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Terra Ronca e a minha juventude aos 63 anos

Há menos de um ano, em certa conversa, alguém nos falou de Terra Ronca. Fui à internet pesquisar e me deparei com imagens incríveis. Porém, uma foto, em especial, me encantou. Esta foto tinha um raio de luz azul e a silhueta de uma pessoa bem pequenina no canto esquerdo abaixo. A imagem conseguia transmitir a imensidão e o quão inóspito era aquele lugar. Naquele momento, em segundos, algo foi despertado dentro de mim. Pensei: “eu quero conhecer este lugar e fazer esta mesma foto, estando eu naquela posição”.


Há poucas semanas, eu e Valéria chegamos de Terra Ronca e da Chapada dos Veadeiros, onde passamos duas semanas. Cabe dizer que estas são localidades diferentes, muito distantes entre si, mas ambas se localizam no norte/nordeste de Goiás.


CAVERNAS GIGANTES


O guia nos orientou, sendo bem claro: “Procurem um lugar para se acomodar, onde se sintam confortáveis. Esta experiência será de poucos minutos. Quando eu der a ordem, vamos apagar todos juntos as lanternas e ficarmos em completo silêncio. Algumas pessoas passam bem por esta experiência, enquanto outras se sentem intensamente angustiadas. Em caso de desconforto, por favor acendam as lanternas”. Nós estávamos aproximadamente um pouco mais de 1 quilômetro adentro da Caverna Angélica.


Considerado um dos maiores complexos de cavernas e grutas da América do Sul, o Parque Estadual de Terra Ronca (PETeR) foi inaugurado em 1989 e compreende uma área gigante, de 57 mil hectares com paisagens únicas. Neste link você encontra informações interessantes sobre o Parque, que vale a pena conhecer.


Ao pesquisar sobre Terra Ronca, constatei que esta não seria apenas uma experiência extraordinária de beleza e encantamento, mas exigiria também resiliência, superação física e mental pelas jornadas extenuantes de caminhadas nada triviais, por pedras, rios, lama, passando por ambientes completamente escuros e hostis. Enfim, seria uma aventura.


As cavernas de Terra Ronca são gigantes e, muitas delas, abraçam rios que se perdem dentro da grandiosidade e da imensidão dos salões e formações rochosas que se moldaram ao longo de milhões de anos. Por isso elas são chamadas também de cavernas molhadas.


Antes de continuar o texto, convido você a ver um filme de apenas 1 minuto com uma pequena sequência de fotos (minhas!) que traduzirão melhor o que estou tentando contar em palavras.



Eu havia contratado um guia exclusivamente para nós. Seriam somente eu, Valéria e Daniel, o guia. Depois de muito pesquisar, encontrei no Daniel um guia com “o nosso jeito”. Foi assim o tempo todo, sendo Daniel um super companheiro, respeitando nosso ritmo, em plena sintonia com nossos interesses e, coincidentemente, até com nossas crenças e valores. Criamos com ele uma bela conexão.


NA ESCURIDÃO TOTAL


Éramos nós três dentro da Caverna Angélica, em nosso primeiro dia de Terra Ronca. Já havíamos caminhado por mais de 90 minutos dentro da enorme caverna (apesar de enorme, esta foi a menor caverna de todas que visitamos no Parque) quando Daniel sugeriu fazermos a experiência de desligarmos as lanternas e ficarmos em total silêncio por alguns minutos. E assim foi.


Na escuridão e em silêncio absoluto, dentro de uma caverna, longe da saída, é difícil descrever o que a gente sente. A ausência de luz e som causa grande perturbação inicial. A gente não vê nada com os olhos bem abertos, aquilo me fez pensar sobre os cegos. Depois nasce uma tentativa natural de identificar qualquer sinal de som, mas nada surge além de um provável arrastar de pés ou roçar de pernas. Depois da vivência desta ausência de sentidos, a imaginação começa a dominar mente, com a inevitável sensação de isolamento absoluto. Pulam perguntas como: o que aconteceria se as lanternas não ligassem mais? Seria possível sair da caverna nestas condições?


