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O desafiador exercĂ­cio de escrever sobre vocĂȘ mesmo

  • Foto do escritor: Mauro Segura
    Mauro Segura
  • 7 de mai. de 2023
  • 13 min de leitura

Atualizado: 9 de mai.


A prĂłpria sombra
Conversar com os meus lobos - Foto de Mauro Segura


Escrever como autoterapia e ressignificação de vida


Joana me chamou para conversar sobre o meu Ășltimo artigo.


Neste artigo, eu contei que a minha obsessão em escrever sobre mim mesmo é uma espécie de catarse
 de terapia
 de conversar com Deus.


HĂĄ muito tempo busco colocar no papel os meus pensamentos, as minhas confidĂȘncias, os meus anseios e conflitos, as minhas angĂșstias e sofrimentos, mas tambĂ©m minhas alegrias e conquistas, desejos e sonhos.


O poder terapĂȘutico da escrita


Quando escrevo, eu consigo colocar as coisas para fora, conversar com meus lobos, ordenar meus pensamentos, escolher caminhos e até tomar decisÔes de vida.


Basta ter papel e caneta, e jĂĄ estou escrevendo.


A transformação em 2017


Apesar de ter o hábito de escrever há muito tempo, acho que a “autoterapia” a partir da escrita teve início somente em 2017, que foi o ano da descoberta do cñncer da Regina. Eu não tinha com quem conversar sobre o que estávamos passando, sobre o que eu estava sentindo. Na verdade, eu nem sabia elaborar exatamente o que acontecia dentro da minha mente.


Foi neste instante que o meu antigo hĂĄbito de escrever ganhou amplitude, tornando-se meu aliado nos momentos mais difĂ­ceis, quando eu precisava destampar a panela de pressĂŁo e equilibrar a gangorra de sentimentos conflitantes.


Para todos os lugares que eu ia, nĂŁo importava onde, nem quando, lĂĄ estava eu com caderninho e caneta.


Da escrita factual Ă  emocional


Eu jĂĄ havia agido desta forma em outros momentos da minha vida, como na minha primeira demissĂŁo, em alguns desafios no trabalho e nas ausĂȘncias de meus filhos, em seus intercĂąmbios, no exterior do paĂ­s. PorĂ©m, nestas oportunidades, meus textos eram mais descritivos e factuais, pois descreviam mais o que acontecia ao meu redor, falando do contexto, porĂ©m pouco do que ocorria dentro de mim.


Somente a partir de 2017 é que passei a escrever compulsivamente sobre mente e alma, iniciando uma jornada despretensiosa de autoconhecimento, que acabou virando rotina e paixão, tornando-se essencial para minha ressignificação de vida.



O desafio de Joana com a sua sensação de frustração


Os bloqueios na escrita pessoal


O que me chamou atenção na conversa de Joana sobre meu Ășltimo artigo foi quando ela disse:

“Eu já tive vários cadernos! Eu já tentei escrever várias vezes como rotina, já tentei fazer diários, mas sempre largo tudo no meio do caminho.”


E perguntei:

“VocĂȘ jĂĄ parou para pensar qual Ă© o real motivo que te leva a parar de escrever? O que vocĂȘ sente quando isso acontece?”


Joana me deu uma resposta longa:

“Acho que tudo que escrevo Ă© muito mecĂąnico, superficial e racional. NĂŁo Ă© espontĂąneo. Diante do papel eu fico travada. NĂŁo sei o que escrever. AlĂ©m disso, eu escrevo mal, meu portuguĂȘs Ă© pĂ©ssimo. Eu nĂŁo consigo pĂŽr em palavras o que tenho na cabeça, atĂ© porque muitas vezes eu nĂŁo sei o que estou sentindo e a razĂŁo da minha insatisfação. Parecem ser tantas coisas. As vezes sinto um vazio. Eu me sinto frustrada quando vejo que larguei mais um caderno. NĂŁo! É mais do que frustração. Eu me sinto fracassada”.


E continuou:

“Ao ler o seu artigo, eu me motivei. Fiquei tentada a tentar de novo, acreditando que desta vez pode ser diferente. Por isso procurei vocĂȘ para conversarmos. Eu tenho medo de acontecer mais uma vez a mesma coisa que aconteceu nas vezes anteriores”.


