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Blog da Petrobras – O que pensam os editores

O “combate” entre o blog da Petrobras “Dados e Fatos” e a imprensa parece que está chegando ao fim, pelo menos deve sumir das manchetes dos jornais. Cada um cedeu um pouquinho, assim ninguém precisa pedir desculpas prá ninguém, e tudo se resolve. Mas a discussão a respeito dessa experiência vai continuar.

Os jornais não sabiam o que fazer depois que exageram na dose da reação contra o blog. Notadamente eles erraram a mão ao espernear desmedidamente em seus editoriais (veja abaixo) e reportagens. Parte da mídia ainda não entendeu que as ferramentas de comunicação 2.0 estão invertendo completamente o jogo, dando ao leitor a autonomia de buscar a informação quando e na forma que bem entender, editada ou não. E que o jornal, como conhecemos, continuará a ser um veículo importante de comunicação, mas não o único e nem tão imprescindível para a sociedade como uma década atrás.


Já a área de comunicação da Petrobras sabia que tinha que fazer alguma coisa. A iniciativa de lançamento do blog foi brilhante, mas faltou “manha”. Faltou introduzir o blog de forma mais lenta e ajustada à dinâmica das relações com a imprensa. Manter um clima de prontidão diária contra a mídia não é interessante para a empresa, aliás, para ninguém. Como fazer para dar um passo para trás?

A decisão da Petrobras de não mais publicar no seu blog as perguntas feitas por jornalistas, e as respostas dadas pela empresa, um dia antes de as reportagens serem publicadas é inteligente e cria a situação de acordo que todos queriam. Todos estavam esperando uma oportunidade para abaixar as armas.

Segundo a coluna de Mônica Bergamo na Folha, “a decisão foi tomada depois de reuniões feitas pela equipe de comunicação da Petrobras. Muitos dos presentes concluíram que a forma adotada pelo blog, de divulgar os questionamentos antes mesmo da publicação das matérias pelos jornais, foi desastrosa. Outra parte da equipe, no entanto, não queria recuar completamente da ideia para que não parecesse que a empresa capitulara à reação da mídia. Chegou-se a um meio termo: as perguntas dos jornalistas e as respostas a elas só serão postadas no blog à meia-noite, para evitar que publicações que concorrem entre si tomem conhecimento antecipado das reportagens que serão publicadas por outros veículos”. Veja AQUI.

O blog da Petrobras foi discutido intensamente nos últimos dias, em todos os fóruns. Todo mundo entrou na discussão. Até o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, resolveu se pronunciar. Veja o artigo dele, chamado “Porque os blogs assustam”, AQUI.


Se você que ver uma análise bem equilibrada e justa, eu recomendo a leitura do excelente artigo escrito por Claudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, em seu blog. E vale ler as dezenas de comentários. Acesse AQUI.

Mas o motivo deste post é compartilhar o artigo “O que pensam os editores” publicado ontem no site do Observatório de Imprensa. Veja AQUI. O artigo contém depoimentos recebidos por Ricardo Noblat e publicados em seu blog, todos referentes ao blog da Petrobras. Tomo a liberdade de publicar o artigo inteiro, marcando em vermelho algumas partes que me chamaram a atenção. Não pretendo comentá-las, cada um que tire suas próprias conclusões, mas afirmo que cada um dos trechos marcados mereceria um belo debate. O blog da Petrobras, mas do que trazer transparência e sacudir “o sistema”, ajudou a entendermos melhor como funciona a cabeça dos principais editores e grupos de comunicação do país. Destaque para a afirmação de Ricardo Gandour, do grupo Estado: “A sociedade não pode prescindir da imprensa e dos valores da edição”.


Reproduzido do Observatório de Imprensa, 11/06/2009

BLOG DA PETROBRAS – O que pensam os editores

Por Depoimentos a Ricardo Noblat em 11/6/2009 Reproduzido do Blog do Noblat, 9/6/2009

CENSURA CRIATIVA, MAS CENSURA Euripedes Alcântara – diretor de Redação da revista Veja

Nem tudo que é legal é ético. A decisão da Petrobras de publicar em seu blog as perguntas dirigidas à empresa pelos jornalistas e respondê-las publicamente antes mesmo de saber como foram aproveitadas nas reportagens pode ter amparo jurídico.

Mas é claramente uma posição de força sem precedentes no convívio entre empresas privadas de mesmo porte e, ainda, mais violenta quando tomada por uma empresa que pertence ao povo brasileiro, seu controlador.

