Para quem cultiva a liberdade do uso das redes sociais nas empresas, eu tenho que confessar que fiquei incomodado com o resultado de uma pesquisa recentemente divulgada pela ASSOCHAM Social Development Foundation. Segundo a pesquisa, as “distrações” na rede reduzem em 12,5% a produtividade dos trabalhadores das empresas indianas.
A ASSOCHAM, Associated Chambers of Commerce and Industry of India, fez uma pesquisa com aproximadamente 4 mil funcionários de empresas indianas, com idades variando de 21 a 60 anos, em várias cidades, entre elas Delhi, Bangalore e Mumbai. A pesquisa foi realizada de setembro a novembro de 2009, ou seja, é bem atual.
O resultado da pesquisa aponta que cada funcionário entrevistado gasta 1 hora por dia navegando por diversas redes sociais, tais como Orkut, Facebook e Linkedin. Este tempo é usado para conversar, jogar ou fazer qualquer outra atividade com objetivo de satisfação pessoal. Portanto, o dia efetivo de trabalho é reduzido de 8 para 7 horas.
A pesquisa informa que 77% dos trabalhadores que estão no Orkut surfam nesta rede social durante o expediente, enquanto 83% dos pesquisados não vêem nada de errado surfar durante o expediente.
Vale a pena ler o press-release que sumariza a pesquisa para ver mais números e detalhes interessantes, tais como as razões que motivam os funcionários a procurarem as redes sociais.
Em relação às empresas, a pesquisa diz que a maioria delas não monitora os sites de redes sociais da mesma forma que fazem com o email, o que aumenta a chance de violação das políticas de comunicação corporativa.
Das empresas pesquisadas, 19% delas permitem o uso de redes sociais apenas para fins de trabalho, enquanto 16% permitem o uso pessoal limitado (isso não ficou claro pra mim – o que é uso pessoal limitado?). Apenas 40% dos trabalhadores entrevistados disseram que suas empresas permitem o acesso livre às redes sociais durante o horário de trabalho.
Não precisa de nenhuma pesquisa para afirmarmos que o uso de redes sociais durante o expediente pode distrair e desviar os funcionários de suas prioridades. Mas também não precisa ser nenhum gênio para concluir que se existem funcionários distraídos demais é porque as suas respectivas cargas de trabalho estão suaves, que o sistema de gestão das empresas não está funcionando adequadamente, que os funcionários estão desmotivados com suas atividades de trabalho ou que os gerentes não conhecem ou não têm consciência do que os seus subordinados estão fazendo. Basta uma destas condições, ou uma combinação delas, para que as redes sociais no local de trabalho se tornem em algo mais interessante do que o próprio trabalho. O uso que os empregados darão às redes sociais no trabalho será diretamente proporcional ao engajamento e atitude já existente dentro da empresa.
A questão do impacto das redes sociais na produtividade do funcionário é sempre tema de discussões. Uma pesquisa feita pela Universidade de Melbourne da Austrália cita que o acesso livre à internet no trabalho gera produtividade, enquanto que outras pesquisas, como a da Nucleus Research dos EUA, diz que o efeito é perverso e que a queda de produtividade chega a 1,5% nos empregados que acessam o Facebook no ambiente de trabalho.
Independentemente das pesquisas, a percepção dos executivos é muito negativa. Um whitepaper chamado “Social Media: Embracing the Opportunities, Averting the Risks”, produzido pela Russel Herder e pelo Ethos Business Law, afirma que 8 em cada 10 executivos estão preocupados com os riscos de segurança e de danos à reputação da empresa que a mídia social pode causar. Apenas 1/3 dos entrevistados dizem ter implementado políticas de mídia social.
Enfim, a minha avaliação é que o acesso livre à internet e o uso de redes sociais nas empresas são boas práticas e, em breve, serão inevitáveis. Em algumas empresas, o uso das redes sociais já é uma necessidade inerente às áreas fins de negócio. Já em outras, dependendo do segmento e das características do trabalho, o acesso às redes sociais pelos empregados pode até gerar mais produtividade. Em alguns momentos do dia, entrar numa rede social e postar um recado poderá causar no funcionário o mesmo efeito de uma pausa, um descanso para a mente. Essa pausa gera um “refresco” mental, permitindo que a pessoa volte ao trabalho original com mais concentração e maior produtividade. Funciona quase como uma caminhada nos corredores da empresa ou uma paradinha para tomar um café ou água.
Enfim, liberdade para as redes sociais… com moderação.