Inicialmente eu fiquei sem saber o que responder.


A palavra “fracasso” sempre me soa forte e me incomoda, porque me passa a percepção de que a “toalha já foi jogada” e a pessoa desistiu.


A primeira percepção que tive foi considerar que Joana tem enorme dificuldade de conversar com ela mesmo, ou seja, parece que ela não se conhece. A sensação de superficialidade parece vir daí, mas eu precisava elaborar mais para dar pistas e respostas concretas para ela.


O prolongamento da conversa me permitiu evoluir em alguns pensamentos que pulavam dentro da minha cabeça.


No final, propus a ela uma ideia simples, tendo por base um insight que me veio a partir do conceito de “comunicação não violenta”, ou CNV.


Livro Comunicação Não Violenta, autor Marchall B. Rosenberg
Livro Comunicação Não Violenta - Foto de Mauro Segura

Comunicação Não Violenta - CNV


O método de Rosenberg


Sempre que tenho oportunidade eu recomendo a leitura do livro “Comunicação NĂŁo Violenta”, do psicĂłlogo Marshall B. Rosenberg. O livro Ă© de fĂĄcil leitura, com linguagem didĂĄtica, farto de exemplos e bem organizado.


Nada substitui a leitura do livro. No entanto, para quem deseja uma leitura rápida e superficial, sugiro o artigo “Comunicação Não Violenta” publicado no Canal Valor, assinado por Marcelo Neves.


Uma excepcional alternativa Ă© uma playlist com 4 vĂ­deos de um workshop de CNV realizado em 2013, em SĂŁo Francisco – USA, onde o prĂłprio Marshall Rosenberg faz uma introdução de pouco mais de 3 horas. O vĂ­deo contem legendas em portuguĂȘs (de Portugal). Vale muito a pena.


Marshall Rosenberg em uma introdução sobre Comunicação Não Violenta

Os quatro componentes da CNV


É provĂĄvel que o artigo e o vĂ­deo incentivem vocĂȘ a comprar o livro. Espero que sim! Eu tambĂ©m tento sumarizar o conceito em alguns parĂĄgrafos a seguir.


O livro “Comunicação NĂŁo Violenta” tem o propĂłsito de ajudar as pessoas a desenvolverem uma comunicação mais clara e eficaz, para construção de conexĂ”es interpessoais mais respeitosas, empĂĄticas e genuĂ­nas.

Isso é feito através da apresentação de um modelo båsico, munido de técnicas simples, que permite melhor expressarmos nossos sentimentos e necessidades, promovendo melhorias em nossos relacionamentos e para o nosso próprio crescimento pessoal.


O grande lance do mĂ©todo CNV Ă© que ele estĂĄ centrado no conceito de uma comunicação essencialmente humana, com coração e sentimentos, especialmente em circunstĂąncias difĂ­ceis e conflituosas. Usando as tĂ©cnicas do CNV conseguimos direcionar a nossa consciĂȘncia para “olharmos” fatos e açÔes do cotidiano de forma diferente.


Apesar do modelo ser direcionado para comunicação, eu avalio que este sistema Ă© facilmente aplicĂĄvel em diversas situaçÔes de vida, podendo tornar-se uma espĂ©cie de “filosofia de viver”. Sua aplicabilidade no ambiente de trabalho Ă© total.


Para lĂ­deres, a leitura do livro me parece mandatĂłria porque ele vai trazer luz e mĂ©todo para diversas situaçÔes na “arte de liderar”, mais especialmente nas dificuldades e na gestĂŁo de conflitos.


Eu sou testemunha da eficĂĄcia desse modelo porque faço uso dele em minhas mentorias, constantemente. AlĂ©m disso, por ter estudado e aplicado estes conceitos em todas as esferas da minha vida nos Ășltimos anos, afirmo com certeza que minhas relaçÔes pessoais melhoraram muito, exponenciando minha paz de espĂ­rito e entendimento do mundo.


O CNV tem quatro componentes båsicos: ObservaçÔes, Sentimentos, Necessidades e SolicitaçÔes.


