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Se não se cuidar o LinkedIn se transformará em um novo Facebook



O meu período sabático de quase dois anos me afastou de muitas coisas, o que me criou uma visão muito mais realista e crua destas mesmas coisas. Uma delas foi o LinkedIn.


Cabe dizer que sou fã apaixonado do LinkedIn, desde o início da plataforma. Tive a rara oportunidade de viver todos os ciclos de sua existência até o momento atual. Em sua grande maioria, as transformações, intencionais ou não, implementadas pelos gestores da plataforma, foram muito boas. Tais mudanças transformaram o LinkedIn, de uma incipiente rede social de busca de empregos e relacionamento profissional para uma plataforma social que envolve dimensões importantes do mundo profissional e dos negócios. Na minha opinião não existe plataforma social mais espetacular do que o LinkedIn, que têm credibilidade e seriedade, com robustez e conteúdo de valor. Dito isto, me sinto mais a vontade de externar os meus pontos de vista. 


Em julho de 2017, Rodrigo Steter Rocco publicou um artigo com o título: LinkedIn vai virar Facebook? Em seu artigo (vale a pena ler!), Rodrigo escreveu: 


“Hoje vejo uma onda de gourmetização de carreiras onde a pessoa está muito mais preocupada em vender um “cartão de visita” do que mostrar como realmente as coisas são. Um fenômeno muito idêntico ao que acontece no Facebook onde todos possuem uma vida feliz, cheia de amizades e aventuras. No Linkedin acontece o mesmo fenômeno, mas com outro foco. Todos possuem altas competências, são estratégicos, corporativos com visão de longo prazo para “agregar valor ao negócio”

O parágrafo acima, escrito há mais de 4 anos, continua mais atual do que nunca.


No mesmo ano de 2017, o artigo chamado Linkedin não é facebook… Por favor, Entenda isso! escrito por Carlos Rodrigues de Souza, também faz um alerta sobre a perda de foco no LinkedIn. Ele termina o seu artigo fazendo um pedido que transcrevo aqui: 


Por favor, compartilhe este artigo se você também espera que Linkedin vá manter fiel às suas raízes profissionais. Se eu for um usuário ativo diariamente aqui, quero estar com profissionais e ajudar a tornar os outros profissionais mais produtivos, bem-sucedidos e atualizados”

Em março de 2019 publiquei um longo artigo chamado O momento da verdade para o LinkedIn. Eu me orgulho muito deste artigo, porque ele foi construído a partir de centenas de comentários que recebi sobre a plataforma do LinkedIn. Portanto, o artigo deveria ser assinado por mim e por todas as pessoas que colaboraram comigo (no final do artigo eu citei a lista enorme dos colaboradores). 


Neste artigo, que eu adoraria que você lesse (tenho certeza que você vai gostar!), eu faço uma análise profunda do momento vivido pelo LinkedIn, do seu potencial, dos riscos e da explosão de “conteúdos goumertizados” (“roubei” o termo do Rodrigo Steter Rocco) que poluem a nossa timeline.


No artigo afirmo que o LinkedIn vive o seu “momento da verdade”, afinal o ponto de inflexão da rede é incontestável. Por outro lado, cada um de nós, como usuários da rede, também vive o seu “momento da verdade”. O que vamos fazer do LinkedIn, no que ele vai se transformar, depende de cada um de nós, individualmente.

Nos meus quase dois anos de sabático, eu praticamente me retirei da rede. Na minha cabeça, o meu sabático teve início em 01/03/2020. Eu era muito ativo no LinkedIn, com produção regular de conteúdo, mas decidi parar por conta de uma grande transformação pessoal da minha vida, que afetou diretamente a minha vida profissional. Eu escrevi sobre isso no artigo Em busca de propósito, publicado em março de 2020, que teve uma explosão de leitura e comentários. 


A seguir, publiquei mais 2 artigos contando a evolução de minha transformação. No último artigo, publiquei o seguinte parágrafo:


Esse é o meu último artigo publicado no LinkedIn. A partir daqui, as minhas publicações (se houver) serão apenas no meu blog. Faço isso porque minhas histórias fogem ao conteúdo que as pessoas no LinkedIn procuram, cujo interesse é profissional. E eu estou, nesse momento, abdicando da minha vida profissional passada. O meu blog é www.maurosegura.com.br – Você pode assinar o blog, basta escrever o seu email no campo ´Assine a newsletter´. Obrigado a todas as minhas conexões e amizades que fiz no LinkedIn. Foi maravilhoso, mas agora estou mudando de direção. Muito sucesso, saúde e paz para todos”.


Ao publicar este último artigo, eu recebi uma enxurrada de mensagens, vindas de todos os lados, dizendo que eu deveria seguir publicando novos artigos no LinkedIn contando sobre o meu momento pessoal, de como eu estava lidando com tudo, os meus dilemas emocionais, transformações e novos caminhos. Eu recebi todas aquelas mensagens, entendi o contexto, mas mantive a convicção de que o LinkedIn não deveria ser repositório dos meus temas pessoais e aleatórios. Eu, definitivamente, havia congelado a minha vida profissional, portanto eu não deveria continuar a postar coisas no LinkedIn que não houvessem conexões evidentes com o mundo do trabalho.


