Barack Obama vive uma espécie de lua-de-mel com a imprensa desde que surgiu como potencial presidente dos EUA. Ele tem sido venerado e beneficiado com generosos espaços e adjetivos pela mídia americana. Parte disso foi conquista dele próprio, especialmente pela transparência com que fala e pelo número de coletivas e entrevistas que tem dado nos últimos meses. Além disso, ele ainda aparece de modo inovador na política ao usar e abusar das mídias sociais. Isso tudo ajudou bastante na aproximação e simpatia da mídia com o novo presidente americano.
No entanto, na última quinta-feira, aconteceu um fato que podemos identificar como o primeiro problema de Obama com a imprensa.
Na noite de quinta-feira, o atual presidente americano resolveu fazer uma visita surpresa à sala de imprensa. Ao chegar lá, obviamente repleto de jornalistas, foi abordado por um deles com uma pergunta incômoda.
O jornalista gostaria de saber como ele reconciliaria o rígido limite imposto aos lobistas em seu governo com o fato de que a pessoa que nomeou como Vice-Secretário de Defesa, William J, Lynn, ter sido lobista em uma das empresas fornecedoras de armas para o governo americano. A pergunta era chata e constrangedora, mas totalmente esperada em função do que tem sido publicado nos jornais americanos.
Obama respondeu: — Estão vendo? Vim aqui fazer uma visita e vejam o que acontece. Não posso visitar vocês e cumprimentá-los se toda vez que vier aqui eu for interpelado desse jeito.
O repórter, como todo bom repórter deve ser, não ficou satisfeito com a resposta e insistiu na pergunta. Obama reagiu mal. Ele colocou uma de suas mãos no ombro do jornalista e, olhando fixamente em seus olhos, respondeu num tom irritado e impaciente: — Está bem, venha cá: vamos ter uma entrevista coletiva na qual você estará livre para fazer perguntas. Nesse exato momento eu queria apenas dizer “alô” e me apresentar a vocês. É só isso que estou tentando fazer.
Aqui ficam duas lições.
O jornalista é jornalista 24 horas por dia, Ainda mais quando falamos de presidentes e executivos, sejam de governo ou outras entidades não governamentais (como empresas, associações de classe, etc). Não devemos cair na armadilha de pensar que o jornalista vai deixar de ser jornalista ao estar em casa ou no shopping. Ele é jornalista o tempo todo, ligado, sedento por um fato novo ou uma declaração exclusiva, anda mais dentro de uma sala de imprensa, em plena atividade de trabalho, como ocorreu com Obama.
A segunda lição é mais simples ainda: não fale com um jornalista se você não quer iniciar um diálogo. Viu um jornalista, deu “bom dia”, então prepare-se para as perguntas. Não existe jornalista que fique só no “bom dia” quando vê uma fonte tão especial como o presidente dos EUA.
Esses conceitos básicos, apresentados na primeira hora de qualquer “media training”, têm que ser observados 24 horas por dia pelos executivos e, também… pelo presidente dos EUA. Aliás, principalmente pelos governantes, que são personagens públicos e de interesse de cada cidadão do planeta.
Enfim, quinta à noite, Obama teve um “media training” prático. Vamos ver agora quantas vezes mais ele vai aparecer na sala de imprensa para tomar um cafezinho.
Veja abaixo o flagrante da visita de Obama à sala de imprensa. Foi filmado sim!!!