Esse texto foi gerado a partir de um evento da IBM que participei.
No meio de um do painéis do evento, o meu amigo Fabio Gandour, que estava na plateia, fez uma pergunta sobre o desafio de educação no Brasil.
Imediatamente Emílio Munaro, diretor de Desenvolvimento Global do Instituto Ayrton Senna, que era um dos painelistas, tomou a frente para responder. Foi aí que ele deu um soco no estômago em todos.
Emílio disse que existem aproximadamente 60 milhões de estudantes no universo da população brasileira de 207 milhões. Segundo ele, temos uma França dentro do nosso país em número de estudantes!! Dentro dos 60 milhões de estudantes, identificamos o incrível número de 53 milhões de alunos que estão na educação básica – que vai desde a educação infantil até o ensino médio. Desse total na educação básica, 88% estão na educação pública.
Aí ele fez uma pergunta para plateia, que era formada por pessoas bem formadas e de bom nível social econômico. E ele mesmo deu a resposta em seguida: “De dez amigos seus que estudaram com você na escola, quantos deles se formaram no ensino médio? Provavelmente a sua resposta será: todos!!”
Nesse instante ele apresentou o dado que deixou todos alarmados… e tristes. De cada 10 estudantes que entram na educação pública brasileira, apenas 5 se formam na educação básica, ou seja, 50% deles deixam de estudar no meio do caminho. E daqueles que se formam, somente 30% deles têm conhecimento adequado em língua portuguesa. E apenas 10% têm conhecimento adequado em matemática.
No Brasil, de cada 10 estudantes que entram na educação pública brasileira, apenas 5 se formam na educação básica
Emílio seguiu em seu raciocínio. A tecnologia pode ter um papel transformador na educação, porque ela pode fazer a aula ficar diferente e ajudar os estudantes a não desistirem de estudar. Por exemplo, a aula de matemática passa a ter outra dinâmica e significado. E no momento que damos significado, o estudante quer continuar aprendendo. E se ele continua aprendendo, a evasão escolar diminui, afetando uma série de outros índices que atualmente são perversos, como por exemplo, a distorção idade-série que temos no país. Hoje é acima de 40%. Existem alunos de 14 anos que estão na 5a. série. Infelizmente essa é a realidade em nosso país.
Em resumo. No momento que usamos a tecnologia para transformar a educação, criamos um estímulo para fazer o estudante se motivar e seguir o seu caminho.
Foi assim, com essa simples narrativa, que Emílio Munaro deixou a plateia boquiaberta. Foi um soco no peito descobrir que apenas 5 entre cada 10 estudantes no ensino público se formam na educação básica no Brasil, e apenas 10% têm conhecimento adequado em matemática. Eu não sabia disso. Os números deram a cara do principal problema do país e mostram o abismo gigantesco no sistema público brasileiro.
A situação que vivemos no país é de difícil solução.
A menção de que a tecnologia pode ajudar a educação esbarra em uma outra realidade assustadora. Uma excelente matéria na revista Você SA, edição 241, cita uma pesquisa do Inep, instituto de pesquisa governamental ligado à educação. Em 2014, apenas 42% das escolas do ensino fundamental no país tinham rede de esgoto, e a média salarial dos professores era apenas um pouco acima de 3 mil reais – e foi pouco alterado de lá para cá. Sem saneamento básico, nem reconhecimento dos professores, parece esquizofrênico falarmos em novas tecnologias e inteligência artificial ajudando na revolução educacional.
Convido você a assistir o vídeo desse debate de especialistas sobre possíveis alternativas para sairmos dessa armadilha. Mas vai além disso, assista todo o evento “IBM School”, vai na playlist do evento e dá o play.
São quase 3 horas com substanciosas discussões sobre a reinvenção da educação através da tecnologia. Se desejar algo mais resumido, o post publicado pela Alcely Barroso apresenta um resumo de insights bacanas que surgiram no evento.
Saí de lá convencido que, ao mesmo tempo que temos que introduzir novas tecnologias e inteligência artificial na educação, a gente também precisa investir e cuidar mais da educação “natural” do estudante brasileiro.