A seguir, ouso resumir grosseiramente o método CNV (desculpe Prof. Rosenberg!):


1- Observação sem julgamento

O primeiro passo é OBSERVARMOS detalhadamente o que estå acontecendo conosco e a nossa volta, sem avaliação ou julgamento. Ou seja, trabalhar com uma visão imparcial, objetiva e sem vieses.


2- Identificação de sentimentos

O próximo passo é IDENTIFICAR E EXPRESSAR O QUE ESTAMOS SENTINDO, fazendo a clara distinção entre emoçÔes e pensamentos. Basicamente nossos sentimentos resultam de como recebemos as açÔes e as declaraçÔes das pessoas que estão ao nosso redor.


3- Necessidades nĂŁo atendidas

O terceiro passo Ă© IDENTIFICAR AS NOSSAS NECESSIDADES para tratar o que estamos sentindo, o que Ă© muito difĂ­cil porque a maioria das pessoas tem enorme dificuldade em identificar o que elas realmente precisam.


4- Pedidos claros

Por fim, o quarto e Ășltimo passo Ă© FAZER PEDIDOS E SOLICITAÇÕES (para as pessoas) de coisas, açÔes ou atitudes “que enriqueceriam a nossa vida” com base no atendimento de nossas necessidades. Nesta atividade, Ă© fundamental sermos claros, especĂ­ficos e positivos.


Faço aqui um esclarecimento em relação a um ponto citado no parågrafo anterior. Muitas vezes nós tratamos emoçÔes e sentimentos como a mesma coisa, quase como sinÎnimos, mas eles são diferentes.


EmoçÔes são respostas orgùnicas intensas e de curta duração, enquanto os sentimentos são um processo mental avaliativo duradouro. Os sentimentos são acessíveis apenas à própria pessoa, enquanto as emoçÔes podem ser observadas pelos outros. As emoçÔes são uma reação imediata a um estímulo e dependem da relação com o mundo exterior para existir, enquanto os sentimentos são independentes.


EmoçÔes, sentimentos, empatia e compaixão
EmoçÔes, sentimentos, empatia e compaixão


Empatia e CompaixĂŁo


Diferenças fundamentais


Uma das palavras que ganharam espaço em nossas vidas é EMPATIA. Ouvimos o tempo todo que precisamos ser mais empåticos uns com os outros.


Imagine que uma grande amiga sua viveu uma perda importante recentemente. Ou seja, ela agora estĂĄ passando por uma fase de sofrimento e luto. Por ser sua amiga, vocĂȘ se solidariza com ela, se conectando profundamente com seu flagelo, experimentando aquele sofrimento e atĂ© imaginando como seria se vocĂȘ estivesse no lugar dela. Neste momento, vocĂȘ estĂĄ sendo profundamente empĂĄtica. Ao agir desta forma, seu corpo desencadeia uma sĂ©rie de funçÔes fisiolĂłgicas que determinam um profundo mal-estar e angĂșstia. Ou seja: vocĂȘ sofre vendo alguĂ©m sofrer.


No entanto, imagine o mesmo fato, porĂ©m com vocĂȘ vivendo um processo diferente. VocĂȘ olha o sofrimento de sua amiga, se conecta com ela, atĂ© experimenta um pouquinho, mas vocĂȘ consegue se elevar e pensar: o que posso fazer para ajudĂĄ-la a passar por este momento de forma menos sofrida? VocĂȘ sabe que nĂŁo tem como privĂĄ-la daquela experiĂȘncia, mas vocĂȘ se pergunta: O que posso fazer por ela? E, em seguida, vocĂȘ toma atitudes para realmente ajudĂĄ-la. Neste momento, vocĂȘ estĂĄ sentindo COMPAIXÃO pela sua querida amiga.


Diferentemente do sentimento de empatia, o foco da compaixão é no desejo de aliviar o sofrimento de sua amiga. Ou seja, a compaixão desperta a vontade de ajudar o próximo na superação de seus problemas e desafios, consolando e dando suporte emocional.

Os efeitos fisiolĂłgicos


Enquanto na empatia o corpo sente mal-estar, o sentimento de compaixão libera substùncias dentro do seu corpo que te dão sensação de mais força e poder para ajudar alguém.


Para exercer a sua compaixĂŁo, Ă© necessĂĄrio ter consciĂȘncia de sua disposição e disponibilidade, que sĂŁo coisas bem diferentes.


