top of page

O que ficará depois de tudo


O ser humano é consumido pelo tempo e perde a chance de colocar foco no seu desenvolvimento pessoal e profissional

Dias atrás me peguei pensando na vida, de onde vim e para onde vou. Pensei na pergunta inevitável: o que é uma vida que vale a pena?


Na sequência de pensamentos e perguntas aleatórias, surgiu uma pergunta clichê: se eu tivesse apenas mais 1 dia de vida, o que eu faria nesse dia?


A pergunta se desdobra em muitas outras.


Tem alguma coisa pendente que eu teria que fazer correndo? Algo não resolvido? Arrependimentos? Alguma conversa difícil que eu evitei ao longo da vida e preciso encarar agora antes de morrer? Falar com alguém importante para pedir desculpas? Ligar para pessoas queridas para falar algo que eu já deveria ter dito e nunca falei?


Isso tudo parece sombrio. Não é fácil pensar nessas coisas pois provocam desconforto, ansiedade e desolação. Acho que a maioria das pessoas foge dessas questões.


Aí expandi o pensamento: se eu vez de 1 dia, eu tivesse mais 1 semana de vida, com boa saúde, o que eu faria?


Opa, aí já melhora um pouco. Com uma semana pela frente, já terei tempo para fazer coisas que seriam impossíveis em um único dia. Dá para fazer uma viagem curta, ver pessoas queridas, passar as senhas do banco para alguém, resolver assuntos pendentes, ter conversas longas com pessoas, escrever cartas (que é uma paixão minha), etc.


Fui além no conceito: e se eu tivesse mais 1 mês de vida? Ou mais 1 ano? Ou mas 1 longa década inteirinha?


Nesse contexto, o exercício muda de fundamento e a pergunta acima parece não fazer mais sentido.


É o momento de modificar a pergunta para uma questão muito mais complexa.


O que eu quero verdadeiramente fazer com a minha vida, sabendo que eu a tenho completamente sobre meu arbítrio e poder de escolha?


Essa é a pergunta fundamental porque ela carrega propósito e sentido.


O ser humano só descobre as suas verdadeiras prioridades quando alcança a maturidade
Pexels

NO LEITO DE MORTE, O QUE FICA É UM GRANDE ARREPENDIMENTO


No meu artigo “Mudar a direção da vida enquanto há tempo” eu comentei sobre Bronnie Ware, enfermeira australiana, autora do livro chamado “Antes de partir”, onde ela compartilha histórias e experiências de pacientes terminais. É muito impactante.


No livro, ela fala sobre os sentimentos que dominam a maioria dos pacientes ao se deparar com o fim da vida. Ela afirma que as pessoas crescem muito internamente neste momento, parece que tudo fica mais claro e óbvio. A própria mortalidade gera uma intensa lucidez interior.


A autora identifica os 5 principais arrependimentos mencionados pelas pessoas:



1- “Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim”.


Esse é o arrependimento mais frequente, segundo a autora.


No livro, ela cita: “Quando as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás com lucidez e franqueza, é fácil verificar que muitos sonhos não foram realizados. A maioria das pessoas não honrou nem metade dos seus sonhos e irão morrer conscientes de que sonhos não foram realizados devido a escolhas que elas fizeram ao longo da vida”.



2- “Gostaria de não ter trabalhado tanto”


O arrependimento ligado ao excesso de trabalho durante a vida é muito frequente, especialmente entre os homens. Ela diz: “Isso veio de todos os pacientes do sexo masculino que cuidei. Sentiam falta da juventude dos filhos e do companheirismo da parceira. Todos os homens de quem cuidei lamentaram profundamente ter passado grande parte de suas vidas na rotina de uma existência profissional”.


Ela explica que as mulheres também falavam desse arrependimento, mas como muitas pacientes atendidas pertenceram a gerações mais velhas, de uma época em que o trabalho era feito em sua maioria pelos homens, a queixa foi menos frequente.



3- “Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos”


“Muitas pessoas reprimiram seus sentimentos para manter a paz com os outros. Como resultado, eles se contentaram com uma existência medíocre e nunca se tornaram quem realmente eram capazes de se tornar. Como resultado, muitas desenvolveram doenças relacionadas à amargura e ao ressentimento que carregavam internamente”, conta Bronnie.


Ela reflete ainda sobre o tema e diz que não é possível controlar a reação dos outros. Uma pessoa ao assumir quem realmente ela é, alcançará uma das duas seguintes consequências: levá-la a relacionamentos mais saudáveis ou libertá-la de relacionamentos doentios existentes em sua vida. No fim, a autora afirma: “De qualquer maneira, a pessoa vence”, diz.



4- “Gostaria de ter mantido contato com meus amigos”


A enfermeira conta que muitos pacientes, somente no fim da vida, percebiam a falta que os amigos faziam. Infelizmente, em vários casos, já não dava mais tempo para localizá-los.


“Muitos ficaram tão envolvidos com suas próprias vidas que deixaram amizades de ouro escaparem ao longo dos anos. Houve muitos arrependimentos profundos por não ter dedicado às amizades o tempo e o esforço que elas mereciam. Todo mundo sente falta de seus amigos quando eles estão morrendo”, afirma.