Esta foi uma das inúmeras experiências inesquecíveis em Terra Ronca.


OUTRO PLANETA


Além do show da natureza e da superação física, algo despertou dentro de nós com força descomunal. A sensação de que existe algo mais… energia… espiritualidade… a natureza exuberante e extraordinária tangibiliza a força divina.


Ninguém fica indiferente ao visitar as cavernas Terra Ronca 1 e Terra Ronca 2. Por diversas vezes eu tive a sensação de estar em outro planeta, algo que me transportava para outra dimensão ou lugar impossível de descrever.


No último dia de nossa viagem, nós decidimos voltar à caverna Terra Ronca 1, desta vez sem guia, ao entardecer. Obviamente que não entramos na escuridão total, ficamos apenas na boca gigante da caverna, que já é algo imenso e impiedoso, andamos até a beira do escuro total. Estávamos sozinhos, entregues totalmente àquela experiência. Passamos mais de uma hora lá. Eu e Valéria em silêncio absoluto, cada um em um canto diferente da caverna vivendo o momento, com nossas sensações e perguntas íntimas sem resposta.


Foi difícil sair de lá. A sensação de paz, contemplação e deslumbramento eram tão fortes, que nós não queríamos perder aquela sensação inebriante. Valéria dançou sozinha, imersa nos seus fones, com a inexorável sensação de estar em outro planeta.


TRANSCENDENTAL


O mundo aparentemente sem vida dentro da caverna, é repleto de vida. Quando entramos em uma floresta, é comum falarmos da exuberância e da diversidade das espécies. Porém, não imaginamos que podemos viver a mesma sensação dentro de uma caverna, mas em Terra Ronca isso acontece. O mundo dentro das cavernas é repleto de diversidade e energia. O que vemos no Salão das Velas na Caverna São Bernardo e no Salão do Raio de Luz na Caverna Terra Ronca 2 são exemplos da vitalidade que existe no mundo subterrâneo da Terra.


Por mais que estejamos preparados, rola um medo de acabar as pilhas e nunca mais sair da escuridão total. No local não pega celular, andamos sobre pedras, atravessamos rios… ficamos sujeito a acidentes, como fazer? Não existem recursos de salvamento e primeiros socorros. Isso amplifica a sensação de vulnerabilidade e fragilidade diante da natureza intimidadora que nos cerca.


Podemos encarar Terra Ronca como uma curiosidade… uma aventura… um entretenimento… um desafio físico… porém, quando vivemos Terra Ronca com a mente e corações abertos, nós saímos de lá com a sensação de que vivenciamos uma experiência única, impossível de ser reproduzida em outro local na face da Terra. O que se vive lá é transcendental.


Caverna Terra Ronca 2 - Foto de Mauro Segura

A SEGUNDA METADE DA VIDA


Eu faço parte do grupo do Helping Hands do Leading Zone (LZ), que é um grupo de profissionais muito experientes que prestam mentorias voluntárias e gratuitas de carreira e empreendedorismo - Experimente! Conheça o Helping Hands, receba sessões de mentoria gratuitas, porém valiosas para sua carreira e momento profissional, garanto que vai valer a pena!!


No grupo de whatsapp do LZ, a mentora Fabiana Galetol postou uma mensagem citando o livro “Strength to Strength – Finding success, happiness and deep purpose in the second half of life”, de Arthur C. Brooks, que foi lançado no ano passado e se tornou um best-seller do New York Times. O livro ainda não foi lançado com tradução em português.


Para entender a pegada do livro, sugiro ler a matéria chamada “Você chegou lá. E agora? Definindo ´sucesso´ depois dos 50” publicada no Brazil Journal. Ela dá uma boa ideia do conteúdo do livro, que tem forte conexão com o meu momento de vida, o que me gerou muito interesse de ler esta obra.