Uma posição de força dessa natureza, a meu ver, só faria sentido se fosse iniciativa de uma nação estrangeira contra jornalistas brasileiros em uma situação de guerra externa. Não é esse o caso.

Uma medida sadia seria gravar as entrevistas concedidas à imprensa por seu presidente e seus diretores e, uma vez constatada que a edição desfigurou a mensagem original ou colocou as informações fora de contexto, dar publicidade à íntegra da conversa com a ênfase nos trechos suprimidos ou desfigurados.

Atropelar a apuração jornalística é uma forma de censura, muito criativa, sem dúvida, mas censura.

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DESELEGÂNCIA E INTIMIDAÇÃO Sergio Lirio – redator-chefe da CartaCapital

Publicar as perguntas dos jornalistas antes de o material ser publicado nos respectivos veículos é mais do que um ato de deselegância. Cheira um pouco a intimidação, incompatível com uma empresa que afirma não temer as investigações.

Inútil, em todos os casos, pois acaba por gerar um noticiário negativo à empresa, justamente o que os estrategistas de comunicação da Petrobras almejam evitar.

Mas será perfeitamente normal, e salutar, se a companhia utilizar o blog para publicar a íntegra das perguntas e respostas após o material sair publicado ou prestar esclarecimentos adicionais a respeito de uma determinada notícia. Principalmente se a edição sonegar ou distorcer informações prestadas.

Sabemos que durante CPIs a imprensa costuma fazer o contrário do que deveria: torna-se menos e não mais criteriosa e vigilante na seleção e divulgação dos fatos, sob a desculpa das pressões da competição pelo furo, além de frequentemente se deixar usar por interesses particulares ou eleitorais travestidos de interesse público.

Outro comportamento bastante comum da mídia nesses momentos é ignorar com mais frequência seus erros e não conceder a um indivíduo ou empresa atingidos o devido espaço de retratação.

Misturados à manada que alegremente pisoteia o bom senso, as regras básicas da profissão e a autonomia do pensamento (que deveria nortear um jornalista do raiar do dia ao fim da jornada diária), repórteres, editores e veículos sentem-se mais confortáveis para cometer aleivosias e assassinatos de reputação ou para reproduzir erros alheios sem se dar ao trabalho da checagem.

Quem já foi injustamente alvejado por CPIs sabe bem o que isso representa. No caso de uma companhia com ações nas Bolsas de Valores, milhões de dólares em contratos e sentada sobre reservas espetaculares de gás e petróleo, os prejuízos podem ser incalculáveis e irreversíveis.

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UM ERRO, UM ABUSO, UM DISPARATE Luiz Antonio Novaes – editor-executivo de O Globo, responsável pela edição da 1ª página

O risco de vazamento é inerente à atividade jornalística. Não é de estranhar que um repórter tope com um personagem que, na impossibilidade de impedir a publicação de uma denúncia, torne-a pública , a seu modo, antes que ela seja bem concluída e documentada.

O que é surpreendente e sui generis, nunca antes visto na história desse país, é que uma instituição do porte da Petrobras anuncie que o vazamento será a praxe do seu relacionamento com a imprensa.

É fácil entender que, em épocas de CPI, os furos jornalísticos incomodem mais do que as investigações parlamentares, sempre sujeitas ao jogo político. Mas não é possível que a Petrobras, desconhecendo regras elementares do jornalismo e do trabalho de assessorias de imprensa, seja tão ingênua a ponto de achar que vai acabar com o furo por decreto.

A “reinvenção” do jornalismo vem à tona uma semana depois que a estatal, apesar de possuir mais de mil profissionais de comunicação em seus quadros, preferiu contratar uma empresa externa para enfrentar a CPI.

A lógica que agora move a direção da empresa parece não ser mais a da comunicação, mas a do marketing político. Nele, como vimos à exaustão nas últimas campanhas eleitorais, a imprensa precisa ser desqualificada e demonizada como inimiga política.

O que podem estar querendo, atropelando a ética dessa forma, é tumultuar e impedir a reportagem, para supostamente provar que, no jornalismo, tudo é opinião. É um erro, um abuso e um disparate – que merece o repúdio de todos.

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O QUE É INADEQUADO Otavio Frias Filho – diretor de redação da Folha de S. Paulo

A Folha de S.Paulo considera que o teor do blog “Fatos e Dados” está na esfera de autonomia empresarial da Petrobras. Não considera adequado, porém, que questionamentos jornalísticos endereçados à empresa sejam tornados públicos por meio daquele blog antes que as respostas possam ser avaliadas e utilizadas pelos veículos que enviaram as interpelações.