Ela compartilha que, com a aproximação da morte, os “detalhes físicos da vida corrida” que afastaram as amizades perdem total importância. Bronnie conta: “Se possível, as pessoas querem colocar seus assuntos financeiros em ordem. Mas a verdadeira importância para eles não é o dinheiro ou o status que possuem. Eles querem colocar as coisas em ordem mais para o benefício daqueles que amam. (...) No final, tudo se resume a amor e relacionamentos”.



5- “Gostaria de ter me permitido ser mais feliz”


Bronnie afirma que esse arrependimento é surpreendentemente comum. Ela diz, apenas no final da vida, muitos percebem que permaneceram presos a velhos hábitos e padrões e que não se permitiram fazer o que de fato os deixava feliz.


“O medo da mudança fez com que fingissem que estavam satisfeitos, para os outros e para si mesmos. No fundo, eles desejavam rir direito e ter bobagens em suas vidas novamente. Quando você está em seu leito de morte, o que os outros pensam de você está muito longe de sua mente”, escreve a autora no blog.


A compaixão no fim da vida sempre surge forte
Pexels

MINHA HISTÓRIA


Dos cinco “arrependimentos” citados no livro de Bronnie Ware, eu avalio que o mais impactante é o primeiro, visto que, de alguma forma, ele incorpora todos os outros: Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim.


Tenho pensado e agido muito sobre isso.


Nos últimos anos, eu mudei a direção da minha vida. Isso exigiu de mim: coragem, determinação e desapego, somando-se um enorme esforço de auto-observação e autoconhecimento.


Foi preciso me conhecer. Foi preciso um contínuo exercício de olhar para dentro, fazer emergir os meus valores e desejos mais internos. Esse processo está longe de ser conclusivo. Na verdade, é um processo sem fim, é algo que deve ser exercitado ao longo de toda existência.


Não é uma jornada fácil, muito menos agradável. Na verdade, é um processo doloroso porque significa aceitar limites e testá-los, abraçar vulnerabilidades e reconhecer fragilidades e deficiências. É quase dar um abraço em mim mesmo, vivendo uma espécie de autocompaixão, aprendendo a lidar com demandas e expectativas oriundas dos meus anseios, desejos, sonhos e bem-estar.


Penso que, somente dessa forma, conseguirei viver uma vida fiel a mim mesmo e não a vida que outros esperam de mim ou que a sociedade me impõe.


Essa tem sido a minha principal busca nos últimos anos. Admito que, por várias vezes, sofri uma leve escorregada. Entretanto, quando escorrego ou me machuco, eu me levanto, dou uma sacudida e sigo em frente. Pensar dessa maneira provocou, e contínua provocando, uma grande mudança de direção na minha existência.


Curtir, aproveitar e se integrar à natureza
Acampamento no Caminho de Cora Coralina - no interior de Goiás - Foto de Mauro Segura

SALVE-SE PRIMEIRO


Qual é o sentido de minha existência?


Essa pergunta tem me rondado nos últimos tempos e a filosofia tem sido essencial para abrandar as minhas questões existenciais. De fato, foram os estudos de filosofia que me colocaram de frente a essa questão fundamental.


Eu sou fã da Filósofa e Professora Lúcia Helena Galvão. O vídeo intitulado “Salve-se primeiro. É chegada a hora”, publicado no canal “Cortes Arquimilionários”, no Youtube, tem um corte maravilhoso de uma entrevista com a Professora. São 34 minutos que valem um livro de centenas de páginas.


Nessa entrevista a Professora fala sobre vida plena, felicidade verdadeira, vida com significado, realização e saúde emocional. Tudo emoldurado por conceitos de beleza moral e espiritual.


As reflexões apresentadas no vídeo entregam elementos e conceitos que ajudam a elaborar respostas para boa parte das minhas questões existenciais, decisões de vida, desde as mais complexas até as mais singelas do dia a dia.


Na prática, acho que consigo colocar o essencial em 3 conceitos básicos:


  • Tudo envolve escolhas;

  • Tudo o que preciso está ao meu alcance;

  • Eu sou o único decisor da vida que desejo viver e construir, ou seja, eu tenho livre arbítrio das minhas escolhas e no que preciso para desenvolver uma vida plena e feliz, com liberdade e propósito.


Contemplando a vida e refletindo sobre a jornada de reinvenção pessoal e profissional
No alto da Serra Luminosa em MG, Caminho da Fé - foto de Mauro Segura

A CONSTRUÇÃO DA NOSSA CASA


A Professora Lúcia Helena compara desenvolvimento de vida com a construção de uma casa.


Se desejamos construir uma casa, uma das primeiras ações que fazemos é contratar um(a) arquiteto(a), que vai projetar e desenhar a casa por inteiro, com muitos detalhes. Então o projeto vai para um(a) engenheiro(a), que acrescenta um monte de detalhes técnicos e, finalmente, vai para o(a) mestre de obras e equipe para realizar a obra por inteiro.