Basicamente o livro aborda a segunda metade da vida de qualquer ser humano… exatamente a fase que estou vivendo agora, parece que algum botão liga dentro da gente (que nunca mais se desliga) e iniciamos um inevitável processo de transformação interna.


O autor afirma que pensar na própria finitude recalibra os parâmetros da nossa existência. Ele diz que, ironicamente, encarar a vida com mais humildade e vulnerabilidade nos fortalece, podendo transformar-se em uma espécie de superpoder ao longo do tempo. Cita que, na revisão da própria existência, é comum aumentar o interesse por temas religiosos e espirituais, bem como temas filosóficos. Porém, para o autor, nada é mais importante do que criar conexões humanas mais profundas e significativas. Ele não fala apenas de família ou relações amorosas, mas também de amizades verdadeiras, levando o leitor a se refletir se tem o que chama de “amigos verdadeiros”. Por fim, concluiu, que o amor está no epicentro da nossa felicidade.


Já coloquei o livro na minha fila de leitura de livros.


Catarata dos Couros na Chapada dos Veadeiros – Foto de Mauro Segura

TEMPO QUE FOGE


A “busca por conexões humanas mais profundas” citada no livro de Arthur C. Brooks é o ponto central do poema “Tempo que foge”, de Ricardo Gondim.


Há três anos, quando eu vivia grandes questionamentos existenciais e de propósito de vida, Marcelo Medeiros, CEO do Leading Zone, enviou um poema que me causou grande impacto. Alerto que o poema é erroneamente atribuído (na web) a Mario de Andrade. O autor é Ricardo Gondim.


O link enviado por Marcelo é o poema declamado pelo jornalista argentino Sergio Lapegue. Ele nos convida a refletir sobre nossos passos assim que atingimos uma certa idade. Assista a seguir. São apenas 3 minutos de pura reflexão.



Este lindo poema se conectou como uma supercola ao meu desejo de vida. Ele parecia ler a minha alma e dava indícios de respostas para perguntas que circulavam dentro de mim. Aceitei o poema como um farol, adotando-o como uma filosofia de vida que desejaria perseguir.


Reproduzo-o a seguir, em texto:


Tempo que foge! - de Ricardo Gondim

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões em que desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.


Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.


Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembleias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.


Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.


Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando por que gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.


Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.


Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.


Ricardo Gondim, do livro “Eu creio, mas tenho dúvidas: a graça de Deus e nossas frágeis certezas. Viçosa, MG: Ultimato, 2007.


Trilha do Mirante da Janela – Chapada dos Veadeiros – Foto de Mauro Segura

O PAI DO RONALDO


A citação do livro “Strength to Strength” no whatsapp do LZ funcionou como um palito de fósforo acesso jogado no mato seco… imediatamente teve início uma longa discussão e compartilhamento de experiências e pontos de vista entre os mentores do LZ sobre esta questão da nossa “segunda metade de vida”.


Em certo momento, o mentor Ronaldo de Carvalho Pinto publicou a seguinte mensagem:


Por coincidência, ontem, eu conversava com o meu pai sobre isso. Ele estava me pedindo ajuda pois não queria mais trabalhar ou se preocupar com nada mais. Quer apenas sair por aí com minha mãe, fechar a porta de casa sem precisar pensar em qualquer responsabilidade que lhe tire minutos preciosos da sua vida. Comentei com ele que deveria ter feito isso há pelo menos uns 30 anos atrás. Ele está com 93 agora e ainda trabalha como advogado. Finalmente, resolveu mudar o ritmo da vida. Espero que ainda aproveite como ele desejar.


Aquela mensagem do Ronaldo me fez pensar muito e foi o estopim para eu escrever este artigo. Ele nem sabe disso.


