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Futurecom e Digital Age 2.0

Nessa semana passada eu estive na Futurecom, o principal

evento no país na área de telecomunicações. Eles se apresentam como um evento mercadológico, empresarial e regulatório. Enfim, um evento que se propõe discutir os desafios e tendências em telecomunicações, incluindo a convergência digital, que foi tema de várias palestras. Nesse mesmo mês de outubro, bem no início, eu participei do Digital Age 2.0, outro congresso importante no país. O evento se apresenta como a principal conferência para quem

deseja discutir o futuro dos negócios tendo a internet como plataforma de relacionamento. Lá também se discute as tendências na área de comunicação, com forte foco no mundo digital. Enfim, dois eventos cujo pano de fundo é discutir comunicação. Mas algumas coisas me chamaram muito a atenção.

Na Futurecom: – 90% dos presentes eram senhores engravatados; – muito mais homens do que mulheres; – todos muito bem comportados e “velhos” conhecidos;

– idade média: acima dos 40 anos, com certeza (estou sendo bonzinho); – todos sentados na platéia, atentos ao palco e bem comportados, fazendo cara de conteúdo; – palestras triviais, com slides de powerpoint bem burocráticos, sem música ou interatividade e muito formalismo; – a maioria dos palestrantes eram executivos das empresas, não raro os próprios presidentes das operadoras e fornecedores de equipamentos. Por exemplo: Embratel, TIM, Siemens, etc.

Já na Digital Age 2.0: – mais de 90% dos presentes com roupa casual, a grande maioria vestindo jeans. Os engravatados pareciam ETs;

– um equilíbrio evidente entre homens e mulheres; – nos intervalos do seminário, sempre havia muita gente sentada no chão usando seus notebooks; – idade média: abaixo dos 30 anos; – um número significativo de pessoas no auditório usando notebook, simultaneamente às palestras, assistindo a apresentação, acessando a internet (via free wireless provido pelo organizador do evento), tudo ao mesmo tempo; – palestras diferentes, com muito conteúdo inspirador, vídeo, música e interatividade, sendo que uma das palestras foi feita via videoconferência; – a maioria dos palestrantes eram gurus da era digital, descolados e contadores de histórias.

Silvia Bassi, a presidente da Now Digital, organizadora do Digital Age, me viu sentado no chão, usando notebook e disse que eu estava “muito college”, numa clara alusão de que não é comum me ver sentado no chão usando computador. Mas o ambiente me convidava a isso. Aliás, do meu lado sentado no chão, tinham mais meia dúzia fazendo a mesma coisa.

Vejo alguns pontos interessantes aqui, como as diferenças de perfil e a linguagem dos dois eventos. Fico imaginando o impacto na formal Futurecom, se um grande número de espectadores abrisse seus notebooks e começasse a usá-los compulsivamente durante as

palestras. No mínimo iriam dizer que essas pessoas são mal educadas, quando na verdade elas estão se comportando como fazem no seu dia a dia. Enfim, essa conexão da linguagem do evento com o público participante é premissa para o sucesso de qualquer evento.

A discrepância de situações entre os dois eventos me incomodou bastante, pois eles deveriam ter muito em comum. Ambos falam de novas tecnologias, futuro da comunicação e convergência digital. Mas a forma, estilo e espírito foram bem diferentes, evidenciando o quanto que os líderes de telecomunicação do país (e suas respectivas empresas) presentes na Futurecom estão distantes da geração digital empreendedora presente no Digital Age. É incrível essa diferença, ainda mais sabendo que os grandes investimentos e mudanças estão nas mãos do pessoal da Futurecom, que são as principais operadoras e os principais fabricantes de tecnologia do país.

Existe um vale abissal entre esses grupos. O pessoal da Futurecom quer discutir os impostos, os desafios de infra-estrutura e como mudar as atuais leis ultrapassadas. O foco deles é mais o meio, é discutir mecanismos para desamarrar os nós causados pela conjuntura do país para chegar ao futuro prometido. Por isso unbundling e marco regulatório são assuntos importantes. Enfim, eles estão mais de olho no presente. Já o pessoal do Digital Age não quer saber de discutir tais amarras. Eles estão mais preocupados em falar de conteúdo e das novas possibilidades da era digital. Eles têm uma única direção: o futuro.

Seria maravilhoso se conseguíssemos ter um evento misto, uma mix dos dois eventos. Um congresso em que discutíssemos como chegar ao futuro (no espírito “voador” da Digital Age 2.0) saindo da realidade de hoje (no espírito pragmático da Futurecom).

Um fato interessante, inquestionável, é que a geração participante do Digital Age, em breve, assumirá posições de liderança nas empresas mais tradicionais, mudando completamente o perfil do que vemos hoje. Ou seja, o formato do Futurecom e eventos similares, cada vez mais terão a cara do Digital Age 2.0.

Por fim, desculpe pela pimenta, será que a Futurecom não deveria se chamar Presentcom?

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