A disposição tem a ver com a vontade de fazer. Às vezes, vocĂȘ pode estar disposto a ajudar, mas nĂŁo tem disponibilidade de tempo. Por outro lado, nĂŁo adianta ter disponibilidade se vocĂȘ nĂŁo estiver disposto para ajudar e entrar nessa.


Resumindo, a compaixão efetivamente só acontece a partir de sua disposição e disponibilidade.


Estes conceitos de empatia e compaixĂŁo eu aprendi com Ana Claudia Quintana Arantes, autora do livro “A morte Ă© um dia que vale a pena viver”, que recomendo fortemente.


Neste livro, a autora aborda o tema da finitude sob um Ăąngulo surpreendente. Segundo ela, o que deveria nos assustar nĂŁo Ă© a morte em si, mas a possibilidade de chegarmos ao fim da vida sem aproveitĂĄ-la, de nĂŁo usarmos nosso tempo da maneira que gostarĂ­amos.


Escultura de David de Michelangelo,  encontra-se na Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, na Itålia
David, de MichelĂąngelo

O David dentro de nĂłs


A lição de Michelangelo


Uma das mais famosas esculturas do mundo estå exposta na Academia de Belas Artes, em Florença. Estou falando de David, obra de Michelangelo.


A obra Ă© belĂ­ssima, mas tambĂ©m impressionante pelo seu tamanho: mais de 5 metros de altura. Tudo fica mais impactante ao sabermos que o artista esculpiu a obra a partir de um Ășnico bloco de mĂĄrmore.


Diz a lenda que, ao ser perguntado sobre como fizera a majestosa escultura, Michelangelo respondeu: “Foi fĂĄcil, fiquei um bom tempo olhando o mĂĄrmore atĂ© nele enxergar o David. AĂ­ peguei o martelo e tirei tudo o que nĂŁo era David.”

A busca por propĂłsito e felicidade


Sou fã de Eduardo Gianetti (imortal da Academia Brasileira de Letras e Economista). Ele deu uma excelente entrevista para o Marcelo Tas no Provoca da TV Cultura. Esta entrevista também estå disponível em versão podcast.


Por volta dos 18 minutos, Eduardo fala sobre a diferença entre “ESTAR FELIZ” e “SER FELIZ”. A partir daĂ­, ambos devaneiam sobre a busca do ser humano por uma vida mais plena e digna. Tal conversa me gerou reflexĂ”es.


Muitas vezes temos dificuldade de identificar o que nos faz feliz, até mesmo por desconhecimento.


Frequentemente supomos que “tais coisas ou conquistas” poderĂŁo nos trazer mais felicidade e bem-estar, como a velha retĂłrica do “dinheiro trazer felicidade”. No entanto, Ă© incrivelmente mais fĂĄcil apontarmos o que nos incomoda e que nos impede de termos uma vida mais feliz, mais prazerosa e com mais propĂłsito.


EntĂŁo surgem as perguntas:


  1. Porque nĂŁo agimos como MichelĂąngelo removendo das nossas vidas o que nos incomoda e nos atrapalha para uma vida melhor?


  2. Porque toleramos conviver com coisas, fatos, pessoas e contextos que nĂŁo estĂŁo alinhados com a nossa busca interior de uma vida mais plena?


  3. O quanto estamos dispostos para fazer escolhas, tomar decisÔes duras e difíceis para abrir espaço em nossas vidas, para conquistar disponibilidade de mente e tempo para vivermos com mais satisfação e realização pessoal?


  4. O que temos que remover para descobrir o nosso David dentro de nĂłs?


Trecho do Caminho de Cora Coralina, no amanhecer repleto de nuvens, no interior de GoiĂĄs
Caminho de Cora Coralina, GO - profunda oportunidade de olhar para dentro de si mesmo - foto de Mauro Segura

Encontrando um caminho para Joana


Aplicando a CNV em si mesma


Naquela conversa com a Joana, nas idas e vindas de perguntas e respostas, eu fui construindo uma linha de raciocínio juntando todas as coisas que falei acima e que pipocavam dentro de minha cabeça.


Eu tentava encontrar uma cola para uni-las e criar algum sentido Ăștil e prĂĄtico para Joana. Aos poucos fui desenhando o raciocĂ­nio abaixo.


