Há 15 anos eu tive uma reunião com Sérgio Averbach, atualmente CEO da Korn Ferry para América do Sul. Naquela época ele era um dos diretores da Egon Zehnder e certamente nem se lembra de mim.
Eu fiquei impressionado com aquela reunião, ele estava me conhecendo e me avaliando para uma possível posição em uma grande empresa. Sem dúvida foi a experiência mais significativa que eu tive com um headhunter.
Averbach me deu conselhos valiosos, parecia que me conhecia há anos, ele foi preciso no feedback e saí com recomendações valiosas que aplico até hoje. Infelizmente eu perdi o contato com ele e segui a minha vida, mas o momento e os ensinamentos ficaram comigo.
Meses atrás, eu li uma matéria chamada “Atitudes que colocam em risco o futuro profissional” onde Averbach foi entrevistado. Foi muito bom revê-lo, mesmo que pelo jornal. O tema da matéria foram os estudos da Korn Ferry Internacional que mostram as competências cruciais para um executivo de alta performance e as características que podem impedi-lo de progredir na carreira.
Segundo a Korn Ferry, os 10 pecados capitais, que podem minar a carreira são:
1- “Supergerenciar” ou “microgerenciar” 2- Viver na defensiva 3- Depender de apenas uma habilidade 4- Não ser estratégico 5- Deficiência em competências chave 6- Errar na escolha da equipe 7- Falta de compostura 8- Não desenvolver o espírito de equipe 9- Ambição exagerada 10- Insensibilidade aos outros
É interessante ver esta lista. Ela me convida a olhar minha carreira pelo retrovisor. Já trabalhei em várias empresas diferentes, com perfis e culturas variadas, em bons e maus momentos de resultados, algumas sendo adquiridas, outras comprando empresas e afirmo seguramente que não existe receita de bolo. Já trabalhei com executivos de todos os tipos, alguns brilhantes. Toda essa diversidade me permite ter um ponto de vista sobre o tema.
Pode ser importante que o executivo se utilize de um dos pecados citados pela Korn Ferry para buscar determinado resultado. Em uma empresa em crise, o “microgerenciamento” pode ser uma necessidade. Numa startup, uma ambição exagerada pode ser o sonho quase impossível que empurra o time. Gerar uma competição interna no time pode ser necessário no caso de uma equipe acomodada e passiva. Enfim, cada caso é um caso, mas concordo que um executivo que busque resultados de longo prazo não pode trabalhar o tempo todo na modalidade de “micromanagement”.
Tenho quase 25 anos de experiência como gerente, este tempo me deu clareza do papel que busco como gestor. O meu estilo e minhas crenças seguem a fórmula abaixo. Confesso que algumas delas eu aprendi naquela conversa com Averbach.
1. Construa um forte espírito de equipe. O sucesso e o fracasso são de todos. Compartilhe o sucesso.
2. Trabalhe sempre com pessoas melhores que você. Elas vão puxá-lo para outro nível.
3. Monte uma equipe diversa, com pessoas que pensam diferente de você. Isto vai desafiá-lo a pensar diferente.
4. Dê liberdade para a equipe trabalhar e criar. Delegue. Solte as pessoas. Aceite o erro e o fracasso.
5. Desenvolva pessoas. Deixe as pessoas crescerem.
6. Saiba lidar com o stress. Seja educado. Trate as pessoas como gosta de ser tratado. Mantenha sempre a compostura e a calma, mesmo no olho do furacão.
7. Crie um ambiente transparente e honesto. Aceite críticas. Permita um relacionamento sadio, onde as pessoas dão “bom dia” de verdade.
8. Saiba ouvir. Compartilhe decisões. Dedique muito tempo para ouvir as pessoas
9. Reconheça. Elogie. Sorria. Mostre gratidão
10. Seja justo. Trabalhe com merecimento. Não passe a mão na cabeça de quem não merece
Resumindo, o segredo do sucesso de qualquer gestor começa pelo time que ele monta, pela sua capacidade de trabalhar com o grupo e desenvolvê-lo. Não cultue excessivamente o sucesso individual, faça isso de vez em quando, mas no dia a dia pratique o mantra de que “o sucesso é sempre de todos”. Na sociedade ultra conectada, colaborativa e social em que vivemos, o segredo do sucesso pode estar mais na sua capacidade em lidar com as pessoas do que em você mesmo.