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Lições de Vida: O Legado de Amizade, Gratidão e Ressignificação que Fred Me Deixou

  • Foto do escritor: Mauro Segura
    Mauro Segura
  • 22 de mar.
  • 7 min de leitura

Pessoa andando em uma escada em direção ao céu, cercada de nuvens, com um clarão a frente
O caminhar para a eternidade (fonte da imagem: Pexels)

Esta história é real e o desfecho ocorreu recentemente.



Uma Amizade que Deixou Lições para a Vida


Conheci Fred no trabalho, muito tempo atrás. O que me capturou nele foi sua leveza e bom humor diante da vida. Hoje, compartilho as lições de vida que ele me ensinou, reflexões profundas sobre gratidão, resiliência e o poder do presente.


No início éramos apenas colegas de trabalho, mas depois nos tornamos amigos. Tivemos épocas mais próximas e outras mais distantes, mas sempre nos sentimos conectados, confidentes e alinhados sobre vida e trabalho.


O que me capturou no Fred foi sua leveza e seu bom-humor constante diante de tudo que surgia em seu dia a dia. Parecia estar sempre de bem com a vida e que tudo tinha um jeito de resolver, por mais difícil que fosse.



Tempos Inesquecíveis em New York


Desfrutamos um período de convivência próxima quando moramos nos arredores de New York por conta de trabalho na mesma empresa. Isso ocorreu há 30 anos. Naquela época eu já tinha dois filhos pequenos. Fred ainda era um recém-casado, sem filhos, sentia-se livre, querendo viajar e aproveitar a tal liberdade em pleno Estados Unidos. E assim ele fez, aproveitando imensamente a oportunidade surgida naquele ano.


Quando ele estava em NY, convivíamos regularmente. Ele vinha com muita constância em minha casa, especialmente nos finais de semana. Viajamos juntos algumas vezes, de carro, com outros amigos(as) e famílias, em caravana de carros, pela costa leste dos EUA.



Uma Carreira Marcada por Leveza e Sucesso


Fred construiu uma brilhante carreira profissional. Chegou a vice-presidência na empresa, cargo que ocupou durante muitos anos, sempre com ritmo pesado de trabalho, muitas viagens e pressão constante. Entretanto, era sinônimo de um executivo bem-humorado, leve e justo, sorridente, quase uma exceção no meio de um mundo corporativo sério e drenante de jovialidade e bom humor.


Em certo momento, poucos anos atrás, ele decidiu que era hora de parar. Com dois filhos e um feliz casamento de longa data, ele resolveu desacelerar. Era hora de desfrutar o que acumulou ao longo da existência. Era hora de tomar posse de seu tempo e agenda.


Fred saiu da empresa. Ainda fez alguns trabalhos isolados. Conversamos algumas poucas vezes, sempre saudosos de um tempo passado que foi intenso e divertido.



O Diagnóstico e a Força de Fred


Há dois anos, mais ou menos, ele me ligou para contar as novidades. Ele também queria ouvir de mim sobre a minha vida, os meus passos e minhas mudanças recentes, já que ele sabia que eu havia optado por fazer um twist radical de vida. De alguma forma, ele me via como uma referência nesse tema.


Então, marcamos uma video-conf.


Ao longo de um imenso pacote de novidades, jogado no meio de vários assuntos diferentes, Fred me contou que havia procurado um médico por conta de umas dores de cabeça esquisitas. O médico pediu exames e ele estava no meio desse processo. Demonstrou apreensão. Porém, como sempre, estava positivo.


Dias depois surgiu a notícia. Fred recebeu o diagnóstico da existência de um tumor cerebral que precisaria de rápida intervenção cirúrgica e tratamento quimioterápico. O quadro era sério e preocupante.

Sabendo da minha história pessoal de perdas e transformações, já contada e recontada no blog, ele contou a sua história com otimismo, dizendo-se confiante e certo de que iria superar as dificuldades.


Passaram-se quase dois anos desde essa conversa.


Conversas aconteceram nesse período, que não vale a pena contar aqui.


Dias atrás, Fred partiu dessa vida.



Gratidão e Resiliência: O Caminho de Fred


Desde a primeira ligação com a notícia da doença, nós nos falamos várias vezes, por chamadas de vídeo, chamadas de voz e mensagens escritas e gravadas no Whatsapp. Ele sempre leve e otimista. As vezes um pouco grogue devido aos remédios, com fala lenta, palavras trocadas ou faltantes, porém com sorriso desenhado no rosto, tom de voz elevado, agradecido por tudo que tem e ainda recebia da vida.


