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Um dia histórico: Quando as redes sociais pararam um país


Hoje foi um dia histórico no Brasil, daqueles que vamos ler nos livros e ver nos filmes no futuro. Manifestações populares de grande proporções e impactos ocorreram em várias cidades do país. Estudantes e jovens que participaram das passeatas contarão, no futuro, para seus filhos e netos, que foram às ruas para tentar mudar o destino do país. Uma sensação de orgulho, propósito e esperança se misturaram nos corações e mentes, daqueles que participaram nas ruas ou dos outros milhões que participaram silenciosamente assistindo a tudo em suas TVs e computadores.

Mas existe um outro contingente silencioso, cujo silêncio é quebrado pelo som das teclas, que toma a forma de um tsunami gigantesco, transformador e mobilizador. Estou falando das redes sociais. Milhões de pessoas conversam, debatem e influenciam outras nas principais redes sociais do país. Pessoas se juntam, se conhecem e trocam ideias. Existe uma juventude mobilizada que ganha corpo e força por trás dessas fantásticas estruturas sociais. O incrível é saber que o governo e parte da sociedade não conseguem entender a capacidade e a força que surgem dessa nova forma de união e mobilização coletiva. É algo escondido, traiçoeiro e silencioso, que a geração mais antiga, que governa o país, não consegue vislumbrar, e muito menos entender.

Onde isso vai dar? Eu não sei. Só sei que é mágico ver grupos de pessoas se juntando em busca de um sonho comum. Nunca na história da humanidade existiu uma plataforma democrática, ágil, pervasiva e popular como as redes sociais de hoje. Estamos diante de uma revolução social que pode ajudar a construir uma nova sociedade.

Seria impossível a ocorrência dos movimentos de hoje sem as redes sociais abertas e democráticas. O que será que ainda vem por aí?

Minutos atrás, um amigo meu do Rio contou a seguinte história: — No início da tarde, de hoje, eu mandei um mensagem no facebook para o meu filho dizendo mais ou menos o seguinte: “Você saiu de casa para a faculdade e nem arrumou a cama. Mais uma vez”. Passaram-se algumas horas e depois recebi uma resposta dele, também pelo facebook: “Pai, eu estou transformando o Brasil. Arrumo a cama quando eu chegar em casa”. Eu parei e pensei: Estamos diante de uma oportunidade de transformação no país e eu preocupado com a cama arrumada…

Pequenas histórias pessoais como essa começam a surgir. São situações emblemáticas e que sinalizam um movimento realmente social. Quanto mais claro for o propósito, maior será o engajamento. Sem bandeiras de partidos, sem música do Gonzaguinha e sem palanques com caminhões de som gigantescos. O andar silencioso nas ruas, sejam as ruas reais ou as ruas das redes sociais, é suficiente.


Nesse momento, quando escrevo esse post, eu assisto o programa Roda Viva na TV Cultura. Poucos programas jornalísticos no Brasil permitem uma discussão ampla, genuína e plural de ideias. No Roda Viva não existe o certo ou o errado, existem pontos de vista. No dia de hoje (17/junho), o programa sabatina a estudante de direito Nina Cappello e o professor de História Lucas Monteiro de Oliveira. Quem são eles? São dois jovens militantes do Movimento Passe Livre, que conceitualmente foi o movimento deflagrador de todos os movimentos ocorrendo no país. O debate é sobre a onda de protestos na cidade de São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus e a situação do transporte público no Brasil. A bancada de entrevistadores é formada por pessoal de peso, especialmente jornalistas reconhecidos.

O debate está ótimo, mas melhor ainda é acompanhar os comentários e opiniões em “real time” que rolam nas redes sociais a respeito das discussões do programa. Não é sensacional isso? O programa rolando e, em paralelo, milhares de pessoas conversam simultaneamente sobre o debate, divergindo, concordando e somando outras percepções. Nesse momento, já são mais de 26 mil curtidas do Roda Viva no facebook. São centenas de comentários na página do Roda Viva na internet que cobre o debate. A hashtag #rodaviva está bombando.

Escrevo há anos neste blog sobre como as redes sociais vêm transformando a sociedade. Tenho a sensação que a partir de hoje o blog fica sem propósito. Hoje é um dia histórico no Brasil, onde as redes sociais estão no centro dessa mobilização da sociedade. Muito emocionante e, talvez, um divisor de águas.

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