Semanas atrás, um amigo me ligou e disse que queria falar comigo pessoalmente. O encontro demorou um pouco para sair, mas acabou rolando dias atrás. Ele trabalha numa grande empresa, que tem uma marca muito conhecida e que muitas vezes já apareceu na lista das “Melhores Empresas para se Trabalhar”. Dado este contexto, o papo dele me surpreendeu.
Ele disse algo do tipo: “Estou desmotivado no trabalho. Não vejo oportunidade de crescimento onde estou. A pressão está enorme. O meu chefe não me dá atenção. A empresa prefere contratar gente nova em vez de investir no pessoal interno mais antigo. O salário está achatado. Quase não recebo treinamento. Estou totalmente desmotivado”.
Olhei firmemente para ele e a minha primeira reação foi: “Então o que você fazendo ainda lá? Vai embora. Vai procurar sua realização”. E ele, olhando cabisbaixo, virou para mim e exclamou: “Mas eu adoro esta empresa. Não consigo me ver em outro lugar”.
O papo durou toda a noite. E constatei que se tratava de um amor não correspondido. Ou melhor, de um casamento que precisava ser revisto. O meu amigo se sentia traído pela sua empresa querida.
Uma relação de trabalho não é, ou pelo menos não deveria ser, uma relação emocional. As empresas contratam trabalhadores para prestar um serviço, que são remunerados e compensados conforme a sua performance e comprometimento. O mesmo se passa com consumidores, que pagam o que acham justo por determinado produto ou serviço. Mas a vida não é tão racional assim. Os trabalhadores, bem como os consumidores, desenvolvem relações de paixão, amor e ódio com as empresas. Se tornam ferrenhos admiradores ou inimigos das empresas em função das experiências e percepções acumuladas.
O chato disso tudo é que muitas empresas têm dificuldades para identificar e entender essa “relação emocional”, e a grande maioria não sabe como capitalizar todo esse potencial emocional acumulado no perfil de trabalhadores e clientes que existe em cada um de nós. Mais difícil ainda é ver as empresas entrando nas redes sociais para “discutir a relação” com seus funcionários e clientes.
A dinâmica moderna do mundo corporativo, a chegada da geração Y, a volatilidade atual dos empregos e muitos outros fatores afetando as empresas estão gerando um monte de trabalhadores frustrados como o meu amigo. A nova geração de funcionários não demonstra o mesmo “pacto emocional” demonstrado pelos trabalhadores mais antigos. Eu não estou lamentando aqui, mas apenas citando uma constatação.
A mensagem parece simples. Quando algum amigo seu procurar você falando aquilo tudo que meu amigo disse, eu sugiro você fazer o seguinte… Fique de frente para ele, olhos nos olhos. Pegue os dois braços dele e sacuda muito, mas muito mesmo, bem forte, pra despentear o cabelo, dizendo: “Sai desse corpo que não te pertence. Vai procurar o seu caminho e seja feliz!!!”