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UM MAL ENTENDIDO A SER CORRIGIDO Ali Kamel – diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo

Todos nós que trabalhamos em redações de jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e sites da internet temos a noção exata do valor de uma informação exclusiva: revelar um fato em primeira mão é um atributo da qualidade do trabalho jornalístico, que o público reconhece e valoriza. Não há “nova era” que modifique isso. Mesmo um site jornalístico, que publica notícias em tempo real, quer ser o primeiro a dar um furo, porque sabe que, se isso for uma constante, atrairá cada vez mais pessoas que buscam bom jornalismo. Isso é uma verdade aqui e em toda parte do mundo.

No trabalho cotidiano, no contato com as fontes, procura-se deixar isso bem claro, especialmente para aqueles que não conhecem a dinâmica do trabalho da imprensa, geralmente cidadãos comuns ou pequenas e médias empresas sem departamentos de comunicação estruturados. Nestes casos, explica-se também que as entrevistas fazem parte de um processo de apuração, que pode ou não levar à publicação de uma reportagem. Na maior parte das vezes, isso é bem entendido.

Quando são grandes empresas, de reputação sólida, a explicação costuma se absolutamente desnecessária: elas conhecem a seriedade dos órgãos de imprensa, sabem que o propósito deles é informar bem e não vêem problemas em guardar sigilo. Mesmo quando o assunto não é agradável, mesmo quando se trata da investigação de alguma denúncia. As grandes empresas sabem que, não havendo culpa, dolo, má-fé, basta dar as explicações.

Os problemas só acontecem quando a fonte, objeto da denúncia, não tem confiabilidade: neste caso, todo tipo de sabotagem é posto em marcha. Se houvesse uma regra geral, ela deveria ser formulada assim: quanto menos caráter e mais culpa tem a fonte, menor é a probabilidade de um órgão de imprensa, ao ouvi-la, conseguir manter a exclusividade da informação. Em muitos casos, tenta-se até a censura por meios de ações no Judiciário.

Evidentemente, esse nunca foi o caso da Petrobras, uma empresa que mantém com a imprensa, historicamente, uma relação altamente profissional, absolutamente correta, ética e desapaixonada. Neste governo e nos anteriores, prestou sempre todo tipo de esclarecimento quando solicitada, respeitando invariavelmente o princípio da exclusividade.

A Petrobras, uma empresa que detém informações estratégicas, que, por força de regulamentos, devem ser mantidas em sigilo para não privilegiar ou prejudicar investidores, sabe, como poucas, como lidar com a imprensa. Eu não posso atribuir a outra coisa senão a um brutal mal-entendido essa decisão de tornar públicas as consultas dos órgãos de comunicação antes que os mesmos façam uso das informações obtidas por meio delas.

Após a publicação da reportagem, a Petrobras e qualquer outra empresa, se assim considerar necessário, podem tornar pública a íntegra das respostas. Não há mal nenhum nisso: jornalista algum se oporá a íntegras. Antes da publicação, porém, íntegras serão sempre uma atitude de desrespeito, não a veículos específicos, mas à imprensa, uma instituição que, numa democracia, deve ser sempre prestigiada.

Mal entendidos acontecem, e são corrigidos. Não tenho dúvidas de que a Petrobras, após refletir sobre a questão, porá fim à prática.

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O FALSO ANTAGONISMO Ricardo Gandour – diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo

A Petrobras – tenho convicção, não por má fé, mas por falta de compreensão e aprofundamento de um assunto complexo e contemporâneo – caiu numa armadilha conceitual que foi a de achar que a sociedade pode prescindir da edição.

Isso fica claro quando ela diz que a blogosfera permite o contato direto com as fontes de informação sem a necessidade de um filtro. É o mesmo que desistitucionalizar a imprensa.

A sociedade não pode prescindir da imprensa e dos valores da edição.

A Petrobras dá a entender que o sigilo que a imprensa precisa para uma apuração se contrapõe à transparência.

Ora, o sigilo é transitório. Ele faz parte de um método de trabalho que sustenta a construção de um contexto em uma apuração completa. Culmina na transparência total. Criar um antagonismo entre o sigilo da apuração e a transparência é falso. E pode, em último caso, jogar a opinião pública contra a imprensa, o que não é produtivo nem para a sociedade como um todo nem para a democracia.

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