Um pouco antes de escrever esse artigo, eu estava revendo tudo que ainda tenho registrado com ele no whatsapp.


Fiz uma longa viagem mental. Revi fotos e agradeci por tê-lo como amigo. Lembrei momentos que passamos juntos e, principalmente, pelas lições de vida que ele me ensinou nos últimos anos, demonstrando resignação e gratidão por tudo.


Fiz uma viagem por lembranças que não morrem, que continuam vivas e vibrantes dentro de mim.


Ainda estou impactado.


Pessoa na beira da praia, com os pés na água do mar, e com sol no amanhecer
A vida é efêmera, precisamos aproveita-la bem (fonte da imagem:Pexels)


A Vida é Efêmera: Aprendendo com Fred


“A vida é efêmera e passageira. De repente não estamos mais aqui”

A frase acima é clichê, mas é inevitável quando pessoas queridas partem desse mundo.



Viver o Presente: A Maior Lição


Fica o aprendizado de que a maior preciosidade da vida é o tempo presente, e que cada instante pode ser revestido de propósito e significado.


A partir da descoberta da doença, Fred tornou-se um paciente terminal. A cura se apresentava quase impossível diante do estágio de sua enfermidade. Seu tratamento teve foco na melhora da qualidade de vida, com conforto e bem-estar.


Ele nunca falou comigo em terminalidade ou morte, porém notadamente ele tinha consciência do que vivia. Fred acreditava na vida, era uma pessoa bem-humorada e optou por conduzir assim toda a sua existência.


Para ele, o cinza estava bem mais perto do branco do que do preto. Pelo menos era dessa forma que ele agia comigo e com amigos(as). No entanto, na intimidade do seu lar, com sua esposa e filhos, eu não tenho tanta certeza de como ele agia, mas creio que era da mesma forma: com suavidade, alegria e gratidão.

Nas várias vezes em que falamos, Fred me disse que estava procurando amigos e amigas para conversar sobre a vida, resgatar lembranças e agradecer por tudo.


Em diversos momentos, ele disse que me amava e que eu estava no coração dele. Eu sei que ele falava isso para outras pessoas queridas, mas não era uma declaração fortuita ou impulsiva. Aquela era uma genuína declaração de amor humano, de amizade verdadeira, de conexão emocional e gratidão, que vinha de dentro de sua alma. Ele sempre demonstrou muita vontade de viver e, ao fazer tais declarações, ele perpetuava os seus sentimentos e emoções para quem o rodeava.


Gratidão: A Luz que Fred Deixou em Minha Vida


Intencionalmente, nesse texto, a palavra que mais uso é “gratidão”, porque é realmente isso que Fred me transmitiu durante sua jornada. Ele se mostrava agradecido pelo universo por tudo que havia vivido, recebido e conquistado.


Ele não dava sinais de abatimento, partida ou despedida. Na verdade, mostrava-se resignado, não se autointitulando vítima do destino ou demonstrando qualquer lamento por estar vivendo um momento difícil.


Fred me mostrou que a gratidão é uma das ferramentas mais poderosas para transformar nossa perspectiva diante da vida. Mesmo em momentos difíceis, ele escolheu enxergar o lado bom das coisas, demonstrando que a gratidão não é apenas um sentimento, mas uma prática diária que nos ajuda a encontrar propósito e ressignificação em cada experiência.


Eu adotei esta prática para minha vida. Não limitei "gratidão" à lista de sentimentos, e acrescentei "gratidão" na lista de exercícios diários, que pratico com regularidade e intensidade. Sabe ginástica? É mais ou menos assim.


Quando Fred partiu, eu senti um enorme aperto no coração. Senti também arrependimento, quase uma dor, por não ter estado mais ao lado dele nos últimos anos. A lonjura geográfica não deveria ser desculpa, já que moramos em cidades diferentes com quase 1.000 quilômetros de distância. Ainda sinto esse aperto e me pego pensando nele por algumas vezes.



Arrependimentos no Fim da Vida: O que Podemos Aprender?


Pensei no livro “Antes de partir”, da enfermeira Bronnie Ware. Falei bastante sobre o livro no último post do blog. Não quero ser redundante aqui, mas cabe dizer que o livro conta histórias, experiências e os principais arrependimentos que a autora ouviu de pacientes terminais, à beira da morte.