A grande maioria das mensagens que recebi diziam que a vida pessoal não está dissociada da vida profissional, que elas coexistem e que, portanto, ao compartilhar a minha experiência pessoal, eu estaria ajudando muitas pessoas a refletirem sobre as suas próprias vidas. Sim! Isso fazia muito sentido para mim, já que a minha transformação pessoal envolvia perdas e lutos, o que infelizmente tem sido comum em anos de pandemia. Mesmo assim, eu mantive a decisão de me afastar do LinkedIn naquele período e publicar meus conteúdos unicamente no meu blog. A única mudança de decisão que tive foi publicar uma chamada no LinkedIn para cada novo artigo publicado no meu blog. Quem se interessasse pelo tema, bastaria dar o click no link.


Pensei nos vários artigos que eu publiquei ao longo do tempo. Um deles, que obteve enorme índice de leitura, foi o artigo que escrevi, anos atrás, contando sobre o meu quase burnout. Ele é, essencialmente, um artigo de cunho pessoal, que as pessoas se identificam muito, já que todos nós nos sentimos pressionados pela vida insana que vivemos atualmente, onde estamos continuamente assoberbados de tarefas e sempre correndo atrás de novas conquistas. Tenho consciência de que, na maior parte dos casos, o burnout é causado pela insatisfação da vida profissional. Portanto, é um tema pessoal, mas com origem no lado profissional. 


Estar ausente do LinkedIn durante todo esse tempo me permitiu ver a floresta e não ficar olhando somente as árvores. Fiquei fora durante vários meses e, ao longo do tempo, fui voltando lentamente. Consegui identificar um salto enorme na poluição da minha timeline, envolvendo conteúdo patrocinado, muito conteúdo de autoajuda, muito conteúdo superficial, com excesso de histórias de sucesso e parabéns, vídeos divertidos e aleatórios, muitos compartilhamentos fúteis, sem agregação de conteúdo de valor ou propósito. Estes são sinais claros de que o crescimento vertiginoso do número de usuários participantes do LinkedIn carrega, indiscutivelmente, uma popularização e massificação do conteúdo.


Um fato me chamou muito a atenção. Identifiquei uma explosão dos tais “embaixadores” de marca na minha timeline, o que não é ruim, porque eles levam as informações e as notícias das organizações. O que é ruim é que os tais “embaixadores”, em sua maioria, publicam mensagens ufanistas e raras histórias verdadeiramente pessoais de aprendizado e desenvolvimento. Em sua maioria, infelizmente, os “embaixadores” estão divulgando conteúdos institucionais da empresa, com pouca autenticidade e pessoalidade. Isso comprova que as empresas estão usando, massivamente, o LinkedIn como um canal de comunicação, motivando seus empregados e colaboradores para participarem da rede. Cabe falar que estão ocorrendo situações constrangedoras com muitas empresas grandes, onde seus funcionários publicam conteúdo notadamente de comunicação interna, direcionada para os seus colegas de trabalho, com linguagem e acrônimos internos, como a se a rede social fosse uma rede social interna da empresa.


Apesar destes movimentos massivos dentro da rede, o LinkedIn continua sendo a melhor rede social do mundo… é a rede que vale a pena entrar diariamente e investir bons minutos de relacionamento e consumo de conteúdo. Certamente cabe aos administradores e gestores da plataforma identificarem tais tendências e atuar na criação de mecanismos que preservem o valor da rede. É impossível imaginar tal rede sem mecanismos poderosos de gestão de conteúdo, caso contrário o caminho do LinkedIn será certamente entrar em um processo de “facebookização”.

Termino o artigo, repetindo o que escrevi no meu artigo de 2019, pois ainda continuo pensando exatamente do mesmo jeito.


O LinkedIn do futuro depende dos minutos que cada um de nós investe nessa rede: do que consumimos, do que curtimos, de quem seguimos e, principalmente, do que publicamos. O resultado do LinkedIn será o resultado da somatória das nossas participações individuais. Portanto temos uma “hora da verdade” individual diante de nós. Entender isso e ser um agente positivo nesse processo é fundamental.


Vejo o meu investimento de tempo e participação no LinkedIn como um projeto de longo prazo. Estou atento à qualidade do que consumo e publico, com consistência, regularidade e com uma preocupação em compartilhar o que julgo de melhor do meu conhecimento e experiência. E isso não inclui somente boas histórias, mas também erros, insucessos e aprendizados.


Não pretendo ser um guru e nem busco notoriedade no LinkedIn, mas quero fazer parte do lado brilhante da rede, aprendendo e consumindo o melhor que essa rede oferece.



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