A equipe de obras tem a planta por inteiro, sabendo qual é o resultado desejado e, então, conduz a obra, executando o projeto, ao longo do tempo planejado, até a sua conclusão e entrega.


Agora imagine outro contexto.


Imagine o(a) mestre de obra tendo que construir a casa, porém sem ter em mãos a planta detalhada e tecnicamente bem planejada. Parece impossível pensar em um resultado satisfatório, não é mesmo?


Assim é a nossa vida. Vivemos um pouco esse drama porque não sabemos responder o que queremos ser no final do processo chamado vida. Vivemos sem clareza.


  • Como viver se não sabemos o que desejamos e buscamos no final de tudo?

  • Que tipo de ser humano eu gostaria de ser no final de minha vida?

  • Que valores eu gostaria de ter?

  • Que vícios e defeitos eu gostaria de ter polido e deixado para trás?

  • O que eu gostaria de ter feito pela humanidade, por mim próprio e pelo outro?

  • Ou seja, qual é o meu propósito como ser humano? Qual é o meu ideal?


Amor, gratidão e compaixão - o trio mais importante na vida
Pexels

PROPÓSITO


Somente a partir da busca de respostas a essas perguntas é que eu posso viver o dia de hoje com um referencial do que desejo ser e de onde desejo chegar.


Com a clareza desse referencial, é possível viver os valores e as virtudes que me levarão na direção que desejo.


Quando tenho um propósito, eu dou um balizamento para minha existência.

Esse propósito não precisa ser específico e rígido, muito menos magnânimo. Na maioria das vezes, quando converso sobre propósito com as pessoas, elas pensam que propósito tem algo relacionado a transformar o mundo ou realizar coisas que parecem grandiosas, quase impossíveis. Isso é um equívoco, até porque pensar assim gera frustração e ansiedade, afinal não somos heróis ou super seres humanos.


A Profa. Lúcia Helena afirma que propósito deve funcionar como um referencial de direção. Algo que sinalize o que deve ser feito no dia de hoje, que me faça ser melhor do que ontem, e que me prepare para ser melhor amanhã. Isso não tem relação a ser um ser humano perfeito ou extraordinário, mas sim projetar o meu propósito em cima de minhas maiores deficiências.


Por exemplo, um propósito que procuro seguir é ser mais generoso, flexível e empático. Eu sinto que nessas três dimensões eu preciso evoluir mais, portanto eu coloco isso como “propósito pessoal” a ser perseguido. Se, no meio do caminho, surgirem outras necessidades mais urgentes, então eu acrescento mais coisas ao meu propósito. Está tudo bem agir assim, não há problemas ou contraindicações, considero isso como um ajuste de rota de vida.


Propósito tem a ver com aquilo que eu sinto que é mais deficiente em mim, algo que preciso melhorar, que é mais carente ou que me impede de pisar no próximo degrau. Propósito tem a ver com autoconhecimento.


Diz a Profa Lúcia Helena: “Sinto que estou crescendo como ser humano, mas também sinto que algo específico me impede de pisar no próximo degrau. É isso que devo colocar como meta, aquilo que está me travando para caminhar. É o que vejo no momento como necessidade e ao longo do caminho pode ser ajustado.


A vida é um longo caminho e está sempre em nossas mãos
Longo caminho - Chapada dos Veadeiros - GO

COMO EU GOSTARIA DE SER LEMBRADO?


Em algum momento eu vou embora desse mundo. Ainda vai demorar muito, eu tenho certeza disso, mas vejo a minha vida como a tal construção de uma casa, citada anteriormente, portanto sou um ser em construção.


Quando eu for embora definitivamente desse mundo, como eu gostaria de ser lembrado? Qual será o meu legado?


Essa não é uma preocupação com os que outros pensam ou sobre o que vão falar de mim no futuro. Essa é uma questão existencial minha. Sou eu comigo mesmo. É um compromisso interior, algo que diz respeito ao sentido da vida. É olhar para dentro e refletir se eu colaborei positivamente para a vida das pessoas que estiveram comigo em minha jornada, e se eu ajudei o mundo a ser um pouco melhor.


Eu sei que tudo isso parece filosófico demais, até pouco prático, especialmente em uma sociedade acelerada, onde o conceito de sucesso alcança nuances mais pragmáticas e materiais. Mas a verdade, nua e crua, é que, quando a minha hora chegar, segundo Bronnie Ware, o que a sociedade e os outros pensam sobre mim estará muito longe de minha mente.


Na “hora da verdade”, será somente eu comigo mesmo, pronto para partir e com a mala nas mãos. E, lá no fundo dos meus pensamentos, estarei eu pensando: “Puxa, essa vida valeu a pena, fiz o melhor que pude, saio melhor do que cheguei e fiz a diferença para aqueles que me amam”.


A sombra de nós mesmos nos acompanha durante toda a vida
Caminho da Fé, na região de Estiva/MG - Foto de Mauro Segura

Assine o blog

Obrigado(a)!

bottom of page