A autora conta que muitos pacientes declararam arrependimentos profundos por não terem dedicado tempo e esforço que as amizades mereciam, perdendo a chance de dar propósito e profundidade a esses relacionamentos. Falaram que se envolveram tanto com as suas próprias vidas, que amizades significativas se esvaziaram ao longo do tempo. E, no final da vida, todos sentem falta dos amigos.


Pensei no Fred.


Ele passou os últimos tempos resgatando contatos e amizades. Falava com todos, desde conversas profundas e filosóficas, até abobrinhas. Quase sempre as conversas terminavam com declarações de amizade, amor e gratidão.


Quem esperava conversas difíceis com ele, dada a situação, quase sempre se surpreendia por encontrar uma pessoa leve, disponível, acessível, grata e de bem com a vida.


Pessoa caminhando na beira da praia, sob o entardecer
Nosso bem-estar está sob nosso total domínio (fonte: Pexels)

Ressignificação e Propósito: As Lições que Ficam


Fred me ensinou lições.


  • Nosso estado de vida é uma escolha nossa

Aprendi com ele que nosso estado de espírito, bem-estar e satisfação pessoal estão completamente sob nosso domínio mental e espiritual. Podemos nos lamentar e nos vitimizar, ou agradecer pelo que temos e pelo que recebemos do universo. É uma simples escolha nossa.


  • Não se afastar de amigos e amigas

Fred me alertou para não me afastar de amigos e amigas. Eu tenho uma tendência natural em me isolar. Sempre fui um “meio ermitão”. Tenho a consciência de que esse não é um comportamento saudável. Fred me ensinou como construir saudáveis e leves pontes de relacionamento.


Paro por alguns minutos. O olhar e a voz de Fred surgem fortes dentro de minha mente. Ele é uma inspiração.


  • Viver o presente

Sua história me mostrou a importância de viver o presente, porque é a única coisa que realmente está sob nosso domínio e alcance. O presente é o que vivemos de fato.


  • Não temos nada sob controle

Ele me ensinou que não temos nada sob nosso controle. De um dia para outro, tudo pode mudar. Devemos viver com otimismo e leveza, aceitarmos o inevitável e atuarmos para mudar apenas o que pode ser mudado.


  • A vida é mental

Aprendi com Fred que tudo que vivo está dentro da minha mente. Eu sou o único responsável por montar esse mapa mental. Sou eu que decido e atuo mentalmente sobre fatos e acontecimentos. Tudo que eu vejo e interpreto da vida está dentro da minha cabeça. Eu escolho o que me alimenta e o que me valoriza.


Portanto, se a vida é mental, a vida depende apenas de nós, de nossas escolhas e decisões, não importando o contexto.



A felicidade e a paz interior são escolhas nossas.

Eu posso perder tudo, eu posso estar diante de um contexto duríssimo de vida ao meu redor, o céu da minha existência pode estar cinza escuro, mas a forma como eu reajo aos fatos e aos percalços do meu dia é uma decisão exclusivamente minha. É minha escolha!


A vida é o que está em minha mente.


Obrigado meu Amigo.

Obrigado por tantas lições.

Obrigado por tanta luz.

Obrigado por me mostrar o poder da ressignificação e a importância de viver com propósito.

Que a viagem seja boa.

Nos vemos no futuro.

Eu estou certo disso.


Duas velas acesas
Fred era um ser humano iluminado

3 Comments

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Júlio
Mar 31
Rated 5 out of 5 stars.

Precisamos de mais Freds em nossas vidas

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Guest
Mar 28
Rated 5 out of 5 stars.

O seu amigo Fred soube viver reconhecendo que o mais importante para nossas vidas é o estado de espírito, gratidão em todas as situações, estava preparado para tudo e com isso foi uma pessoa leve como você o descreve, são esses pequenos testemunhos de vidas nossos aprendizados, gratidão a você por dividir seus sentimentos com todos nós.

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Mauricio Martins Menezes
Mar 22
Rated 5 out of 5 stars.

Como sempre as reflexões que o amigo faz para nós em seus contos são excepcionais. Esse da amizade com Fred nos dá conta de quantas pessoas fantásticas passaram por nossas vidas, os amigos e parentes que já passaram a planos superiores e que com certeza hoje estão a nos orientar e iluminar com suas energias e luzes. Hoje mesmo dia 22/3 meu amigo maior papai Mario Calvão Menezes o Contador Geral da República do Governo Juscelino Kubistchek Faria 106 anos. Fred com certeza foi e será sempre um desses amigos do Mauro Segura que estará colado nele no seu dia a dia lhe emanando boas energias. Esse recado que ele deixou pro Mauro de se ligar nos amigos, de nã…

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