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O futuro dos jornais

No dia 23/09/2008, a GloboNews veiculou um programa especial cujo tema era “A revolução das novas mídias”. O sub-tema era “Qual é o futuro dos

jornais”. Como profissional de comunicação, é claro que eu me interessei muito e sentei prá ver. Fiquei ainda mais motivado ao saber que o mediador seria Tonico Ferreira, jornalista experiente e muito bem preparado. Veja o link aqui.

Os debatedores do programa eram: Eleonora de Lucena – Editora Executiva da Folha de São Paulo; Ricardo Gandour – Diretor de Conteúdo do Grupo Estado; Rodolfo Fernandes – Diretor de Redação do O Globo.

Ao saber dos nomes dos participantes eu fiquei feliz e triste ao mesmo tempo.

Feliz, pois teríamos na mesa os executivos líderes dos principais jornais do país. E triste quase pelo mesmo motivo, pois a discussão ficaria limitada aos principais jornais do país, ou seja, seria uma discussão com pessoas do mesmo perfil, dilemas e paradigmas. Um debate como esse merecia a participação de pessoas com posições contraditórias e perfis diferentes. Seria legal ver na mesa um executivo de um jornal impresso, um jornal online independente e talvez um blogueiro, que poderia apimentar a discussão e colocar pontos de vista bem ousados na conversa.

Enfim, me pareceu que a GloboNews perdeu uma boa oportunidade de ter uma discussão de verdade sobre o tema. E minha percepção se confirmou logo no primeiro terço do programa. Não houve propriamente um debate. Os participantes se alinharam no posicionamento e praticamente um alavancava e ratificava o que o outro havia falado anteriormente. Sarcasticamente falando, as vezes parecia uma conversa de comadres. Enfim, o que menos havia era debate.

Independentemente disso, tenho que dizer que são executivos muito bem preparados e que a conversa teve alguns bons momentos. Para quem não pode ver o programa inteiro, vale ver a primeira metade. A principal pergunta que Tonico tentou cobrir durante todo o tempo foi: “Como os jornais impressos estão respondendo ao desafio das novas mídias e da Internet?”

Separei algumas frases/conceitos que foram ditas no programa. Algumas eu concordo firmemente, mas existem outras que eu tenho sérias dúvidas.

Eleonora soltou a frase: “Os jornais são quase um divã para o país”. A frase delata o perfil dos jornais brasileiros, especialmente a Folha, da qual ela é Editora Executiva, que ainda exercem o papel de defensores dos fracos e oprimidos, principais defensores do povo e do cidadão, que são achacados e explorados pelo governo e pelas empresas imperialistas. Em resumo, a mídia no Brasil ainda puxa para si o papel de representante do cidadão, com clara tendência de duvidar e questionar as lideranças, quer sejam públicas ou privadas. Ela também falou algo incontestável. Os jovens de hoje lêem muito mais que antigamente. A internet certamente vem fazendo os jovens lerem mais. Talvez isso explique o crescimento de 12% nas vendas de jornais impressos no Brasil em plena era da Internet. Ou seja, nunca se vendeu tanto jornal impresso no país como atualmente.

Ricardo Gandour foi o mais pragmático dos três. Gostei sempre de suas intervenções pois trouxeram riqueza à conversa. Ele comentou que se analisarmos a história da mídia, veremos que o aparecimento de uma nova mídia nunca anulou as mídias vigentes. As mídias antigas acabaram sempre se adaptando e a nova mídia passou a coexistir com as mídias antigas. Foi assim com o rádio e a TV. Na época do aparecimento da TV, surgiram previsões contundentes que diziam que o rádio estava com os dias contados. Hoje vemos o rádio mais forte do que nunca. O ponto do Gandour é que a mídia online vai coexistir com os jornais, ou seja, os jornais não vão desaparecer. Eles vão se adaptar. Não concordei com uma afirmação de Gandour. Ele disse: “– A sociedade precisa de edição. A sociedade precisa de um conjunto de profissionais reunidos para filtrar, hierarquizar e oferecer um universo de informações editado e organizado. Quanto mais saturado fica o ambiente, mas necessária é a edição”. Eu pergunto: será mesmo? Será que precisamos de alguém filtrando e editando as informações prá gente? Será que ter alguém filtrando as informações não inibe a discussão e a apresentação de posições contraditórias? A tal linha editorial dos jornais não é um filtro? É claro que sim. E cada um de nós que trabalha com comunicação é capaz de comentar um pouco sobre as diferenças de perfil editorial da Folha, Estado e O Globo. Eu não sei dizer se isso é positivo ou negativo, mas o fato é que nós delegamos para o jornal, aquele que assinamos e recebemos em casa, o poder de filtrar e editar as informações para nós. Ou seja, praticamente contratamos alguém para selecionar e analisar as notícias prá gente.

Gandour fez um ponto que também não concordei muito. Ele disse que a nova mídia pode deixar para trás a ética do jornalismo. E aí caímos de novo no ponto anterior. De acordo com ele, sem ninguém para filtrar e organizar a informação, a tal ética corre perigo. Tenho sérias dúvidas em relação a isso.

Rodolfo Fernandes não trouxe muitas novidades em suas intervenções. Disse uma verdade absoluta: nunca se consumiu tanta notícia quanto agora. Embora a venda de jornais impressos no mundo venha caindo, aqui no Brasil ela está crescendo. Quando ele fala o mundo, na verdade ele se refere aos Estados Unidos, onde a queda é expressiva.

Na conversa dos três ficou evidente que os jornais ainda têm clara dificuldade de lidar com a Internet. Basicamente a Internet é usada pelo jornais para antecipar seus furos. Gandour falou algo interessante. Tradicionalmente, a redação de um jornal se preparava para tomar uma decisão de publicação por dia, ou seja, o conhecido fechamento. Um grande esforço era concentrado no fechamento para decidir a edição do dia seguinte. Com a introdução da mídia online, a redação toma a decisão de publicação durante todo o ciclo de 24 hs, ou seja, na Internet não existe o tal fechamento. Isso já mudou a rotina das redações dos jornais. Outra evidência na conversa foi o desafio que eles vêm passando para contratar novos profissionais de comunicação. Ou seja, eles precisam de profissionais que saibam trabalhar com essa nova linguagem multimídia e que dominem as novas tecnologias. Eles têm o desafio de formar esses novos profissionais que ainda não são abundantes no mercado. Falaram que os profissionais mais velhos tem dificuldade de lidar com novos equipamentos.

Por fim, comentaram que cada vez mais os leitores vêm ajudando no conteúdo dos veículos. Falaram muito em colaboração. Gandour citou que fotos de leitores já emplacaram na manchete principal da capa do Estadão em quatro ocasiões. Eleonora disse que muitas pautas para o jornal vêm dos leitores, através da Internet, e que a repercussão das matérias na internet tem sido um elemento valioso na direção da Folha.

Enfim, esse foi o resumão da conversa. Mas no final de tudo sobrou a afirmação do Gandour que ficou martelando na minha cabeça: “Independentemente do meio, se será papel ou um painel eletrônico, o cidadão ainda vai querer consumir uma informação editada e arrumada”. Será mesmo?

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