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Comunicado da GM

Há cinco semanas eu publiquei um post sobre o uso de comunicados pelas empresas. Meu foco estava concentrado no dilema que as empresas vivem na hora de decidir pela publicação de um comunicado aberto ao público. Ontem surgiu um exemplo ótimo para ilustrar esse dilema.

A GM, que é reconhecidamente um ícone no mundo corporativo, vem passando por sérias

dificuldades e ocupando espaços generosos na grande mídia. Em apenas doze meses, o valor da ação da GM despencou 95%. Passou de US$ 38 para menos de US$ 3, o menor valor desde 1943. O fato é que a GM tem sido usada como um exemplo das consequências da crise atual e caracterizada como uma empresa em estado pré-falimentar. Essa espiral negativa é altamente danosa para a marca GM e para o futuro dos negócios da empresa. Já ouvi pessoas falando que deixarão de comprar carros da GM por temerem o futuro da companhia. Qualquer empresa que passe por este tipo de situação necessita partir para ações de relações públicas diferentes das tradicionais. Uma reação rápida e pragmática é exigida.

Eu não conheço as ações de comunicação que a GM vem tomando, mas ontem ela tomou a iniciativa de publicar um comunicado nos principais jornais do país. Eu,

particularmente, gostei do comunicado, mais pela urgência da necessidade da empresa se posicionar do que pelo conteúdo da carta publicada. Veja o texto na íntegra no final do post ou clique na imagem ao lado.

O comunicado é longo, mas duas coisas me chamaram a atenção. Uma positiva e significativa: a empresa diz que opera com mais de 60% das vendas fora do mercado norte-americano e que a operação brasileira é uma das mais lucrativas globalmente. Isso é bom. O segundo ponto me supreendeu pois afirma que a General Motors do Brasil continuará operando, qualquer que seja o destino de sua matriz. Isso soou estranho.

Independentemente das ações que a empresa tomará nos próximos dias, eu acho que a decisão da GM foi corajosa e oportuna. Existe sempre o risco do comunicado de uma empresa virar uma espécie de tiro no pé, não só por um conteúdo mal feito, mas também pelo comunicado amplificar a divulgação de um problema, que muitas vezes está confinado a um número pequeno de impactados ou conscientes da situação. Acho que o caso da GM é diferente. A imagem da GM já está muito arranhada e seu futuro como empresa sendo questionado. Nessas horas não adianta esperar pelo dia seguinte, tem que agir imediatamente. Que ironia vive a GM ao ver tudo isso acontecendo no ano em que ela completa 100 anos de vida.

Veja abaixo a íntegra da carta publicada pela GM em 18/11/2008:

A GM, O BRASIL E A REALIDADE DOS FATOS

Tendo em vista os recentes artigos publicados na imprensa sobre a situação da General Motors Corporation e a indústria automobilística nos Estados Unidos e com o objetivo de esclarecer o público em geral, os consumidores de veículos da marca Chevrolet, os fornecedores, os concessionários Chevrolet e os parceiros do mercado financeiro, a General Motors do Brasil sente-se no dever de prestar os seguintes esclarecimentos: 1. O mercado financeiro global atravessa neste momento sua pior crise das últimas décadas, com reflexos e conseqüências em todos os países, tanto os desenvolvidos como aqueles em desenvolvimento.

2. A General Motors Corporation – assim como outras montadoras e também empresas de outros setores da economia – vem sofrendo as conseqüências da situação financeira norte-americana, que está levando o setor automobilístico a fechar 2008 com um volume de vendas total de 13 milhões de veículos, ou seja, 3 milhões de veículos a menos se comparados aos 16 milhões vendidos nos Estados Unidos em 2007.

3. Mesmo diante dessa nova realidade financeira, a General Motors Corporation, que completou recentemente 100 anos de existência, continua determinada a executar seu plano de reestruturação, ao mesmo tempo em que mostra sua liderança tecnológica com o lançamento de novos e atraentes veículos, entre os quais se destaca o Chevrolet Volt, o primeiro automóvel elétrico a ser produzido em série e comercializado nos Estados Unidos no final de 2010, ano em que os efeitos de sua reestruturação já serão bem mais visíveis.

4. Como empresa global, a GM já vende hoje mais de 60% dos seus veículos fora dos Estados Unidos e vem crescendo cada vez mais nos países emergentes, como Brasil, Rússia, China e Índia. Nesses mercados, a GM está mantendo seus agressivos planos de investimentos e crescimento.

5. Desde 2006 as operações da General Motors do Brasil são lucrativas e a região à qual está integrada, que é a LAAM – Operações da GM na América Latina, África e Oriente Médio, tem sido a mais lucrativa este ano, colaborando de forma decisiva para o fortalecimento da situação financeira da matriz. No Brasil, alguns dos nossos recentes lançamentos de produtos, como a Chevrolet Captiva, têm feito muito sucesso junto aos consumidores, tendo inclusive recebido diversos prêmios por parte da imprensa especializada.

6. Por ser uma entidade jurídica distinta da Corporação, a General Motors do Brasil atua de forma independente e, por essa razão, estão mantidos todos os investimentos já programados para o período de 2009-2012, entre os quais a construção da nova fábrica de motores em Joinville, o Centro Logístico de Distribuição de Veículos no Porto de Suape, em Pernambuco, o desenvolvimento e lançamento de um novo veículo a ser produzido em São José dos Campos, a expansão e modernização das fábricas e do Centro Tecnológico de São C aetano do Sul nas áreas de design e engenharia, além do desenvolvimento de novos veículos Chevrolet que chegarão ao mercado nesse período.

7. Em qualquer cenário da reestruturação das operações da GM na América do Norte, as atividades da GM do Brasil, independentes que são, não serão diretamente afetadas, e nossos consumidores podem ter certeza de que nós continuaremos a prover os excelentes produtos e serviços aos quais eles já estão acostumados.

8. Finalmente, a GM manifesta a certeza de que as autoridades norte-americanas encontrarão uma saída para a crise que está afetando sua economia e, por conseqüência, a sua indústria automobilística, a maior do mundo, ao mesmo tempo em que reafirma sua confiança na economia brasileira, que, graças aos seus sólidos fundamentos, vem sendo menos afetada que a de outros países.

São Caetano do Sul, 18 de novembro de 2008.

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