O pai do Ronaldo chama-se Hildo. No início de sua vida profissional, Hildo sonhava em ser advogado, mas ele não conseguiu realizar esse sonho por vários motivos, se casou e teve dois filhos. Ele seguiu a vida e construiu uma carreira de sucesso em outra área. Perto de se aposentar, entre 50 e 60 anos de idade, ele decidiu que era hora de ir atrás do antigo sonho. Fez o vestibular para Direito e passou. Se aposentou em 1984. Formou-se e obteve seu registro na OAB em 1989, então com quase 60 anos de idade. Dois anos antes de se formar começou a estagiar. Trabalhou como advogado por mais de 30 anos, em uma sociedade, depois por conta própria, até recentemente. Neste meio tempo, ainda empreendeu abrindo uma oficina mecânica e uma padaria. Agora, com 93 anos de idade, ele faz mais uma nova mudança, decidindo parar de trabalhar. Hildo tem o reconhecimento de toda família por essa inspiradora e fantástica trajetória.


Esta linda história me gera um caminhão de perguntas.


O que despertou no Hildo que fez ele, já com quase 60 anos, perseguir o antigo sonho de ser advogado? O que alimentou sua dedicação ao trabalho por décadas, inclusive empreendendo, numa fase na vida em que a maioria das pessoas estão desacelerando? O que será que fez ele decidir por parar de trabalhar somente aos 93 anos? Que despertar é esse?


Eu vivi um “despertar” aos 60 anos. Em 2020, eu tomei a decisão de não mais seguir o caminho profissional que eu trilhava até então, como executivo de empresa, com uma suposta carreira sólida e estruturada.


Por que aquela minha vida profissional, em determinado momento, deixou de fazer sentido para mim?


A resposta, aparentemente simples no meu caso, é que eu vivi um trauma (já descrito imensamente no meu blog) e fui jogado em um contexto de forte questionamento sobre o “meu viver” e o “propósito da minha existência” na fase pós-traumática. Esta é a resposta simples e óbvia, mas não acho que ela seja uma resposta verdadeiramente precisa e completa. Dentro de mim, já havia um ser adormecido questionando muitas coisas, o trauma acelerou o processo e amplificou a voz interna que até então apenas sussurrava nos meus ouvidos.


O FAROL


No grupo do whatsapp do LZ, o mentor José Sanchez, psicólogo, escreveu:


Jung, um psicólogo das antigas e mal compreendido, quiçá por ele mesmo como, aliás, convém a um psicólogo, nos deixou uma boa analogia sobre esse tema:


“A vida se dá em duas etapas. Na primeira, que vai até os 40 anos de idade, somos como um timoneiro de um barco cujo farol aponta para a proa. É a fase concreta da vida: profissão, aquisição de bens e de competências úteis para nossa realização material. Na segunda fase, o farol vai lentamente se voltando para a popa do barco, até iluminar completamente o timoneiro. Essa é a fase subjetiva, interior e espiritual, em que os valores são distintos. Se nosso ego vai ou não participar dessa ‘conversão’, é problema dele. Se não o fizer, a vida corre o sério risco de perder seu sentido. O farol segue seu curso.”


A mensagem do Sanchez me tocou profundamente porque eu me sinto realmente assim: com o farol voltado para a popa do barco, parecendo me iluminar por completo e por trás. Esta metáfora do farol provoca uma série de analogias relevantes. Uma delas é que a sensação do farol se deslocando da proa para a popa, iluminando o timoneiro cada vez mais, precisa de tempo. É preciso o barco se deslocar, navegar no mar, lentamente, mudar de posição. No caso do ser humano, tempo significa idade. Por isso esta metáfora se mostra tão conectada com o conceito de passagem da primeira metade para a segunda metade de vida.


Uma estrada comum na Chapada dos Veadeiros ao anoitecer – Foto de Mauro Segura

BOLETOS EM DIA


Dias atrás me deparei com um post do meu amigo Luiz Serafim no LinkedIn que me identifiquei muito.