O conceito do CNV foi elaborado para melhorar a comunicação entre pessoas e para intermediação de conflitos. O surpreendente é que o método se mostra extremamente poderoso no desenvolvimento de uma conversa interior, ou seja, com nós mesmos. De certa forma, intuitivamente, eu venho fazendo isso comigo mesmo. Então por que não sugerir para Joana que ela tentasse aplicar nela própria o método CNV? Isso significaria a aplicação dos quatro passos do CNV nela mesmo.


Ao longo da conversa com Joana percebi que ela estava sofrendo por nĂŁo conseguir se expressar nos cadernos. Pensei em falar para ela: “VocĂȘ precisa ter mais empatia com vocĂȘ mesmo”. PorĂ©m, antes de esboçar a frase, me lembrei do que Ana Claudia Quintana Arantes havia dito sobre a diferença entre empatia e compaixĂŁo. E foi fĂĄcil concluir que o que Joana precisava era de compaixĂŁo
 de mais compaixĂŁo por ela mesmo.


Perguntas transformadoras


  • O que Joana poderia oferecer para ela prĂłpria a partir da aceitação de suas dificuldades e insatisfaçÔes?

  • Como fazer isso acolhendo suas limitaçÔes, frustraçÔes e arrependimentos?

  • O quanto ela estĂĄ disposta para se ajudar?

  • E mais ainda: qual seria a sua disponibilidade para se dedicar a isso?

  • Se nĂŁo houver disponibilidade, o que ela estaria disposta em abrir mĂŁo para encontrar tempo para ela prĂłpria?


E, finalmente, me veio a mente a reflexĂŁo do Eduardo Gianetti junto com a escultura do MichelĂąngelo.


Talvez a paralisia de Joana esteja ocorrendo pela sua dificuldade em escrever sobre felicidade, o que a alimenta e o que a faz feliz. Talvez ela nĂŁo saiba ou nĂŁo esteja certa das coisas.


  • EntĂŁo, em vez de pensar no que gera felicidade, porque nĂŁo pensar no que incomoda, no que gera dor, bloqueios e obstĂĄculos diĂĄrios que impedem uma sensação de vida mais plena, divertida e que vale a pena?


  • E, feito isso, como ela poderia, lentamente, realizar escolhas de vida que mudassem o curso do barco de sua existĂȘncia para uma direção diferente?


Todos estes insights pulavam na minha cabeça ao longo da conversa com Joana e acabaram terminando em sugestÔes e ideias.


Duas semanas depois daquele papo, Joana me procurou pelo whatsapp e me enviou um longo ĂĄudio. Estava contente. Ela disse que aquela proposta tem ajudado em sua evolução, mesmo consciente de que ainda tem muito o que fazer. PorĂ©m, agora, ela tem um caminho a percorrer. Combinamos nos falar novamente em dois ou trĂȘs meses.


A seguir, apresento de forma mais elaborada e organizada, porém em poucas linhas, o que sugeri para Joana.


Caderno pautado em branca, com uma caneta para começar a escrever. Os headphones sugerem um ambiente concentrado
Caderno em branco - Ă© vocĂȘ escrevendo sobre vocĂȘ - Foto de Mauro Segura

O exercĂ­cio de escrever sobre vocĂȘ mesmo


Um método pråtico


Este Ă© um exercĂ­cio prĂĄtico para vocĂȘ começar a escrever sobre vocĂȘ. Apesar de simples, ele nĂŁo Ă© fĂĄcil. É mais do que isso: Ă© desafiador!


A proposta Ă© vocĂȘ mergulhar dentro de vocĂȘ, na busca de se conhecer melhor, de entender o que deseja para sua existĂȘncia e considerar novas direçÔes de vida, que vai exigir escolhas e decisĂ”es, que podem ser fĂĄceis ou muito complicadas.


Preparando o ambiente


Este exercĂ­cio sĂł serĂĄ possĂ­vel ser feito em um dia que vocĂȘ tenha tempo e paz, para que pense de forma concentrada e relaxada, em um ambiente confortĂĄvel e seguro.


VĂĄ para um canto silencioso, onde vocĂȘ possa se isolar por 60 minutos ou mais, sem interrupção ou distração. Coloque fones de ouvido e deixe rolar um som leve instrumental. Por exemplo, esta playlist aqui.


