Acabei de devorar o livro “Crises Empresariais com a Opinião Pública” de Roberto Castro Neves (RCN). Foi que nem Doritos, impossível comer um só. Foi começar e não parar mais.
Antes de falar do livro, não dá prá não deixar de falar do RCN.
Eu tive a sorte e o azar de ter trabalhado com Roberto na IBM Brasil, anos atrás. Sorte porque RCN era, e ainda é, uma das maiores autoridades de comunicação corporativa no país. O azar é pelo mesmo motivo. Uma autoridade desse calibre é exigente e detalhista, o que evidencia que um aprendiz de feiticeiro nunca teria, ou terá vida fácil, ao trabalhar com um perfil assim.
Roberto era um executivo centralizador e detalhista. Tinha um profundo conhecimento de comunicação empresarial, extremado bom senso, excelente domínio no relacionamento externo, especialmente com a imprensa, e grande liderança na empresa. Esta é a imagem que tenho dele. Cada interação com ele era uma aula.
Depois de um tempo, ficou claro para mim que eu precisava levar as coisas para ele de forma mais estruturada. Minha ansiedade e vontade de fazer coisas diferentes, muitas vezes me levavam a propor projetos incompletos e com riscos não calculados. Enfim, eu era um aprendiz do ofício.
O perfil de Roberto foi construído a partir de sua experiência na IBM Brasil. Ele comandou a área de comunicação da empresa durante muitos anos (até 1997, acredito eu), especialmente na época da “Política Nacional de Informática”. Talvez muitos não lembrem ou não saibam, mas teve uma época nesse país em que os maiores fabricantes de computadores do mundo não podiam fabricar no Brasil ou importar seus equipamentos. A justificativa é que, protegidas da concorrência com as multinacionais do setor (na época a liderança era da IBM, Burroughs, DEC e HP), os fabricantes brasileiros poderiam desenvolver uma tecnologia genuinamente tupiniquim e estariam plenamente aptos para competir em pé de igualdade com seus concorrentes estrangeiros quando a reserva de mercado terminasse. Foi a fase de empresas brasileiras como Cobra, Edisa e Itautec, essa última existe até hoje. Todo mundo sabe como essa história acabou, né?
Esse cenário transformou a IBM Brasil num enorme alvo de pancadaria vinda do governo e da imprensa. De repente, a IBM virou a Geni da vez. E foi o RCN, liderando Relações Externas, num papel muito mais abrangente do que meramente lidar com a imprensa, que enfrentou toda essa época com maestria e grande sucesso. Foram tantos anos lidando com uma crise latente e com assuntos delicados, que RCN tornou-se um líder centralizador e atento a tudo que acontecia, muitas vezes até desconfiado das coisas que chegavam a ele. Enfim, conto tudo isso pois a conjuntura nacional daquela época é que emolduraram a personalidade empresarial e a liderança de RCN.
O resultado é que RCN tornou-se uma das maiores autoridades de comunicação do país. Não é por acaso que ele é o Ombudsman da ABERJE e têm vários livros de referência publicados.
Feita essa pequena “longa” introdução, vamos ao livro.
O livro é imperdível para os profissionais de comunicação e gestores de empresa. Acho até que o livro vai muito além das crises empresariais, ele dá uma bela perspectiva do perfil da imprensa brasileira e do sempre delicado relacionamento dos executivos de empresas com a mídia. RCN usa e abusa de casos reais, internacionais e nacionais, e isso transforma o livro numa experiência riquíssima, provendo leituras diferentes sobre cada uma das crises apresentadas. O livro fica ainda mais valioso pois ele trabalha com muitos casos brasileiros conhecidos da mídia.
Tenho certeza que alguns não gostarão do estilo literário de RCN. Ele escreve como se estivesse tomando um chopp com a gente, numa mesa de bar. É quase uma conversa no pé-do-ouvido. Eu adoro isso, mas estou certo que tem gente que gosta de um texto mais formal e mais “quadrado”. Enfim, o estilo de Roberto nos leva a um bate-papo delicioso, que transforma um assunto sério numa conversa leve e divertida. É o jeito dele, pessoal, transposto para o livro. Muito bom.
Os capítulos 6 e 7 são o “crème de la crème” do livro, cujo conteúdo merece ser guardado na gaveta da mesa de trabalho para consulta e referência. Não deixe de ler o caso do “Infarto do Edgar”, nas páginas 159 e 160, que na minha opinião é a essência do livro. A história pode ser resumida neste pequeno fragmento de texto: “Quanto mais decisões foram tomadas antes da crise, melhor. Tome a decisão e coloque no freezer. Quando precisar dela, ela já está lá, é só requentar. Quando se tem um planejamento, isto é possível“.
Para ter um gostinho de como RCN aborda o tema, visite o seu site no endereço www.imagemempresarial.com e navegue pelos capítulos, especialmente o “Tudo sobre Imagem Empresarial” e “Crises Empresariais com a Opinião Pública“, que contém alguns casos descritos no livro.
Enfim, o livro é para todo profissional de comunicação ter como referência, e até como manual de primeiros socorros. Também é recomendado para todos aqueles que têm contato com a imprensa, especialmente executivos de empresas e porta-vozes em geral. Do meu lado aqui, eu já vou tratar de colocar alguns exemplares na mesa de alguns executivos da companhia onde eu trabalho.