Luiz Serafim é executivo da 3M, sendo reconhecido como excepcional profissional de branding, comunicação e marketing. No entanto, seu maior reconhecimento vem de sua atuação na área de Inovação, abastecido pelo vigor e percepção que a marca 3M carrega no mercado. Serafa, como é conhecido, se tornou uma das maiores autoridades em Inovação no mercado brasileiro, muito merecidamente, plantando e disseminando seu conhecimento e experiência ao longo de décadas. Seu livro “O poder da inovação – como alavancar a inovação em sua empresa” é referência na área.


Sua mensagem no LinkedIn era de despedida e reconhecimento. Ele está fazendo uma mudança de curso de vida, saindo da 3M, depois de quase trinta anos de carreira na empresa, dedicação e conquistas. A foto anexada a mensagem é de um encontro com pessoas, provavelmente em um bar, aparentando ser um encontro de despedida.


A mensagem dele é a seguinte:


Alguma coisa devo ter feito certa na vida para merecer as mensagens mais doces e amorosas de tantos amigos. Bem que tentei escapar, mas a Layza não deixou 😀

Com cada pessoa, muitas histórias, colaborações, cocriações, emoções, aprendizados.

Alguns discursos sensíveis e depois, cada um me presenteou com uma palavra – frase que melhor me representasse em cada perspectiva. E foi uma avalanche de sentimentos fortes e bonitos. Meu amigo Romeo Busarello usou uma de suas metáforas imperdíveis em almoço recente que tivemos. Ele falou: Serafim, eu e você sempre “pagamos os boletos das Casas Bahia em dia”. A coisa volta para nós. O universo devolve em forma de carinho, confiança, respeito.

Bom, como todo mundo, alguns boletos da vida “devo ter atrasado o pagamento”. Nem sempre acertei. Certeza de minhas fraquezas e defeitos. Mas pelo jeito, na maior parte das vezes, fui feliz e andei pelo caminho virtuoso ao sentir tanta gratidão, amor, respeito, amizade…

Obrigado, pessoal. Essa manhã já entrou para a galeria dos melhores momentos da minha vida!”


Nesta mensagem, Luiz Serafim cita um amigo em comum, Romeo Busarello, que diz: “sempre pagamos os boletos das Casas Bahia em dia”. Ambos foram executivos de sucesso nas empresas em que trabalharam, professores por décadas e referências por onde passaram, sendo modelos de líderes humanos a serem seguidos.


A citação metafórica de Busarello pode ser traduzida mais ou menos da seguinte forma: “sempre fomos pessoas de boa índole, honestas, vivendo com respeito, pregando o bem, dividindo conhecimento e desenvolvendo boas e virtuosas relações humanas com as pessoas ao nosso redor”.


Meu amigo André Sodré, há mais de vinte anos, me disse certa vez (eu nunca mais esqueci, acho que nem ele lembra) algo mais ou menos assim: “Eu fico muito feliz ao pagar as minhas contas em dia, me faz bem. Eu me sinto bem e melhor a cada vez que pago uma conta”. Obviamente que a frase dele vai muito além do sentido literal e restrito da frase. André estava filosofando. O que ele queria dizer é que viver uma vida honesta, digna e virtuosa faz dele um ser humano melhor, dá paz e felicidade para viver.


Naquele mesmo dia André me apresentou o livro “A Arte de Viver”, de Epicteto, que hoje é meu manual de vida, livro de cabeceira.


Mirante da Janela ao entardecer – Chapada dos Veadeiros – Foto de Mauro Segura

CLICKS INTERNOS


Eu não pretendia escrever sobre Terra Ronca, mas ao ler o depoimento do meu amigo Ronaldo sobre o pai dele, algo explodiu em minha mente, gerando conexões da minha experiência em Terra Ronca com as diversas citações que fiz ao longo do artigo.


A minha decisão de ir para Terra Ronca foi simples. Me deu vontade de ir, me planejei e fui. Da mesma forma que estou planejado para subir o Monte Roraima em setembro próximo.


