A história a seguir é verdadeira. Eu só mudei os nomes para evitar constrangimentos. Mas já antecipo que foi numa empresa onde eu trabalhei, quando presenciei e participei de toda a narrativa abaixo. E não foi a IBM.
Estávamos todos na reunião executiva semanal de revisão de negócios. Todo o corpo executivo da empresa XYZ estava presente. Reunião chata e complicada, afinal os resultados da XYZ não estavam bons. Num determinado momento, Miranda, o diretor de RH, pede a palavra e diz que um gerente seu tinha uma situação urgente para resolver e que precisava compartilhar com a diretoria.
Clemente entrou na sala e já começou falando:
— Olha gente. Ontem eu fui informado de uma situação gravíssima. Existe uma comunidade no Orkut chamado “Eu odeio o banheiro da XYZ”. Não conseguimos ainda descobrir o autor dessa brincadeira.
Carvalho, diretor financeiro, foi o primeiro a se pronunciar:
— Temos que descobrir quem fez isso e demiti-lo. Isso é um absurdo. Alguém está tratando de descobrir quem fez isso?
Clemente respondeu:
— Já disparei o pessoal de TI. Estão todos atrás disso. Só sei que o nome do autor da comunidade no Orkut chama-se Paladino. Já existem quase 30 pessoas na comunidade e muitos comentários. Todas com nomes estranhos, provavelmente falsos. Parece que o assunto já chegou nos corredores da empresa, por isso chegou até a mim.
Enfim, foram 15 minutos de ira descontrolada. Todos reclamando. A indignação era geral. Todos dizendo que era inadmissível esse tipo de comportamento de um funcionário da XYZ. Eu fiquei contemplando tudo aquilo, provavelmente de boca aberta.
Quando os ânimos se acalmaram eu perguntei:
– Alguém sabe que banheiro é esse? Que tal descobrirmos esse banheiro?
As pessoas me olharam como se este tipo de pergunta não tivesse cabimento. Minha impressão é que eles não haviam entendido a minha pergunta. No final da reunião eu saí com a missão de descobrir que banheiro era aquele, enquanto todos os outros estavam mais preocupados em saber quem era o autor da comunidade e como puni-lo.
Descobrir o banheiro foi muito fácil. Os comentários existentes na comunidade do Orkut já evidenciavam o local do banheiro, tinha até algumas fotos e outras pistas inequívocas do motivo de tudo aquilo.
O banheiro ficava num escritório regional e eu tratei de visitá-lo. Ninguém da regional sabia que eu estava indo. Tenho que confessar que o banheiro estava realmente num estado lastimável. Feio, fedorento, com vazamentos, enfim, inaceitável. Impossível de usar. A reclamação da comunidade era mais do que justa. Aquele era o único banheiro do andar, onde trabalhavam mais de 150 pessoas. Ou seja, as pessoas para irem ao banheiro precisavam subir ou descer um andar para achar um banheiro num estado melhor. Tirei algumas fotos e carreguei-as comigo para a próxima reunião executiva.
Para encurtar a história.
O banheiro entrou em obras semanas depois. Em seguida, os outros banheiros do mesmo prédio também entraram em obras. Tudo isso tomou alguns meses. Todos os banheiros ficaram lindos, cheirosos e confortáveis. Pouquíssimo tempo depois a comunidade desapareceu do Orkut. Nunca ninguém descobriu o autor da comunidade.
Agora um detalhe que nunca contei pra ninguém.
Quando visitei pela primeira vez o banheiro, eu conversei com muitas pessoas da filial e acabei descobrindo o autor e vários dos participantes da comunidade. Eles mesmos se abriram para mim. Disseram que as reclamações eram constantes, que sempre procuraram os canais oficiais da empresa para pedir o conserto do banheiro e que nunca foram ouvidos. Já era uma reclamação de mais de seis meses. A criação da comunidade foi uma forma alternativa de se fazer ouvir.
O resumo desse caso pode ser dividido em três partes:
– As empresas ainda não têm clareza de como tratar, usar e tirar proveito das mídias sociais;
– A voz da comunidade é sempre muito forte, especialmente quando as pessoas se alinham na busca de um objetivo comum;
– Um banheiro limpinho e cheiroso não tem preço.