Se puder sentar de frente para um espelho serĂĄ melhor ainda. Olhe-se! Tente fazer o exercĂ­cio mirando-se no espelho. Isso amplificarĂĄ a percepção de uma conversa com vocĂȘ mesmo. Eu faço isso porque tenho um espelhĂŁo na minha sala. Olhar nos meus olhos, profundamente, Ă© um exercĂ­cio e tanto.


As perguntas essenciais


Pegue 3 folhas de papel.


No topo da primeira folha, escreva a mĂŁo (nĂŁo vale digitar em smartphone e computador) a seguinte pergunta:


1- Qual seria um futuro incrĂ­vel para mim?


Na segunda folha, escreva no topo a seguinte pergunta:


2- O que eu gostaria de mudar na minha vida atual para tornå-la mais prazerosa, me gerando mais senso de realização e satisfação pessoal e profissional?


Responda as duas perguntas acima considerando as observaçÔes a seguir.


Escreva tudo que vem a sua mente. NĂŁo pense muito e nĂŁo se preocupe com a qualidade do que vocĂȘ vai escrever. Esqueça o cuidado com a gramĂĄtica. Esse Ă© um exercĂ­cio sĂł seu, ninguĂ©m vai ver. Apenas descarregue os seus pensamentos.


Se vocĂȘ nĂŁo sabe muito bem as respostas, o que Ă© bastante provĂĄvel, escreva sobre a sua dificuldade em encontrar respostas. Conte o que estĂĄ sentindo, deixe fluir.


Se vocĂȘ nĂŁo consegue imaginar um futuro ou nĂŁo sabe o que mudar na sua vida atual, tente pensar o motivo disso.

  • O que estĂĄ por trĂĄs?

  • O que estĂĄ acontecendo?

  • Quais sĂŁo os sentimentos que isso gera em vocĂȘ?


PorĂ©m, se vocĂȘ imagina vĂĄrias possibilidades de futuro, escreva sobre isso. Tente ser positivo. Explore todas as possibilidades. Pode misturar desejos com sonhos.


Esvazie sua cabeça. Ponha tudo no papel. NĂŁo seja simplista, escreva bastante, deixe o pensamento fluir, imaginando que vocĂȘ estĂĄ conversando com um ser imaginĂĄrio na sua frente. Se conseguir, imagine conversando consigo mesmo. Se indague, se questione, e continue escrevendo o que brota em sua mente. Se precisar, pegue mais folhas em branco.


Quando vocĂȘ terminar de escrever as respostas para as duas questĂ”es acima, entĂŁo estarĂĄ no ponto para ir para a Ășltima pergunta, que Ă© a pergunta 3.


Pegue a terceira folha em branco. Escreva no topo o seguinte conjunto de perguntas:


3- O que me impede de buscar caminhos, agir e mudar as coisas na direção das respostas que escrevi para as perguntas 1 e 2?

  • Quais os sentimentos por trĂĄs disso tudo?

  • O que posso remover de minha vida para abrir espaço para novas possibilidades?

  • Quais sĂŁo as verdadeiras limitaçÔes dentro de mim e ao meu redor?

  • Quais sĂŁo as minhas necessidades para dar o primeiro passo?

  • Quais as solicitaçÔes e pedidos que devo fazer para mim mesmo na busca das mudanças necessĂĄrias de minha vida?


SĂŁo vĂĄrias perguntas, mas todas com um sĂł intuito: despertar em vocĂȘ uma vontade real de mudar, com mais consciĂȘncia e direção.


Ou, pensando de outra forma: com o objetivo de ajudar vocĂȘ mesmo a entender as peças do quebra-cabeça que existem dentro de sua mente e sinalizar possĂ­veis caminhos para solucionar este quebra-cabeça.


Ou, ainda, talvez, dar um pouco de esperança de que mudanças são possíveis e dependem de sua iniciativa para tentar e começar.


Ao fazer este exercĂ­cio, vocĂȘ estarĂĄ se inciando na “desafiadora arte de escrever sobre vocĂȘ mesmo”.


Detalhe da cabeça de David - famosa escultura de Michelangelo
David de Michelangelo - Foto de Jorg Bitter Unna

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