Estudar filosofia, consagrar o Santo Daime, adotar uma vida minimalista e uma série de outras iniciativas fazem parte da minha mudança intencional de curso de vida, que começou em 2020. Eu chamava isso de um “sabático pra sempre”, mas estou revendo o conceito, porque vivo uma adoção de estilo de vida e não propriamente um sabático. Esta é uma conversa para outro artigo.


Eu tenho muitos colegas e amigos que também estão vivendo com “clicks internos”, que parecem espocar em suas mentes como fogos de artifício, desejosos de uma mudança de vida. Eu, às vezes, chamo isso de “despertar”.


O pai do Ronaldo teve um “click interno” agora aos 93 anos. Provavelmente ele já vinha pensando em parar de trabalhar há tempos, até mesmo provocado pelo próprio Ronaldo, mas a decisão só veio agora. Está tudo bem ser assim. Por outro lado, nas mentorias, eu vejo jovens ao redor dos 30 anos que já estão com estes clicks recorrentes e que buscam uma mudança radical de vida a curto prazo.


ATITUDE


Independentemente da idade, o maior desafio no contexto de desejo de mudança é a atitude. Isso significa ter coragem de dar o primeiro passo, se jogar no desconhecido e, inevitavelmente, aceitar o desconforto indesejável. Também significa desenvolver desapego pelas coisas, se abrir para novas experiências, enfrentar medos e preconceitos, desafiar crenças e não se deixar subjugar pela segurança aparente de vida que vive no presente.


Tomar a iniciativa, dar o primeiro passo, se arriscar mais, se abrir para algo desconfortável… tudo isso é fácil de falar, mas difícil de fazer.


Em Terra Ronca eu e Valéria fizemos um voo de balão. Eu tenho vertigem, medo de altura, tremo que nem vara verde, mas eu fiz o voo e foi maravilhoso. Enfrentei meus medos! Valéria tem um pouco de claustrofobia e sente um imenso desconforto com ambientes fechados. Acho que é possível imaginar o quanto de desafiador foram as experiências nas cavernas para ela. Ela enfrentou os seus medos!


Nesta minha fase da vida, com o farol pela proa, me iluminando cada vez mais, eu tenho tomado algumas decisões importantes de vida.


Procuro me cercar de boas pessoas, que me alimentam e me energizam. Aquelas pessoas que não me fazem bem, eu simplesmente me afasto. Tal como dito no poema “Tempo que foge”, eu não tenho muitas jabuticabas na bacia, portanto quero viver ao lado de gente muito humana.


Eu não vou mais resolver os problemas do mundo como eu pensava antigamente, por isso agora me concentro em superar os meus próprios desafios e ajudar os que me cercam em suas superações. No que os meus braços alcançam, eu procuro fazer bem e com intensidade. Quando faço isso, eu estou dando o meu quinhão de contribuição para o mundo melhor.


Continuo pagando os meus boletos em dia. Segundo Aristóteles, são as ações virtuosas, cotidianas e diárias, que nos levam para felicidade.


Quero me conhecer cada vez mais, explorar meus potenciais e trabalhar minhas deficiências. Não com o objetivo de ser mais produtivo ou trabalhar melhor, mas para me tornar um ser humano mais humano, generoso, agregador e companheiro.


Quero fazer o que tenho vontade e não abafar os meus desejos e sonhos possíveis. Procuro realizá-los, não procrastinando, me desafiando e abraçando experimentações, buscando a diversidade e reconhecendo a grandeza do universo que tenho em minha frente. O filósofo Epicteto diz que a felicidade só pode ser encontrada dentro de nós. Portanto, trato de alimentar a minha alma.


Esta filosofia de vida que procuro seguir, incrivelmente, me rejuvenesceu. Estou completando 63 anos de vida, me sentindo mais pleno, mais entusiasmado com a vida, buscando por novas descobertas e por novas experimentações. Enfim, mais jovem. Tenho uma vida toda pela frente.




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