é usar a velha fórmula: pega o telefone e liga”.